A convocação de uma audiência pública pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Regina Helena Costa, para o dia 25 de abril, às 10h, marca um importante momento de discussão sobre o uso da Cannabis sativa na produção de medicamentos. O tema, objeto de um incidente de assunção de competência (IAC 16) em trâmite na Primeira Seção do STJ, envolve questões jurídicas de grande repercussão nos meios sociais, acadêmicos e institucionais.
A ministra, relatora do IAC, considera o contexto sensível e propício para a realização da audiência pública, que visa reunir subsídios técnicos, jurídicos e científicos para embasar as conclusões do tribunal, além de permitir a participação dos cidadãos na decisão da corte.
Paralelamente, a Primeira Seção do STJ suspendeu, em todo o país, a tramitação de ações individuais ou coletivas relacionadas à autorização para importação e cultivo de variedades de cannabis para fins medicinais, farmacêuticos ou industriais. Essa decisão foi tomada após a admissão do IAC, que busca definir a possibilidade de concessão de autorização sanitária para importação e cultivo de variedades específicas de cannabis.
A ministra Regina Helena ressalta a importância de analisar se a vedação ao cultivo alcança plantas com baixo índice de THC, mas com altos índices de CBD, substância sem potencial de causar dependência e útil na fabricação de medicamentos e subprodutos. Atualmente, mais de 23 medicamentos à base de canabidiol e outros canabinoides são autorizados pela Anvisa, embora sejam produzidos com insumos de países onde o plantio de variedades de cannabis é permitido.
Por outro lado, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) entende que uma autorização ampla para cultivo não é competência do Judiciário, considerando-a uma questão eminentemente política. O debate sobre a autorização do cultivo de cannabis no Brasil envolve uma gama de considerações jurídicas, econômicas e sociais, destacando-se a necessidade de providências judiciais e administrativas caso a possibilidade seja reconhecida pela Primeira Seção do STJ.
O embate judicial também reflete a busca por alternativas diante dos entraves à importação dos insumos, especialmente sementes de cânhamo industrial (hemp), apontando para a possibilidade de autorizar o cultivo da planta em território nacional como uma solução viável para empresas e para a indústria farmacêutica interessada na produção de medicamentos derivados da cannabis.