Lu Arraes 4 Crédito: Lana Lobianco/Divulgação

“(A pandemia) Impulsionou os trabalhos autorais a virem pra primeiro plano”, decreta Luisa Arraes

Publicado em Entrevista

Depois da série Amor e sorte, atriz Luisa Arraes aposta em outro trabalho na quarentena, a peça-filme Nunca estive aqui antes

A pandemia de covid-19 teve um impacto em diversas áreas. Entre elas, a dramaturgia e o audiovisual. Com isso, os produtores, atores e diretores buscaram outros meios de se manter trabalhando. Foi o que fez a atriz Luisa Arraes. Depois de estrear ao lado do marido Caio Blat na série Amor e sorte, desde 12 de dezembro, ela se apresenta com uma peça-filme.

Nunca estive aqui antes é um texto autoral da artista, com direção de Nelson Baskerville. A produção aborda a solidão. A ideia nasceu antes mesmo da pandemia quando a artista morou sozinha pela primeira vez. Mas, na quarentena, tomou corpo. O espetáculo segue em cartaz de forma virtual até 21 de dezembro. Os ingressos estão à venda pelo site Sympla.

Ao Próximo Capítulo, Luisa Arraes falou sobre o espetáculo, os desafios e também os próximos projetos, como a finalização do filme Grande Sertão: Veredas, previsto para estrear em 2021.

Entrevista // Luisa Arraes

Você está em cartaz desde a semana passada com a peça on-line Nunca Estive Aqui Antes. Como tem sido a experiência de fazer teatro remotamente?
Estamos chamando de filme ao vivo (risos). Mas é claro que também tem a estrutura dramatúrgica de uma peça. Mas a provocação é essa mesmo. É filmado e é ao vivo. Cada dia é um dia. Mesclamos essas linguagens porque tem umas partes pré-filmadas junto. Tem sido uma experiência inesquecível.

A peça fala sobre solidão, tema que tem tido ainda mais impacto na pandemia. A ideia do espetáculo surgiu daí? O texto é seu? Como se dá a direção do Nelson Baskerville?
Sim, a solidão tem sido um grande tema nesses tempos, mas a ideia surgiu, na verdade, quando saí de casa pela primeira vez há já alguns anos e senti de verdade como seria segurar sozinha dali por diante. A ideia foi crescendo e, com a pandemia, tomou corpo. O texto é meu, já tinha algumas coisas escritas, mas junto com o Nelson, nesse semestre, fomos montando a estrutura do espetáculo/filme. Uma noite que essa Luisa precisa passar, nessa casa onde nasceu e agora volta adulta, enquanto sua companheira de casa – a outra Luiza com z – não volta. Enquanto tenta sobreviver a essa noite, as memórias vividas e não vividas naquele lugar aparecem. Brinco que é uma espécie de autoficção do apartamento. Nelson dirigiu sem nunca ter estado aqui! (risos) Tudo por internet. Mas talvez ele hoje conheça mais do que muitos amigos que frequentam. Aqui temos a Marina Viana também que é minha parceira de tantos trabalhos e acabou sendo assistente do Nelson, fazendo supervisão teórica, luz, tudo.

Antes da peça, você já tinha tido a experiência da gravação de Amor e sorte de casa, mas ao lado do Caio Blat. Como é agora estar sozinha?
Certamente a experiência de Amor e sorte me impulsionou mais ainda, porque tivemos uma total independência nas filmagens, amparados por profissionais incríveis. Foi uma aula. Mas a pandemia, os trabalhos paralisados e a invenção de trabalhar de outro jeito com a série, foi fundamental para dar coragem. Aqui não estou sozinha, né? A ideia é que pareça que estou! (risos) Mas estou com uma equipe sensacional, a distância, e junto comigo estão Marina e Bruno Siniscalchi que faz a câmera. Gosto sempre do coletivo.

Crédito: Lana Lobianco/Divulgação

Como tem sido esse período de pandemia para você? O quanto ele impactou também no seu trabalho?
Muito triste a gente acompanhar como o Brasil está lidando com esse momento, uma tragédia. Uma sensação de impotência. O descrédito na ciência, na saúde, em tudo. Mas a pandemia acabou impulsionando isso, com tudo de filmagem paralisado, impulsionou os trabalhos autorais a virem pra primeiro plano. Talvez eu demorasse mais alguns anos para ter coragem de escrever, filmar um texto meu, aqui em casa. Esse ano o mundo resolveu sacudir as nossas ordens de prioridade.

Acredita que esse período mudará a sua forma de ver a arte?
Certamente. Já mudou. Radicalmente! A experiência que tive, tanto na série, como agora com o filme ao vivo/espetáculo, me deu um reencontro precioso com o artesanal. Minha casa virou set de filmagem e agora parece um galpão de teatro, onde a equipe lava a louça, come junto e filma. Não quero perder esse espírito jamais. Sem fazer uma apologia da escassez de verba, longe de mim. Mas esse amor e coletividade com a equipe, que temos muito no teatro, temos sempre que levar para o audiovisual. Agora reassumo esse compromisso para a vida.

Estamos na reta final do ano, você já tem pensando em projetos para 2021?
Enquanto esperamos essa vacina para que nossos trabalhos aglomerativos possam, de fato, voltar, ando escrevendo roteiros, histórias, preparando para a volta. No primeiro semestre iremos filmar o filme do grande sertão (Grande Sertão: Veredas, previsto para 2021). Quando começou a pandemia tínhamos começado os ensaios, e tivemos que parar. A esperança, para a ansiedade da equipe, é voltar logo no início do ano que vem.