Os centros de saúde são a porta de entrada para o programa Chile Crece Contigo que, além de agir com o objetivo de que cada criança desenvolva todo seu potencial, ataca desigualdades
Santiago, Chile — Em La Pintana, a comuna mais pobre da região metropolitana da capital chilena, com 198 mil habitantes, o Centro de Salud Familiar (Cesfam) El Roble é um dos sete do tipo a atender a população local. Cerca de 177 mil pessoas, entre essas, 22 mil de até 9 anos, fazem uso do sistema público de saúde na região. É nesse tipo de espaço que costuma ocorrer o primeiro contato de famílias e crianças pequenas com o programa Chile Crece Contigo, ainda durante a gravidez, no pré-natal, prosseguindo após o nascimento, nas consultas de acompanhamento.
É como se os centros de saúde fossem a porta de entrada para as outras frentes do sistema, pois é lá que pais e mães participam de oficinas para aprender os melhores cuidados e formas de estimular os filhos a cada fase da vida, além de receberem kits. Desde a implementação da política pública, em 2006, os serviços passaram a ser cada vez mais integrados. Esses centros contam, por exemplo, com sala de estimulação para atacar desde cedo e prevenir a intensificação de qualquer tipo de déficit ou atraso no desenvolvimento. Nesses espaços, médicos e enfermeiros trabalham com fonoaudiólogos, terapeutas e profissionais de educação infantil.
“Fomos um dos centros pioneiros em ter educadora”, conta Francis Ciampi, diretora da unidade El Roble, referindo-se à Patrícia Lopez, educadora infantil do Chile Crece Contigo. “Antes desse programa, ter fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e educadora era algo impensável dentro de uma unidade de saúde primária”, relata Patrícia. “O mais bonito da iniciativa é ajudar a acabar com as lacunas da desigualdade do nosso país, que são muitas. E começa-se a atacar essas desigualdades desde a barriga, desde o berço, para que crianças pobres consigam ter as mesmas chances de desenvolvimento que as ricas”, afirma. Ou seja, permitir condições de início equivalentes para que o resto da vida também seja mais igualitário, na escola e no mundo do trabalho.
“O que é possível graças a essa intervenção integral proposta pelo programa, juntando diversos profissionais e áreas para priorizar a infância”, completa Francis. “O Chile Crece Contigo veio para potencializar as estratégias que oferecíamos antes, mas de forma desordenada, agora, de jeito coeso, conseguindo também identificar melhor e agir mais rápido em situações de risco”, diz Francis. “A cada contato com as famílias, são registrados alertas de vulnerabilidade. Por exemplo, mãe com escolaridade incompleta, criança com deficiência, família com esse ou aquele problema. E, a partir de um alerta desses, ações específicas serão implementadas para atender melhor aquela criança”, observa Valeria Guzmán, encarregada da comuna de La Pintana.
Os efeitos são esperados a longo prazo, como esclarece Rodrigo Cabezas, profissional do Fondo de Intervenciones de Apoyo al Desarrollo Infantil que trabalha na sala de estimulação com terapia psicomotora. “A lei do Chile Crece Contigo não é de muito tempo atrás. Então, veremos os resultados das intervenções lá na frente, na adolescência, na universidade. Se um menino tem dificuldade de andar agora, quando vem à sala de estimulação, os pais podem pensar que estamos apenas agindo para que esse garoto consiga fazer melhor as coisas agora. Mas não é só isso, pois o trabalho age no físico e no cognitivo”, aponta. “Com as atividades, estamos dando à criança a chance de desenvolver as distintas competências necessárias no mundo atual.”
Desde a implementação do programa multissetorial de proteção à primeira infância no país, os pais recebem, além de orientações sobre como cuidar e estimular os filhos a cada fase, kits de materiais ao comparecer aos centros de saúde. Durante a gestação, são entregues agenda, guias da gravidez, CD de músicas para tocar para o bebê ainda no útero, DVD com exercícios pré-natais, guia de paternidade ativa e corresponsável para pais. Ao nascer, há distribuição de berço portátil, colchão e jogo de fronha, lençol e manta, tapete de EVA, livros, DVD com lições educativas, móvel de estimulação, mochila para carregar itens infantis, toalha, trocador, artigos de higiene (como sabão e pomada), fraldas e roupas.
Materiais de estimulação continuam sendo entregues aos quatro meses e também quando a criança completa 1, 2, 3 e 4 anos. Outros itens são distribuídos ainda quando os pais participam de oficinas e quando há necessidades específicas. Por exemplo, se há um diagnóstico de deficiência ou doença, há equipamentos para estimulação especializados. Existe um kit lúdico de apoio para meninos e meninas em situação de emergência, como terremoto ou outro tipo de desastre. Todos os kits são tão completos que chamam a atenção.
“Ninguém fazia coisa da melhor qualidade para a rede pública antes. Então, os artigos são tão bons que até quem procura atendimento na rede particular gostaria de receber”, comenta Alejandra Cortazar, doutora em políticas para a primeira infância pela Universidade de Columbia. Isso incentiva que os pais levem os filhos para as consultas de acompanhamento nos centros de saúde, pois é lá que receberão os materiais. “Tudo de primeira qualidade realmente, tanto que a taxa de satisfação ultrapassa os 85%”, observa Jeanet Leguas Vásquez, porta-voz do Ministério de Desenvolvimento Social do Chile.
*A jornalista viajou como bolsista do programa de reportagens sobre primeira infância do International Center for Journalists (ICFJ), com patrocínio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV)
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