Finais felizes

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Toda essa comoção em torno do final da série de TV Games of Thrones tem uma única e singela explicação: as pessoas gostam de finais felizes. Pelo menos na ficção. E também querem que a lógica prevalece, mesmo num programa que tem dragões flamejantes, zumbis de gelo e imensos lobos.

Houve muita reclamação, listas de erros, até uma petição para que toda a temporada seja refeita. A decepção das pessoas com o final, no entanto, parece ter se aprofundado com a morte à faca da furiosa rainha Daenerys Targaryen, perpetrada por seu par romântico, John Snow. Mesmo depois de ela receber o Nero e feito uma cidade inteira arder em chamas.

Mas nem sempre finais infelizes desagradam. Em Casablanca, por exemplo, Humphrey Bogart (Rick) decepciona Ingred Bergman (Ilsa) e a audiência ao se despedir do romance. Mas marcou a história com uma das mais lembradas frases do cinema: “Nós sempre teremos Paris”.

Em E o Vento Levou… Clarke Gable (Rhett) e Vivien Leigh (Scarlet) também não ficam juntos, nem mesmo depois de quatro horas de filme. A mocinha é deixada chorando na escada, depois que ele joga todo o desprezo em outra frase sempre lembrada: “Francamente, minha querida, eu não dou a mínima”.

O maioral da tristeza, no entanto é o filme O Campeão. Nada é mais triste do que a cena em que o garotinho T.J. (Rick Shroder) implora para que o pai, Billy (Jon Voight) desperte. “Acorda, campeão”, diz ele diante do pai morto, que, alcóolatra, voltou a lutar para satisfazer o desejo do filho. O filme de Franco Zeffirelli serviu para que cientistas fizessem vários estudos sobre depressão.

Cinema é arte mas também é escapismo. Os musicais e os filmes de super-heróis refletem bem essa face dos filmes usados para combater o estresse nosso de cada dia, sem que seja preciso mergulhar em teses mais elaboradas ou até mesmo em preocupações alheias. E neste ponto, por mais que tentem teorizar, Game of Thrones se destacou.

É uma história de fantasia pura, passada num mundo distópico, talvez em outro planeta, com seres fantásticos. Ainda assim é possível encontrar estudos pseudo-sérios sobre as relações entre os reinos e a disputa dos líderes pelo trono de ferro. São as mesmas pessoas que pediam um final mais coerente.

Faz pouco tempo que outro final de programa de TV deixou uma grande polêmica no ar. Quando Lost chegou ao final de sua sexta temporada, depois de 121 episódios recheados de absurdos – que iam de um urso polar numa floresta tropical a uma fumaça com vontade própria e que engolfava a todos – revelou-se que tudo não passara de um sonho, delírio de um moribundo, vítima de um acidente, que lutava pela vida.

A conclusão é que finais doem. Mesmo em comédias românticas em que tudo vai bem, porque a audiência fica querendo absorver um pouco mais daquele momento; o que explica que a maioria dos filmes que as pessoas querem rever são do gênero. É um estalo de generosidade, quando as pessoas torcem pela felicidade alheia.

Publicado no Correio Braziliense, em 16 de junho de 2019

Paulo Pestana

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Paulo Pestana

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