Tempestades como as que devem continuar atingindo o DF podem deixar os pets apavorados. Veja como agir para garantir que o animal mantenha a calma nessas situações
A tempestade que provocou estragos no DF não causou transtorno apenas para os humanos. Trovoadas e ventos a 50km/h deixaram os animais apavorados. Nessas situações, os tutores acabam ficando tão ansiosos quanto os melhores amigos, pois muitas vezes não sabem o que fazer para ajudá-los. Porém, embora nenhuma solução seja milagrosa, há diversas estratégias que ajudam o pet a lidar com o medo. O resultado varia de animal para animal e vale a pena experimentar as técnicas disponíveis até encontrar a que funcione melhor com o amigão.
O especialista em comportamento animal Vilmar Oliveira, da FuncionalDog, explica que a melhor estratégia é, sempre, se antecipar aos eventos que assustam os animais, condicionando-os positivamente. Isso vale tanto para medo de fogos de artifício quanto de chuva e trovoadas. No primeiro caso, o que mais incomoda o animal é o barulho, então, os condicionamentos devem se focar na audição. Contudo, quando a ansiedade é provocada pelas tempestades, o gatilho do medo é o olfato.
“Existe um estudo da cientista em cognição animal Alexandra Horowitz que defende que o animal se alimenta emocionalmente por meio de cheiros. Tem uma experiência que ela fez mostrando que os objetos com o cheiro mais forte, que vai durar mais tempo, são os que os cachorros guardam”, exemplifica Vilmar. “Quando o animal sente cheiro de nitrogênio no vento, ele já sabe que vai chover e isso o lembra de todos os medos que teve em situações parecidas. Você pode até colocar um algodão no ouvido ou um tapa-ouvidos, mas, nesse caso de chuva, o que é mais afetado é o sentido olfativo”, explica.
Assim que o tempo começar a fechar, é hora de o tutor começar o condicionamento positivo, isso é, fazer com que o animal associe a chegada da chuva a algo agradável. Uma dica de Vilmar é borrifar spray de feromônio no ambiente. Feromônios são substâncias naturais, percebidas apenas pelos animais, que desencadeiam respostas fisiológicas e comportamentais. Existe no mercado um feromônio sintético que simula o cheiro da mãe do pet, fazendo com que ele se acalme. O produto, porém, é caro e, como pode não funcionar para todos, há uma alternativa mais barata. O especialista da FuncionalDog recomenda borrifar um pouco de amaciante de roupas – o mesmo usado para lavar/passar as roupas da família – no ar:
“Quando você abraça seu cachorro, ele sente seu cheiro. Então, ao sentir esse cheiro no ar, ele vai ter a sensação de segurança. Uso muito essa técnica para diversas situações comportamentais”, diz Vilmar Oliveira.
Antes de a chuva chegar, também é bom oferecer petiscos com triptofano na composição. Esse aminoácido é um precursor natural do hormônio serotonina e age aumentando a sensação de bem-estar nos pets. Massagear orelhinhas e barriguinha pode ajudar também a deixar o animal mais relaxado. Outra dica de Vilmar é jamais tentar fazer o pet vencer o medo o expondo ao que ele teme. Ou seja, nada de levá-lo para passear debaixo de chuva e de vento.
Para quem quer se aventurar na técnica de amarração de faixas de pano no animal, Vilmar lembra que essa é apenas uma parte do método holístico TTouch, que envolve diversas abordagens. Além disso, é preciso passar por treinamento para aplicar os ensinamentos corretamente. Quem é leigo e tenta enfaixar o pet para acalmá-lo tendo como base apenas tutoriais da internet pode, inclusive, acabar prejudicando o melhor amigo. “O animal pode asfixiar”, lembra o especialista, que recomenda sempre buscar um profissional habilitado.
Há situações, porém, em que o cão ou o gato precisam ser medicados na hora, alerta Lorena Bastos, clínica e cirurgiã da Salud Pet. É o caso de cães idosos, cardíacos ou que chegam a ter convulsões ou a se ferir quando estão muito ansiosos. “Quando o animal tem esse comportamento, o ideal é o tutor consultar com o veterinário, para ver se ele pode tomar algum medicamento”, conta a veterinária, que já teve de ir em casa de cliente para injetar um remédio em uma idosinha muito assustada. Lorena lembra que há animais tão nervosos que podem ter ataques cardíacos durante a crise de ansiedade.
Outra importante dica de Lorena Bastos é fechar bem janelas e portas, para evitar a fuga de animais. Quem acompanha as redes sociais deve ter percebido que, ao longo de toda a terça-feira, havia postagens sobre cães que desapareceram durante a chuva. “Deixe sempre também com uma plaquinha de identificação. Também evite prender o animal com guia ou corrente, porque ele pode se machucar”, ensina. Os gatos, que também sofrem com tempestades, costumam se esconder em um cantinho. O ideal é preparar uma caixinha de papelão ou a própria caixa de transporte, para que eles se sintam protegidos. A veterinária explica que também há opção de feromônio para felinos, uma estratégia que pode funcionar.
Lorena Bastos recomenda também que os tutores tentem se manter tranquilos. “Os animais leem muito nossa linguagem corporal. Não devemos demonstrar medo. Tente se manter relaxado e procure brincar com o animal”, diz.
Para pets ansiosos, é possível fazer tratamento a longo prazo com fitoterápicos e medicamentos homeopáticos. “No caso específico que tivemos das fortes rajadas de vento e tempestades de chuva dos últimos dias, cabe ressaltar que tais tratamentos precisam de mais tempo para serem eficazes, demandando um espaço de tempo maior para o tratamento”, explica Rangel Barcelos, franqueado e médico veterinário da DrogaVET Brasília.
“Fitoterápicos e homeopatias devem ter tratamento similar aos medicamentos alopáticos. Eles possuem menos efeitos colaterais, têm um bom custo benefício, mas não é por isso que devemos deixar de consultar o médico veterinário para uma prescrição correta. É importante ainda procurar estabelecimentos sérios para aquisição ou manipulação da receita”, diz.
O médico veterinário lembra que, em casos de animais que sofram de ansiedade e que vão passar por uma situação de estresse, como mudança de endereço, nascimento de uma criança, viagem, festas de fim de ano, etc, é possível entrar com fitoterápicos ou homeopatia com antecedência, para terem tempo de agir no organismo. “Mas, nesses casos das fortes chuvas, que não temos como prever, e que os animais são reconhecidamente muito ansiosos, podemos recorrer às medicações alopáticas, previamente prescritas pelo médico veterinário de confiança, para fazerem efeitos mais rápidos. E, dependendo da situação, pode-se recorrer à utilização concomitante de alopatia e fitoterapia”, ensina.