Falta de empatia e desrespeito dos outros são grandes adversidades à amamentação

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Às vezes, tudo o que uma mãe quer e precisa é amamentar em paz. A sociedade precisa aprender a ser mais compreensiva e aceitar o aleitamento materno como um ato tão natural quando dar uma fruta a uma criança em público

Além dos eventuais traumas fisiológicos que a amamentação pode causar às mães, os ambientes em que o aleitamento materno é feito também merecem atenção. Neste ano, a campanha anual de incentivo à amamentação do Ministério da Saúde destaca a importância do amparo de toda a rede de apoio (família, amigos, profissionais de saúde, empresários) aos pais, em especial às mulheres que estão amamentando.

Amamentar nem sempre é fácil. As adversidades podem ser tanto físicas e de saúde da mãe, quanto externas, quando a mulher não conta com compreensão por parte da rede de apoio (como amigos, familiares e até empregador) ou até de outras pessoas. Tanto é que existe um projeto de lei federal tramitando para proteger as mães desse problema.

Um exemplo claro de desrespeito aconteceu em 17 de julho, quando uma passageira amamentava a filha de 1 ano durante um voo internacional da companhia aérea KLM e foi abordada por uma comissária de bordo, que pediu que ela cobrisse os seios com um cobertor. A trabalhadora tomou a atitude após reclamações de outros passageiros, que consideraram a amamentação um ato “desrespeitoso” em público.

Repreendida por amamentar em voo, a norte-americana Shelby Angel se manifestou contra companhia aérea nas redes sociais

A mãe não aceitou a imposição e postou sobre o caso nas redes sociais. O caso viralizou e, no dia seguinte, a empresa aérea se posicionou o Twitter dizendo que é permitido amamentar durante voos, mas pede que as mães se cubram para evitar problemas com pessoas de outras culturas. O pediatra e homeopata Moises Chencinski, criador e incentivador do Movimento Eu Apoio Leite Materno, autor de blog homônimo e coautor do livro É mamífero que fala, né?, escreveu artigo sobra a questão. Confira o posicionamento:

O médico Moises Chencinski se posiciona contra atitude de companhia aérea

“Obrigado, KLM: a amamentação agradece!

Estamos no Agosto Dourado, mês dedicado à sensibilização e à conscientização sobre a importância do aleitamento materno. Mas, todo ano, mesmo perto dessa data, aparecem situações que nos fazem refletir e repensar nossa postura e nossas ações.

Na semana passada (17/7), a empresa holandesa de aviação KLM protagonizou uma situação, no mínimo estranha. Durante um voo de San Francisco para Amsterdã, uma passageira que amamentava sua filha de 1 ano foi abordada pela comissária de bordo com um cobertor para que ela cobrisse os seios e a criança, por ter recebido reclamações de passageiros sobre essa atitude ‘desrespeitosa’.

A mãe, Shelby Angel, de Sacramento, na Califórnia, se negou a cobrir a filha e postou em sua página do Facebook, essa situação desagradável e constrangedora pela qual ela passou. As redes sociais da empresa KLM foram então inundadas por comentários e reclamações a respeito dessa atitude.

Em seu Twitter, no dia seguinte, a KLM explicou que ‘é permitido amamentar nos voos, mas, às vezes, é necessário pedir às mães que se cubram’ e que ‘essa era a política oficial da companhia aérea e que os passageiros precisavam respeitar pessoas de outras culturas, para preservar a paz em seus voos’.

Será que alguém respeitou a cultura dessa mãe e a de sua bebê de 1 ano de idade que estava, inocentemente, mamando, enquanto diziam que ‘para amamentar você vai ter que se cobrir e cobrir sua filha’?

A companhia KLM recebeu muitas reclamações de internautas

Procurei nos sites da KLM qualquer informação a respeito da política relacionada à amamentação e, sinceramente, NÃO ENCONTREI NADA. Quando será que essa ‘política oficial’ foi divulgada? Será que essa ‘política oficial’ existe? Se alguém encontrar, favor encaminhar para conhecimento público.

A BBC ouviu outras companhias de aviação. A British Airways disse que ‘jamais impediria uma mãe de amamentar a bordo’. Afirmou ainda que ‘poderia providenciar privacidade se lhe fosse solicitado’. Já a empresa EasyJet disse que ‘suas passageiras são bem-vindas para alimentar seus bebês a bordo a qualquer momento’.

Enquanto a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a WABA (Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno) apresentam, desde 1992, campanhas na Semana Mundial de Amamentação (SMAM – 1º a 7 de agosto) para normalizar o aleitamento materno, favorecendo a saúde das mães (menos 20.000 mortes por câncer de mama por ano), dos lactentes (menos 823.000 mortes por ano de crianças abaixo de 5 anos de idade) e uma economia de mais de 300 bilhões de dólares anuais (se as mães amamentassem desde a sala de parto, exclusivo até o 6º mês de vida e complementado com alimentação saudável até 2 anos ou mais), ainda temos questões culturais que ‘erotizam’ o ato de amamentar, vindas de onde não se esperaria, culturalmente, esse tipo de atitude.

No Brasil, nossas ações através do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria e de suas filiadas (incluindo a Sociedade de Pediatria de São Paulo) têm, por objetivo, aumentar as taxas de aleitamento materno para 50% em crianças até 6 meses de idade, seguindo a recomendação da OMS, até 2.025.

Hoje, existem leis municipais e estaduais (ainda não temos uma lei federal) que punem quem constranger uma mãe que amamenta em público. A amamentação vai além da questão nutricional e imunológica (passagem de anticorpos). Amamentar é vínculo, é olho no olho, é pele a pele.

Assim, lamentamos a atitude da empresa citada, de sua equipe de bordo, das pessoas no voo, que não foram identificadas, que se sentiram desconfortáveis com o ato absolutamente natural de uma mãe amamentando seu filho.

Aliás, se formos observar atentamente, há menos mães amamentando seus bebês em público do que seios à mostra no Carnaval e nas praias brasileiras, tão visitadas por turistas nacionais e internacionais. Se essa exposição é respeitada por todos, é encarada como normal (como deve ser) e é usada até como publicidade para se atrair investimentos em turismo para o Brasil, a amamentação pode e deve ser normalizada e respeitada.

E, concluindo, ‘agradecemos’ à KLM por essa atitude. Assim, conseguimos chamar a atenção para o aleitamento materno unir e mobilizar muitas famílias que, indignadas com essa atitude, aproveitarão a SMAM e o Agosto Dourado próximos e, mais sensibilizadas, propagarão e divulgarão cada vez mais o respeito ao aleitamento e a essas mães e bebês maravilhosos que nos mostram dia após dia, sua força e a importância dos vínculos. EMPODERAR MÃES E PAIS. FAVORECER A AMAMENTAÇÃO. Esse é o tema da Semana Mundial de Amamentação para 2.019.”

Leia amanhã!

Confira, neste domingo (4), as maiores dificuldades físicas da mãe ao amamentar, além de dicas para lidar com problemas, como mastite

Ana Paula Lisboa

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