Nascido no Gama, ator cresce em seu segundo trabalho na TV, em Todas as flores. O ator conta que se identifica muito com esse personagem
Quem assiste a Todas as flores — novela do Globoplay cuja segunda temporada está prevista para abril — já pode dizer que conhece um pouco da pessoa Jhona Burjack. Nascido no Gama, o ator vive Javé na trama de João Emanuel Carneiro e emplaca o segundo sucesso, depois da estreia como Lúcio em Éramos seis (2019).
Isso porque o ator afirma que se dedicou muito ao personagem. “O Javé é um personagem para quem tenho emprestado muito da minha calma. Eu sou muito Javé. Acho que 70% de mim é Javé”, atesta.
Antes de ser ator, Jhona era modelo internacional. Além de poder se revisitar nesse início de carreira, por conta do concurso de beleza de que Javé participa, Jhona conta uma particularidade que une os dois. “Eu também estou um pouco assim nesse lugar de não me achar bonito, de não achar que eu sou essa bola toda que pintam”, confessa o ator, que acha “engraçado” ser chamado de galã e espera oportunidades de desconstrução desse rótulo. “Eu quero muito fazer personagens que me tirem desse lugar de galã, personagens cômicos, vilões, explorar esse meu lado mais malvado”, avisa.
No caso de Javé, o rapaz vai surgir na segunda temporada mais decidido e expansivo. A mudança será despertada pela paixão por Mauritânia (Thalita Carauta). “Ele, super tímido, nunca imaginou que poderia ser modelo e vai descobrir um novo Javé, vai descobrir que é bonito, que é bacana. Ele também vai descobrir um novo amor, um amor um tanto estranho, mas verdadeiro. O Javé vai mudando de vida, tomando outra cor, outro estilo. Ele sempre foi um menino muito tímido, reservado, do lar. Vai começar agora a ser um menino mais dono de si, com uma autoestima lá em cima”, adianta.
O relacionamento com Mauritânia ainda vai abalar a relação conturbada de Javé com a prima Brenda (Heloísa Homein), mãe de Neyzinho, menino de quem Javé cuida de vez em quando por suspeitar que pode ser filho dele.
Entre uma cena e outra de Todas as flores, Jhona não deixou o DF de lado. Quando respondeu ao Correio, inclusive, ele visitava a mãe, que mora aqui, assim como o pai, os irmãos e muitos amigos. “Minha relação com Brasília é de muito amor. Eu amo o cerrado. Sou viciado na natureza, nas cachoeiras. O cerrado é um lugar que me equilibra”, afirma o ator, que adora ser reconhecido pelas ruas da capital federal.
Entrevista // Jhona Burjack
O Javé de Todas as flores é seu segundo papel na TV. Como a experiência em Éramos seis te ajuda agora?
Éramos seis foi um projeto que me marcou muito, uma trajetória muito corajosa da minha parte de ter enfrentado esse desafio. Foi uma faculdade, onde aprendi tudo, meu primeiro contato com atuação. Eu tinha feito algumas atuações em moda, mas nada tão grandioso como uma novela na Globo. No começo fiquei até um pouco arrependido de ter aceitado um desafio tão grande, mas eu tive discernimento, maturidade e a sorte de ter profissionais excelentes ao meu lado. Eu aprendo muito observando, no convívio dentro e fora da tela, com o elenco, com os câmeras. Cada trabalho você vai passando de ano numa faculdade que é eterna na vida do ator. Agora estou na segunda série de um ator que possa vir a ser referência para uma outra geração assim como colegas do elenco são referências para mim, como Fábio Assunção, Cássio Gabus Mendes, Regina Casé, Mariana Nunes, Caio Castro e outros.
O Javé parece que vai crescer na segunda temporada, com a proximidade de Mauritânia (Thalita Carauta). O que pode adiantar sobre o destino do personagem?
A Mauritânia é considerada tia do Javé, mas não é tia de sangue. Ela vai lembrar dele e ver que ele tem carisma, é bonito e poderia entrar no concurso. Ele, super tímido, nunca imaginou que poderia ser modelo vai descobrir um novo Javé, vai descobrir que é bonito, que é bacana. Ele também vai descobrir um novo amor, um amor um tanto estranho, mas verdadeiro. O Javé vai mudando de vida, tomando outra cor, outro estilo. Ele sempre foi um menino muito tímido, reservado, do lar. Vai começar agora ser um menino mais dono de si, com uma autoestima lá em cima. Vai ser bonita a mudança desse personagem. Está me dando gosto de fazer o Javé porque ele se parece muito comigo.
O personagem foi abandonado pela mãe quando criança e acaba transferindo para o filho de Brenda (Heloisa Homein) esse carinho paterno. Essa trama será mais explorada com o desenvolver da trama?
O Javé toma como responsabilidade quase que paternal cuidar do Ney porque ele sabe o quanto foi ruim crescer sem a presença da mãe. Embora tenha sido tratado como filho pela Chininha (Micheli Machado), o Javé não quer que essa criança sofra do mesmo trauma. E ele tem relacionamento com a Brenda e se sente quase que pai do menino porque ele tem a desconfiança que pode ser o pai do menino. Então, ele ajuda na criação, cuida do bebê quando ela sai. Esse triângulo Brenda, Mauritânia, Javé e a questão do Neyzinho vão se desenvolver mais na segunda temporada.
Javé é um rapaz muito contido, pouco explosivo. Você também é assim? É mais fácil interpretar tipos mais expansivos, não?
O Javé é um personagem para quem tenho emprestado muito da minha calma. Eu sou muito Javé. Acho que 70% de mim é Javé. Apesar de ser um menino calmo, ele dá umas cortadas na Brenda de vez em quando e vai começar a mostrar o lado mais áspero quando o concurso vai adiantando. O personagem mais expansivo é um desafio porque acho que acertar no exagero deve ser difícil também. Eu quero experimentar isso também: trabalhar na sutileza. Os personagens todos têm uma montanha russa, um momento da novela que ele fica mais agressivo, muda de cor, fica mais calmo. A gente é assim na vida. É bom a gente trabalhar essa alternância, não ficar na mesma nota. A TV busca essa sutileza porque é muito close, fechado. O teatro é mais expansivo.
Sente alguma diferença entre Éramos seis e Todas as flores pelo fato de uma ter sido exibida na televisão e a outra ser uma produção para o streaming?
Sinto uma diferença gigantesca. Pra gente é muito novo, pegar um telefone e poder assistir a uma novela a qualquer momento. Mas é difícil quebrar a tradição de sentar e ver novela em casa. Mas é o futuro você poder ver a novela na academia ou cozinhando. As pessoas nos abordam mais na rua. Como as pessoas, pós-pandemia, estão na correria, pouco em casa, elas estão assistindo mais coisas no remoto. Isso é genial.
Mesmo ainda estando no início da carreira de ator, seu nome é frequentemente associado ao termo “galã”, até por causa do seu passado como modelo. Isso te incomoda de alguma forma?
Ainda não incomoda ainda, mas sempre soou muito engraçado porque não me vejo galã. Eu não sou uma pessoa galanteadora, sou um apaixonado. Eu quero muito fazer personagens que me tirem desse lugar de galã, personagens cômicos, vilões, explorar esse meu lado mais malvado. Espero que não me taxem como galã porque eu gosto da desconstrução. Apesar de o Javé ser um cara bonito, que galanteia a Mauritânia e a Brenda, ele tem baixa autoestima. Eu também sou um pouco assim nesse lugar de não me achar bonito, de não achar que eu sou essa bola toda que pintam.
Você nasceu no Gama. Qual sua relação com Brasília? Você ainda vem muito aqui? Como é a reação do público daqui quando te encontra?
Minha relação com Brasília é de muito amor. Minha família toda vive aqui. Quando eu estou gravando a novela tento voltar todo mês para visitar meus pais, meus irmãos, minha avó, meus amigos. Passei minha infância no Gama, cresci lá. Eu também amo o cerrado. Sou viciado na natureza de lá, as cachoeiras. O cerrado é um lugar que me equilibra, gosto de andar de bicicleta aí, de conhecer novos lugares. O público daqui fica sempre muito orgulhoso de eu estar representando a gente na novela. Com Todas as flores eu venho sendo reconhecido no aeroporto e fico muito feliz com esse carinho.