Como esse negócio de carnaval em março é meio estranho, a folia já começou. A data é definida a partir do equinócio da primavera do hemisfério norte, embora moremos do lado de baixo do Equador.
O domingo de Páscoa cai no primeiro domingo depois da lua cheia que se segue ao equinócio e é o que, sete semanas antes, define o domingo de carnaval.
Isso vem desde 1582, com a aplicação do calendário gregoriano. Neste ano, aliás, as pessoas foram dormir dia 4 de outubro e quando acordaram já era dia 15 (foram suprimidos 10 dias para ajustar o calendário à astronomia).
Complicado? Melhor dançar.
Há cem anos, o povo saiu às ruas para cantar o maxixe O Kaiser em Fuga, que comemorava o fim da Primeira Guerra Mundial (“Viva, viva/ Sempre os nossos aliados? Que venceram essa guerra/ E prenderam os culpados”).
90 anos atrás, o samba já tomava conta e o folião cantava Dorinha, Meu Amor e Gosto que Me Enrosco, músicas que, ainda lembradas e cantadas, resistiram ao tempo.
Faz 80 anos que os cordões saíram às ruas cantando O Hino do Carnaval Brasileiro, de Lamartine Babo, que se não cumpriu o que o título prometia, foi um grande sucesso. As marchinhas começavam a tomar conta da folia momesca, embora o samba Meu Consolo é Você, na voz de Orlando Silva, tenha feito enorme sucesso.
E há 70 anos, outro clássico, este absoluto, sairia às ruas: Chiquita Bacana, de João de Barro e Alberto Ribeiro, seguido de perto por Maior é Deus, na voz de Francisco Alves, que hoje anda meio esquecido.
Os sambas Levanta Mangueira e Até Logo, Crocodilo foram alguns dos mais cantados no carnaval de 60 anos atrás. Mas nem a exaltação à escola, nem a crítica ao rock’n’roll resistiram bem ao tempo.
No entanto, há 50 anos, Elza Soares registraria um samba clássico: Bloco de Sujo, de Luiz Reis e Luiz Antônio – “Olha o bloco de sujo/ Vai batendo na lata/ Alegria barata/ Carnaval é pular”.
E faz 40 anos que o Brasil relembrou um antigo sucesso de Carmen Miranda e fez o país pular ao som de Balancê, uma espécie de penetra na festa que já tinha sido dominada pelos sambas-de-enredo das escolas cariocas. Era o caso de Incrível, fantástico, extraordinário, que embalou o desfile da Portela.
Há 30 anos, o carnaval do país já era regido por Salvador. O grande sucesso do ano foi Beijo na Boca, da Banda Beijo, embora o samba-enredo Ratos e Urubus, Larguem a minha Fantasia, da Beija-Flor tenha causado furor (“Sai do lixo a nobreza / Euforia que consome / Se ficar o rato pega / Se cair urubu come”).
20 anos atrás, pode ser que ninguém se lembre, mas o sucesso foi Juliana, do Bom Balanço (“A Juliana não quer sambar/ Samba, Juliana, samba, Juliana”) e há 10 anos o Brasil ficou à mercê de Cadê Dalila, lançada por Ivete Sangalo.
Eu só queria que alguém explicasse como foi que chegamos à essa desengonçada Jenifer.
Publicado no Correio Braziliense, em 24 de fevereiro de 2019
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