Ninguém mais pode duvidar que voltamos ao tempo das Marocas. Ou da Candinha. Um fuxico, hoje, vale muito mais que uma informação e o que interessa mesmo é o rebuliço; nunca a verdade valeu tão pouco. Assim, não surpreende a pesquisa que mostra que a maioria das pessoas se informam por meio das redes de amigos, na internet.
E não vai melhorar. Se antigamente a expressão ‘deu no jornal’ tinha o valor reconhecido na face como uma nota promissória da verdade, hoje é bem o contrário; a mesma pesquisa mostra que a imprensa é vista com muita desconfiança pelo cidadão. Perde feito para outra expressão: ‘um amigo me contou’.
Não é preciso apurar mais nada. Se o fato, do jeito que chegou, agrada, espalha-se, inclusive com comentários enriquecidos. As dúvidas ficam reservadas a quem pensa diferente; até no botequim, onde os pontos de vista mais esdrúxulos sempre foram respeitados, está-se aderindo à moda e as discussões vem sendo abolidas em nome de uma falsa pacificação.
Dia desses fui convidado para falar com futuros jornalistas. Não sei bem por que insistem em querer falar comigo sobre essas coisas, mas como não sou mal-educado e não dispenso uma prosa, voltei a uma sala de aula. Só queriam saber do futuro da profissão diante do avanço das redes sociais; não tinha respostas a oferecer. Preferi ouvir.
E pelo que pude perceber os futuros jornalistas também não gostam do jornalismo que recebem. Eles também preferem se informar pelos amigos, numa conversa de confluências, que não admite contrários, como se as pessoas estivessem à procura de sósias, de espelhos de imagens imutáveis, confortáveis e que não apresentem surpresas.
Ou seja: o problema não é do jornalismo. Pelo menos não até esses jovens assumirem o comando das redações.
As notícias falsas existem desde que o mundo é mundo, mas nunca foram mais importantes que a verdade. Sempre foram tratadas como anomalias, pura e simplesmente mentiras ou serviam para aforismos divertidos, como o do francês Georges Duhamel, autor de Civilization (1918), que escreveu: “Como toda pessoa séria, não acredito na verdade histórica, mas na verdade da lenda”. Mas é preciso lembrar que ele também disse que é “abençoado o homem que não tem nada a dizer”.
E ficou famosa a frase do editor do jornal Shinbone Star, no filme O Homem Que Matou o Facínora (1961), de John Ford, ao ouvir a confissão do senador Stoddard (James Stewart), que havia feito carreira com a mentira de que havia matado o tal facínora (Lee Marvin), na verdade morto por um pistoleiro, personagem de John Wayne. “Quando a lenda se torna realidade, publica-se a lenda”, disse o jornalista, rasgando as anotações.
Acreditar nos amigos é bom; mas barrar o fluxo da informação, ainda que não seja agradável, é a pior escolha. É como disse o Alcides, outro dia no bar, ao anunciar que ficaria de costas para a TV a partir daquele momento e não veria mais as notícias: “Não gosto de ver esse cara me desmentindo todo dia”.
Publicado no Correio Braziliense, em 28 de abril de 2019
Há poucos lugares mais opressivos que sala de espera de médico. Com essas clínicas coletivas,…
Pinheirinhos de plástico com algodão imitando neve, um velhinho barbudo de roupa vermelha, renas do…
A cidade está colorida de novo. Agora são as árvores de cambuís, que vestem as…
Rir é o melhor remédio, diz o bordão popular. Mas certamente isso não se aplica…
Chegara a vez do homem de chapéu. A pele clara e castigada pelo sol tinha…
E agora descobrimos que guardar segredos faz bem à saúde. As tais reservas – desde…