Niquento é um sujeito que se importa com tudo o que não tem importância; exige pormenores, é difícil de ser convencido de alguma coisa e fica entre o manhoso e o rabugento. Estão cada vez mais abundantes, os niquentos.
São pessoas que acreditam que tudo tem que ter resposta, quando qualquer um sabe que tem muita coisa que não se explica, principalmente se for em relação ao comportamento humano. Nem o Dalai Lama conseguiu, com todo o conhecimento do budismo. “Os seres humanos são tão contraditórios que é impossível atender às suas demandas para satisfazê-los”, disse.
O ‘não’ nunca é resposta para um niquento. Nem talvez. Quando encontro um desses enjoados pela frente, conto uma história, que me foi vendida como se fosse verídica; se não for, é muito boa assim mesmo, e pode explicar esse comportamento.
Uma mulher teria pedido ao físico Albert Einstein que explicasse a teoria da relatividade em poucas palavras, porque ela havia tentado ler tudo a respeito, mas não conseguia compreender o que ele quis dizer. E ele começou a contar:
“Veja a senhora que eu andava a conversar com um amigo cego e disse a ele que queria beber um copo de leite. E meu companheiro perguntou: ‘Leite? Eu sei o que é beber, mas não sei o que significa leite’. Respondi a ele que era um líquido branco. Mas ele voltou a perguntar: ‘o que é branco?’ É a cor das penas de um ganso, respondi.
O cego voltou a retrucar: ‘Eu sei o que é uma pena, mas não sei o que é ganso’. Com toda calma, respondi que ganso é uma ave – e que tem o pescoço torto, acrescentei. O amigo voltou a falar: ‘Pescoço eu sei o que é, mas não sei o que é torto’.
Aí perdi a paciência com tantas perguntas, segurei o braço dele, o estiquei e disse: isso é reto. Depois, dobrei o cotovelo e falei: isso é torto. Foi quando o cego me disse: ‘Ah, sim, agora sei o que é leite’.”
A mulher ficou sem resposta, mas parece que o volume de informações supriu o nível de exigência, como acontece com todo niquento que aparece e desiste de fazer perguntas.
Todos menos um. Nem precisamos chamá-lo pelo nome, pode melindrar. Mas a turma o chama de O Especulador – assim mesmo, em maiúsculas, como se fosse uma identidade secreta. E tudo ele quer especular, como se fosse uma criança de sete anos.
Do mesmo jeito que definimos prazo para acabar de falar de doenças e remédios – senão a noite vai embora e ninguém mais fala de outra coisa – fomos obrigados a limitar o tempo de entrevista d’O Especulador. Agora ele tem direito a apenas cinco perguntas.
Semana passada ele teve o direito cassado. Foi interrompido antes mesmo de começar a especular sobre as últimas intrigas palacianas, sem chance de completar a primeira questão. O decano da turma logo se adiantou: “Sobre esse assunto não temos respostas. Só perguntas. E são mais de cinco”.
Publicado no Correio Braziliense, em 22 de fevereiro de 2019
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