Passou o Natal e o fim do ano está próximo; já dá para fazer uma retrospectiva do que passamos. Nesses 12 meses de esquisitices – 10 deles bem estrambóticos – houve muito cientista quebrando a cara depois de fazer previsões mais catastróficas do que as da Mãe Diná. E houve muito leigo fazendo papel ridículo, negando a gravidade da situação, receitando meia banda de cibalena contra o vírus.
O legado mais importante do período mais terrível do ano é ter consciência de que, mesmo confinado dentro de casa, ninguém precisa ser idiota como os participantes do big brother. Aquela alegação de que o confinamento traz reações estapafúrdias, mais animalescas que humanas, caiu por terra. Ninguém mais verá os heróis do Pedro Bial com os mesmos olhos.
Já temos certeza que uma vacina só não basta; precisamos de um imunizante contra a ignorância. Urgente. Pelo menos, ninguém tem notícia de que algum inglês ou americano vacinado tenha virado jacaré, como se insinuou. Mas depois da aplicação de milhares de doses da vacina e seis (meia dúzia!) de pessoas apresentam reações alérgicas, essas passam a ser a notícia, e não outros milhares.
Os pessimistas tentaram apressar o fim do mundo e muita gente deixou a máscara cair e beijou na boca de quem não devia, como dizia o samba cantado por Carmen Miranda. Se alguém se der ao trabalho de buscar as previsões dos especialistas para o ano que ora finda vai levar um susto: seria regido pelo sol, significando que haveria muito sucesso, caminhos abertos, embora um vidente tenha previsto um terremoto em Santos, São Paulo.
Vida de bidu não é fácil. O chute é livre, mas é difícil acertar em gol. Os mais safos se abastecem com platitudes do tipo “vai ter muita separação, uma pessoa importante vai morrer, a economia vai continuar com dificuldades”. Quem vai por caminhos específicos tem tudo para naufragar. Ainda não vi as previsões esotéricas para 2021. Nem quero ver.
Os otimistas de sempre disseram que seriamos pessoas diferentes depois deste período. Todos nós entraríamos numa espécie de nova era de aquário, em que seríamos mais solidários, com posturas mais coletivas. Mentira. O novo normal é igual ao velho; a única diferença é que muita gente aproveitou a pandemia para enganar o próximo.
Mas ano que vem vai ser diferente. Maurição buscou suas infalíveis previsões ao consultar os desenhos formados pelas cinzas de um toco de cigarro sem filtro ou os desenhos verticais que a pinga deixa nas paredes do copo, suas habituais práticas xamãnicas de adivinhação, mas definiu a próxima temporada de 52 semanas usando a numerologia.
“Somando os algarismos que formam o ano, chegamos a cinco”, disse ele, à sério. “Dois mais dois mais um”, explicitou. E imediatamente relacionou as características do algarismo encontrado: é o número dos sentidos, representa a aventura e tem a cruz como símbolo. E Maurição pergunta: “Sabem o que isso significa?”. E responde:
– Nem eu!
Nem tudo é notícia ruim este ano: tem disco novo do Paul McCartney na praça.
Feliz ano novo!
Publicado no Correio Braziliense em 27 de dezembro de 2020
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