O amanhã, como será?

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O futuro está demorando muito. Daqui mais algumas horas 2019 termina e nada do que foi prometido em O Caçador de Andróides, o filme de Riddley Scott – que se passa precisamente em 2019 – apareceu. O mundo continua dividido em países, não houve colonização de outros planetas e os carros ainda usam rodas. Para piorar, a PanAm faliu – a empresa aparecia com destaque, como uma corporação intergalática.

Também se frustrou a construção da base lunar prevista para 1970 pelo filme Project Moonbase – talvez em 2069, diz a Nasa. Notícia boa é que passamos – faz tempo – o 27 de agosto de 1997 e o mundo não acabou, como estava claro em O Exterminador do Futuro, embora a gente não saiba se Sarah Connors, mãe do revolucionário John, que daqui a nove anos lideraria um levante contra os robôs para salvar a humanidade, teve neném.

Também estamos atrasados em relação a previsão de Arthur C. Clark; para ele, os primeiros contatos com seres de outros planetas se dariam, não em 2001, como o livro e o filme sugeriam, mas em 2010 – a culpa é dos alienígenas, que não vieram. Serve de alívio o fato de ainda não terem sido inventadas as pizzas desidratadas mostradas em De Volta para o Futuro, junto com aqueles skates voadores.

O mais perto que chegamos do futuro é o de 1984, de George Orwell, mas ao invés daquele governo totalitário e paranoico que vigia a todos permanentemente, o controle é exercido por corporações, como confessou recentemente o dono do FaceBook, Mark Zuckerberg, ao admitir, em carta enviada ao Congresso americano, que seus clientes são monitorados mesmo quando escolhem desativar o serviço de geolocalização. Ou seja, ele sabe exatamente onde você está agora. Provavelmente sabe o que você está fazendo.

Mas as pessoas não estão nem aí. E sem interesse em saber do futuro distante. Nem mesmo as antigamente famosas previsões de esotéricos emocionam mais.

O povo parece se contentar em conhecer o calendário com os feriadões do ano e que podem valer uma esticada na praia ou uma sextada mais radical; no máximo, se o Wesley Safadão vem tocar no Parque da Cidade. As emoções andam cada vez mais baratas, como se fossem folhas de um carnê de loja, onde a felicidade é paga em módicas prestações.

De certo, sabemos que 2020 será o ano da saúde das plantas, mas também da tabela periódica de elementos químicos (agora com 118 elementos) e ano internacional do som; também é o ano internacional das enfermeiras e parteiras. Ou seja, à escolha do freguês.

Xangô será o orixá de 2020; para quem acredita, bom presságio, promessa de inteligência e justiça. Para os chineses – a partir de 25 de janeiro – será o ano do rato, propício a sair de situações complicadas. Para os astrólogos, será regido pelo sol, o que pode significar abundância, mas que oferece riscos. Para mim, um ano como todos os outros, com a vantagem de ter um dia a mais; espero aproveitá-lo.

Venha como vier, feliz ano novo.

Publicado no Correio Braziliense, em 29 de dezembro de 2019

Paulo Pestana

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Paulo Pestana

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