Não te troco por ninguém

Publicado em comportamento

Pesquisa mostra que muita gente é mais tolerante e prefere se relacionar com pets do que com outra pessoa

Por Ailim Cabral

Quem já se chateou com o parceiro gritando, mas acha os latidos do cão adoráveis? Ou já brigou com o colega de quarto por colocar os pés no sofá, mas não se incomoda com os rasgos deixados no estofado pelas unhas afiadas do gato? Segundo uma pesquisa realizada por uma empresa americana de produtos pet, o número de pessoas que tem mais paciência com seus pets do que com os parceiros ou com amigos é alto. A BarkBox entrevistou mais de mil americanos, e 87% afirmaram aceitar melhor os comportamentos irritantes de seus animais do que de seus iguais.

O foco da pesquisa eram os donos de cães, mas os cuidadores de gatos costumam apresentar comportamentos semelhantes. Cerca de 52% dos entrevistados revelaram preferir ouvir os roncos de seu cachorro do que os de seu parceiro; 48% se irritam mais com uma pessoa que come muitos petiscos durante o dia do que com um cão que está sempre mastigando, e 47% preferem lidar com a bagunça feita pelo pet do que com aquela deixada pela pessoa com quem convivem.

 

 

Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press Karem, Arthur e Olaf: família feliz
Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press Karem, Arthur e Olaf: família feliz

Esse é o caso do casal Karem de Oliveira, 23 anos, e Arthur Eber, 25. A bancária e o militar acabaram de comprar o primeiro cachorro e se divertem ao perceber como são mais tolerantes com o filhote Olaf, de quatro meses, do que um com o outro. “Ele é o nosso filho e acabamos sendo muito pacientes com as coisas erradas que ele faz”, afirma Karem.

Ela conta que, ao contrário, fica brava quando o marido deixa bagunça pelo chão. “Se eu chego em casa e tem muita coisa dele espalhada, já fico nervosa. Principalmente quando são coisas que o Olaf pode engolir”, confessa. No entanto, a moça não parece se incomodar com a infinidade de brinquedos caninos que lotam o chão da casa. “Ele ainda é um bebê”, argumenta rindo.

Karem afirma veementemente: “Olaf é nosso filho”. Arthur, no entanto, foi quem mais surpreendeu na relação com o pet. Karem conta que, no início, ele não queria ter um animal. “Quando finalmente consegui comprar, ele dizia que o ‘meu cachorro’ ia ficar fora de casa. Hoje, ele coloca o Olaf em cima da cama”, revela a bancária.

Arthur confessa que não conseguiu deixar o filhote fora de casa e que, com poucas semanas de convivência, se apaixonou. Os dois dormem juntos no sofá e o militar também assume ter mais paciência com o cão do que com a mulher. “Quando ela some com alguma coisa minha, já acho ruim, mas se é o Olaf que pega algum objeto e esconde, acho graça”, confessa.

 

O casal também se encaixa no aspecto da pesquisa que mostra que a maioria dos donos de cachorro enxerga o pet como filho. O casal encara crianças como um plano de longo prazo, mas não descarta a ideia de ter outro “filhote canino” para fazer companhia a Olaf.

A psicóloga Dulcinea Cassi acredita que o tipo de comportamento identificado na pesquisa pode refletir dificuldades de relacionamento dos entrevistados. “Mas isso, em casos mais extremos,

porque vemos dentro da observação clínica que mesmo pessoas com vidas sociais saudáveis se dedicam aos animais como filhos”, esclarece.

Nos casos em que os comportamentos referentes ao pet ressaltam as dificuldades de relacionamento com os humanos, Dulcinea acredita que a situação pode ser encarada mais como positiva do que prejudicial. “Os pacientes com dificuldades de relacionamento demonstram mais facilidade em se relacionar com os animais e isso pode se tornar um elo. Quando ela aprende a criar laços com o pet, pode levar isso adiante com os humanos”. Ou seja, o animal surge como um alento para um problema preexistente da pessoa e não é o responsável pelo afastamento dos humanos, como alguns podem pensar.

Para a psicóloga, as pessoas se sentem mais à vontade nos relacionamentos com os animais porque existe uma previsibilidade maior. Diferentemente das uniões entre humanos, com o bicho, quanto mais amor se dá, mais amor se recebe. “Os cães e gatos respondem afetivamente e, em alguns casos, de forma mais satisfatória do que os parceiros humanos”, acrescenta Dulcinea. A maior tolerância com os comportamentos irritantes dos animais também tem explicação. “Provavelmente é porque o animal é visto como um ser indefeso, como uma criança que não entende as consequências de seus atos”, afirma a psicóloga.

Amor em números

49% dos donos de cachorros afirmaram dividir a cama com os pets. Entres esses, 36% disseram dormir em posição desconfortável para manter o cachorro mais próximo durante a noite.

28%preferem dividir a cama com o animal do que com o parceiro.

33%mantêm contato íntimo com seus parceiros enquanto os cães estão no mesmo cômodo.

43%dos que se autointitulam “pais” de cachorro permitem que os animais os sigam enquanto usam o banheiro.

26%dos donos de pet levam seus cães quando saem para encontrar amigos e 19% admitem ter levado o animal escondido para lugares onde a entrada deles não é permitida.

34%revelaram ter levado seus bichos a encontros românticos com seus parceiros ou mesmo em primeiros encontros com desconhecidos.

19%já desejaram poder levar seu pet como convidado em um casamento.

45%dos entrevistados admitiram vestir roupas e fantasias em seus cães

22%revelaram fazer festas de aniversário para seus animais de estimação.

28%contaram segredos aos seus pets e não os compartilharam com mais ninguém.

97%disseram que fariam sacrifícios pessoais para poder deixar seus pets mais felizes e 38% se mudaram para uma casa com um quintal maior para que o cachorro tivesse mais espaço para brincar.

93%dos entrevistados garantem que seus cães fizeram deles pessoas melhores em pelo menos um aspecto.

71%reconhecem que seus animais os fizeram mais felizes e que é mais fácil acordar pela manhã tendo seus cães por perto.

51%das pessoas se tornaram mais pacientes, 52% mais responsáveis e 47% mais carinhosas depois de conviver com seus cães.

83%afirmaram se tornar mais ativos e 72% disseram que os animais interferem em suas decisões sobre exercícios físicos.

85%dos americanos entrevistados consideram que seus cães são os melhores terapeutas e os ajudaram a superar momentos difíceis.

83%enxergam seus animais como seus melhores amigos.

87%reconhecem amar seus animais mais do que imaginaram ser possível e 56% manifestaram o desejo de que seu cão pudesse entender a intensidade desse sentimento.