Vive la France!

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Dramático, soturno e vilanesco como um baixo-barítono de ópera, nosso amigo inseriu o tema da conversa: a revolta feminina na festa de premiação do cinema. Atrizes de preto, piadinhas infames, execrações públicas, discursos inflamados, o Globo de Ouro praticamente esqueceu os filmes para se concentrar no combate aos homens. E irritou nosso amigo.

Como se estivesse incorporado por um Furlanetto no papel de Mefistófeles, ele despejava sua ira satânica contra as protestantes, porque acredita que o movimento põe ideias na cabeça da doce esposa de mais de 40 anos, que não quer mais que ele dirija. “Me chamou de barbeiro”, vociferou.

Não há mais dúvidas: o feminismo está de volta. Ainda não atearam fogo aos sutiãs, como na revolta promovida pelo Women’sLib em 1968, contra o concurso de Miss America, mas se daquela vez não houve chamas – foi uma fogueira conceitual, por assim dizer – agora a ebulição arde.

As acusações aos bacanas seguem, mas o que preocupava no debate daquela mesa é que a ira feminina está chegando ao andar de baixo – o nosso andar. “Mais um pouco vai ser preciso assinar um contrato de namoro, com cláusulas do que pode e não pode”, disse outro, não por acaso, advogado.

A luta das mulheres por igualdade é justa, mas há algum exagero. Não é mais uma questão salarial ou mesmo contra violência e constrangimento; virou o avesso: agora são as mulheres que desqualificam os homens. “A hora de vocês acabou”, disse Ophra Winfrey, a Ana Maria Braga deles, sem deixar claro que se referia apenas aos agressores.

Ainda bem que temos as francesas. Cem atrizes publicaram um manifesto bem mais inteligente nas páginas do jornal Le Monde. “O estupro é um crime, mas a paquera insistente ou sem sutileza não é crime, nem o galanteio uma agressão machista”, sustentam. Nelson se rejubilou: a cantada está salva.

As francesas tocaram no ponto: esse novo feminismo está tomando forma de ódio aos homens e à sexualidade. Tem origem no puritanismo calvinista que ingleses levaram para os Estados Unidos há 400 anos e que sobrevive até hoje sem evoluir um milímetro.

Ofensores devem sentir a força da Lei, mas as francesas lembram que não se pode punir “homens cujo único erro foi tentar tocar um joelho, tentar um beijo, falar de coisas íntimas no trabalho ou enviar mensagens de conotação sexual a uma mulher que não sentia atração recíproca”.

Cantadas podem ser salutares. Acho que já contei aqui a história de uma amiga que quando está com a autoestima no chão, se arruma e passa na frente de uma obra só para ouvir fiu-fiu e elogios brutos.

De qualquer forma, o Globo de Ouro perdeu a oportunidade de lembrar um filme lançado recentemente e que mostra que o feminismo é uma luta por justiça e não um justiçamento. É A Guerra dos Sexos (Battle of the Sexes), que narra a luta de Billie Jean King para dar às tenistas, o mesmo prêmio dado aos homens. Vou contar o final: ela ganha.

Paulo Pestana

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Paulo Pestana

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