Mãe é quem cria

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No mundo animal, é comum uma espécie adotar filhotes de outra. Já aconteceu até de gorila adotar gato

 

Credito: Carla Teixeira/Divulgação. Animais de Carla Teixeira para a pauta sobre instinto materno ente espécies diferentes.
A cadelinha Frida adotou Branquinha (à esquerda) e Flora: coração de mãe sempre tem espaço para mais um  Crédito: Arquivo pessoal 

 

Da Revista do Correio

Assim como as mulheres cuidam de filhos que não foram gerados no próprio ventre, os bichos adotam filhotes que não são seus, inclusive de espécies distintas. Algo que ocorre com frequência é a adoção interespecífica — definição criada pela biologia — entre cadelas e gatos, como é o caso da chin japonês Frida e das gatas Flora e Branquinha. Há três anos, a cachorra se tornou a mais nova integrante da família, constituída pela estudante de direito Carla Teixeira, a mãe, Vanessa Mota, e o padrasto, Natan Marques. Em 2015, uma ida a uma feira de adoção integrou a gata Flora ao grupo. “Fomos sem compromisso algum e vimos uma gata que nos deixou muito sensibilizados, pois já era adulta e tinha um problema na pata. Aí, resolvemos adotá-la”, conta Clara.

O que no início causou estranhamento em Frida logo se transformou em uma forte conexão com a nova companheira. “Ela lambe a Flora como se estivesse dando banho nela. Ficam sempre perto uma da outra e dormem juntas”, explica Carla. No ano passado, a família recebeu outra integrante: a filhote Branquinha. “Uma amiga da minha mãe a encontrou na rua, mas não tinha como abrigá-la. Oferecemos lar enquanto ela não era adotada, mas gostamos tanto dela que resolvemos ficar.”

A chin japonês mais uma vez viu seu espaço ser invadido. “Quando a Branquinha se aproximava da Flora, a Frida achava ruim e a protegia. Além de não deixá-la chegar perto das coisas e nem da comida da outra gata”, relembra a estudante. Com o tempo, porém, o coração da cadelinha encontrou espaço para mais um filhote adotivo e passou a cuidar de ambas as gatinhas.

Sempre cabe mais um 

A fox paulistinha Tina convivia apenas com os cachorros Zidane e Titã, quando o tutor, Luiz Matos, levou um filhote de gato para casa. Como a cadela havia parido recentemente, ela passou a amamentar o novo integrante da família. “Ela estava cuidando muito bem do gatinho, provavelmente achando que era filhote dela. Ela rosnava quando a gente chegava perto e também não deixava os outros cachorros se aproximarem”, conta Maria Aparecida, esposa de Luiz.

A neurobióloga e jornalista científica Svetlana Yastrebova conta que uma hipótese é que as fêmeas amamentadoras, teoricamente, estão mais propensas a aceitar um número maior de crias. “Outro motivo possível é que as fêmeas que recentemente viraram mães possuem um nível alto de ocitocina, uma substância que aumenta a suscetibilidade ao afeto”, explica. Ou seja, durante esse período elas não têm uma real preferência quanto a espécie a ser alimentada.

A adoção interespecífica pode ocorrer entre diversas espécies. “A probabilidade é mais alta se, na natureza, os pais adotivos não se alimentam de animais cujos filhotes eles cuidam”, argumenta a neurobióloga. Alguns exemplos de casos que foram documentados são entre uma gorila e um gato; baleia com golfinho; cadelas com esquilos e cordeiros e corujas. “Outro fator provável é o comportamento social. Se os representantes de uma espécie costumam formar grupos de fêmeas que cuidam de filhotes juntas, é mais provável que elas recebam um filhote de outra espécie, como acontece com os cachorros e os macacos”, completa a pesquisadora