Um outro Brasil

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Eu fico pensando se neste planeta gêmeo da Terra que acharam outro dia tem um Brasil. O astro fica a 1.400 anos-luz daqui e, segundo os cientistas, está em zona habitável — orbita em torno do Sol deles a uma distância parecida com a que temos do nosso.

Foi batizado com o nome de Kepler 452b, certamente provisório, tão feio que é. Aliás, onde anda a imaginação dos nossos astrônomos?

Os antigos sábios se inspiraram na mitologia para batizar nossos vizinhos. Pluto, deus das trevas, deu origem ao distante Plutão; a deusa da beleza deu o nome a Vênus. E por aí foram. Hoje, usa-se uma tarja, um código de barra, um número e um nome incompreensível.

Seria o mesmo que chamar a sinfonia Eroica, de Beethoven, de Opus 55; o que é o mesmo, mas não é a mesma coisa. O nome só se mantém porque ET é igual a cliente de cemitério: não reclama de nada.

E por enquanto nos sentimos sós nesse universo em eterna expansão. Somos 7 bilhões de almas solitárias à procura de um novo lugar para viver, na esperança de um mundo melhor, enquanto destruímos o que temos. E vamos fotografando a vastidão em busca de um planeta que possa ser uma nova casa para a raça humana.

O físico Stephen Hawkins não sai da cadeira, mas lançou um projeto para procurar seres extraterrestres. É um dos sujeitos mais inteligentes do mundo e deve saber o que está fazendo; afinal, vai torrar R$ 300 milhões da fortuna de um russo na empreitada.

Aqui do meu canto, eu só fico pensando se não era melhor a gente procurar um restinho de humanidade entre nós. Sinceramente, acho que sairia mais em conta.

Mas, sim, e se tivesse um outro Brasil? Seria bom. Com perdão de Ary Barroso, a gente bem está precisando de um Brasil brasileiro.

A frase da discórdia — Nelson Rodrigues dizia que era preciso pôr um taquígrafo atrás de Otto Lara Resende para registrar o que ele dizia. “E vender as anotações numa loja de frases”, completou.

A historinha vem a propósito da confusão causada semana passada, quando citei a frase de um amigo canalha, caçador de antigas paixões. “O tempo esculpe ruínas”, disse-me.

Eis que Luis Joca, atento defensor dos direito autorais, aguerrido como um sindicalista dos velhos tempos, surge para contestar a paternidade. “O autor é Carlos Henrique de Almeida Santos”, disse.

Quem sou eu para contestar o intelectual cearense. Ainda mais quando ele usa o nome de um poeta como Carlos Henrique, autor de linhas arrepiantes. Não sei se aquela frase é dele, mas é ele o autor das seguintes palavras: “Mas agora é tarde, não há mais tempo pra nada/ a não ser talvez o penúltimo olhar/ sobre o que foi um dia a inocência dos homens/ Tudo ficou vulgar e se perdeu para sempre”.

Ainda bem que a gente pode esperar o baiano Carlos Henrique se recuperar da falseta que o coração lhe fez dias atrás para esclarecer a pendenga.

Publicado no Correio Braziliense em 14 de agosto de 2015

Paulo Pestana

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Paulo Pestana

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