Márcia Rosely Jakubowski de Carvalho, sócia do Rancho Paraná | Crédito: Divulgação

Flores tropicais no meio do cerrado

Publicado em

De acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), o Centro-Oeste possuía 343 produtores de flores em 2023. No quadradinho do Brasil, o Rancho Paraná se destaca como a marca de Brasília que oferece à população um nicho mais segmentado desse setor, por meio do cultivo de espécies tropicais. Cores vibrantes, formas exóticas e durabilidade são características comuns e trazem vida aos ambientes em que esses tipos de flores estão presentes. 

“Sempre procuramos produzir flores orgânicas e saudáveis, tanto para nós, para nossos colaboradores e para os clientes Estamos localizados próximo ao Lago Descoberto, que é um importante manancial de água para o Distrito Federal, onde mais de 60% da água consumida na região é originária por ele”, conta Márcia Rosely Jakubowski de Carvalho, sócia do Rancho Paraná. 

Produtora rural, a empreendedora conta que a produção de flores tropicais, no Rancho Paraná, é em sistema de agrofloresta. Na prática, são produzidas as flores consorciadas com as folhagens e as frutas, tornando-se um modelo ecológico e sustentável. “Aproveitamos os resíduos orgânicos para fazer compostagem. Muitos pesquisadores da Embrapa já nos visitaram, mostrando que o modelo agroflorestal é um modelo ambientalmente correto e que equilibra o meio ambiente”, explica.

Atualmente, o Rancho Paraná oferece mais de 90 tipos de flores tropicais e folhagens, além de mais de 40 tipos de frutas. As principais espécies são as helicônias, bastões do imperador, alpínias, gengibres, costus, calatéias e musas. Para Márcia, as flores tropicais, além de exóticas, são muito resistentes. Se estiverem em ambientes frescos, podem durar em média 8 a 12 dias nos arranjos. 

Para chegar ao resultado final, Márcia conta que vários processos são adotados pela empresa para que as flores cheguem em perfeitas condições para os clientes. “Começa no plantio, no cuidado diário com irrigação, adubação e poda. Depois, na colheita, selecionamos as flores no ponto; na hidratação pós-colheita; e, ainda, na padronização dos pacotes”, informa.  

Vocação rural 

Em 1967, Francisco José e Prakceda vieram para Brasília, na região do Lago Descoberto. “Nessa década, a área foi desapropriada e a nossa família perdeu tudo. Meus pais regressaram ao Paraná com o pequeno valor da indenização que receberam”, indica Márcia, filha de Franscico e Prakceda. 

No entanto, o casal sonhava em retornar à capital. “Naquela época, o Incra estava implantando o ‘cinturão verde’. Então, eles retornaram e recomeçaram na propriedade onde estamos até hoje”, complementa. Inicialmente, estiveram à frente da produção de verduras e, anos depois, iniciaram a criação de gado leiteiro. “Os altos custos inviabilizaram a atividade”, lamenta. 

Esse cenário os levou à produção das flores, ramo pelo qual a família se tornou referência na região. “Minha mãe sempre gostou de flores e cultivava os jardins sempre floridos. Eu e meus irmãos, nascemos e crescemos dentro de um ambiente rural. Nunca moramos em cidade! A vocação rural da família e o amor pelo campo foram crescendo e virou uma oportunidade de negócio”, ressalta Márcia.

A produtora rural recorda que uma amiga da família os incentivou a plantar a flor angélica, conhecida pelo seu aroma e beleza. A produção se expandiu e, com ela, a necessidade de melhorar a comercialização. “Produzimos a espécie por vários anos, até que chegamos à conclusão de que um único produto representava muito risco e pouca renda. Por isso, passamos a diversificar a produção com flores tropicais e folhagens”, comenta

Foi nesse período que a mãe de Márcia ganhou de presente de aniversário um arranjo de flores tropicais. “Ela se encantou com a beleza e a diversidade, despertando a curiosidade de buscar informações e mudas em outros estados, já que ainda não se produzia flores tropicais em Brasília”, complementa. 

Para Márcia, a marca é uma referência por valorizar o setor rural. A família, que veio dos pais agricultores, expandiu a atuação dos negócios. Em 1998, foi inaugurado o Rancho Paraná Agroturismo com a empresa de agricultura familiar, restaurante rural e produção de flores tropicais. Ela conta também que, hoje, o Rancho Paraná é conhecido como “Santuário Ecológico”, “Floresta tropical no meio do cerrado” e, até mesmo, “Paraíso Ecológico”.  

Três perguntas para Márcia Rosely Jakubowski de Carvalho, sócia do Rancho Paraná:

Por que o nome “Rancho Paraná”?

A marca Rancho Paraná surgiu como referência à família que veio do Paraná. Quando alguém vinha nos visitar, perguntava onde era a chácara do Francisco e da Prakceda. Pelo nome, poucos conheciam. Mas quando falavam que era o Chico e a esposa do Paraná, todos já sabiam. E assim o apelido “Chico Paraná” se consolidou e o tornou conhecido. 

Quando fomos colocar o nome na propriedade, alguns amigos comentavam que gostavam de visitar o Rancho do Chico Paraná. Para simplificar, nomeamos como Rancho Paraná. Inclusive, a registramos no INPI. 

Qual é o perfil do seu consumidor? 

Observamos que boa parte de nossos clientes são profissionais que gostam muito de produtos exóticos. Arquitetos, agrônomos e médicos são clientes frequentes. Também fazem parte da nossa lista os estrangeiros, principalmente de Embaixadas, que ficam encantados com a diversidade dos produtos brasilienses.

Quais foram os maiores desafios que a empresa enfrentou?

Passamos por diversas crises. A primeira delas relacionada à questão financeira. Já perdemos produção com chuva de granizo, com atravessadores, com juros altos de financiamentos bancários. Vivemos a crise hídrica, em 2017, e, por último, a pandemia. Essas duas últimas foram as mais cruéis, pois com a crise hídrica perdemos grande parte da produção de flores, plantas e de peixes. Na pandemia tivemos que fechar o Rancho Paraná por 6 meses.