Autor: Flávia Duarte
Já estive em Nova York no outono. Passei uma temporada na primavera e talvez, se escolha minha for, nunca visitarei esse lugar de inverno pouco amistoso, capaz de congelar minha respiração e, vai saber, até meus pensamentos. Mas é a primeira vez que venho no verão, de calor grudento e de liberdade coletiva. Digo isso porque nunca vi tantas mulheres […]
Fico em Nova York por mais uma semana. Vim fazer um curso em uma universidade americana. Ali, tem gente de todas as partes do mundo, estudando ou ensinando. Gente com coleção de diplomas, com uma tecla SAP disponível no cérebro para falar qualquer idioma. Mas tenho certeza que não será dos de currículo invejável a maior lição que levarei para […]
Deitei minha cabeça no travesseiro na noite de sábado e fui inundada por uma felicidade pertencente à gente privilegiada. Estava na mesma cama na qual dormi durante um mês, um ano atrás. O endereço era o mesmo: uma rua tranquila e arborizada de Nova York, distante apenas alguns passos do Central Park. Quando estive aqui pela última vez, era primavera. […]
Completei 36 anos na última sexta-feira e concluo que, felizmente, não sou uma vítima da Síndrome de Peter Pan. Enquanto tem gente constrangida em dizer a idade, maldizendo os anos vividos e sofrendo de nostalgia pelo passado, garanto que não trocaria, por nada, meu atual momento para ter a chance de voltar aos 20. Diante do espelho, me acho muito […]
Minha visão anda embaçada. A cabeça parece funcionar como a de quem sobreviveu a uma borracheira e agora enfrenta a ressaca. Como quem bebe em exagero, tenho passado por momentos na vida com extrema intensidade: demais ou de menos. Nesse processo, critiquei e fui criticada. Julguei duramente o outro como também fui juíza cruel comigo mesma. Nesse caminho turvo, andei […]
Fazia tempo que minha saúde não dava sinais de desgaste. Talvez o cansaço, misturado à mudança de clima tenha baixado minha imunidade e permitido que bactérias oportunistas me provocassem uma infecção nos últimos dias. Febril, meu corpo que só pedia cama. Já minha lucidez, socorro à minha mãe. Bati à porta dela. Meu antigo quarto ainda está lá, intacto, do […]
Uma vez me explicaram que, diante de uma doença terminal ou incurável, há pacientes que reagem como bicho ferido. Voltam para sua toca para lamber as feridas em isolamento. Para eles, a enfermidade é sinônimo de derrota e de fracasso. Outros usam a dor como chance de mudança. Se não tiverem tempo de usufruírem da transformação pessoal, que ao menos […]
Quando a conheci, a primeira sensação foi de angústia. A mulher de vozeirão, cabelos loiros e jeito de gente despachada, capturava o ar com a boca aberta. Do peito dela, ouvia-se um chiado. Eu me sentia sufocada ao vê-la tentar respirar. A minha primeira tendência foi julgá-la: “Deve ter fumado a vida toda e agora enfrenta um enfisema pulmonar!”, pensei, […]
Perdoem-me os adeptos, mas sempre tive preconceito com aplicativos de relacionamento. Acho que nada mais é do que se incluir em uma xepa virtual. Vejo como atestado de carência e de uma boa dose de incompetência. Como assim você precisa se exibir em um catálogo para que desconhecidos te atribuam estrelinhas e te deem a chance de começar um papo […]
Os porta-retratos vazios na parede da minha casa ainda aguardam os momentos eternizados em imagens. Quero escolher fotos de paisagens que me recordem experiências, pessoas e lugares que fizeram, ou fazem, parte da minha vida. Mas, aqui, na Tailândia, rodeada de asiáticos risonhos e munidos dos mais modernos aparatos fotográficos, concluí que não gosto nenhum bocadinho de sair por aí […]