Vítor Pereira e as possibilidades de reinvenção do Flamengo sem Arrascaeta na final do Carioca

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A dor de cabeça de Vítor Pereira: montar o Flamengo sem Arrascaeta. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Técnicos criativos não são reféns de um sistema tático ou de um jogador. Muito menos dependem de contratações caras ou imediatas para substituir uma peça pontual. Acham soluções no elenco. Economizam. Fazem os departamentos financeiro e de recursos humanos sorrirem. Reinventam liderados para função e jogos específicos. A ausência de Arrascaeta nos dois duelos contra o Fluminense na final do Campeonato Carioca desafiam Vítor Pereira a provar à torcida rubro-negra capacidade de transformar o time sem o uruguaio e mantê-lo competitivo.

Em tese, a lesão de Arrascaeta fortalece Éverton Ribeiro. Extremamente profissional, ele vem amargando o banco sem um pingo de reclamação. Trabalha muito mais pelo grupo do que por si. Ele e Arrascaeta são jogadores com características diferentes, mas se completam. O Flamengo perde muito quando precisa optar por apenas um deles. Eis o dilema do técnico português na véspera no clássico deste sábado, no Maracanã.

Se tomarmos como base o sistema de jogo usado contra o Vasco nas semifinais, Vítor Pereira colocará Éverton Ribeiro na função de Arrascaeta e definirá o time assim no sistema 3-4-1-2: Santos; Fabrício Bruno, Rodrigo Caio e David Luiz; Varela, Thiago Maia, Gerson e Ayrton Lucas; Éverton Ribeiro; Gabriel Barbosa e Pedro.

No entanto, em confrontos com Fernando Diniz, é preciso ir além do básico. Surpreender mais do que o adversário. O lusitano sabe disso. Sofreu e fez sofrer quando travou duas batalhas contra o Fluminense à frente do Corinthians na semifinal da Copa do Brasil do ano passado; e na decisão da Taça Guanabara pelo Flamengo. Começou bem o confronto e tomou a virada.

O elenco do Flamengo não tem um substituto para Arrascaeta, mas é possível encontrar alguém capaz de emular o uruguaio nos dois clássicos. Na segunda passagem pelo Fenerbahçe, Vítor Pereira desfrutava de um meia semelhante a Arrascaeta. Mesut Özil, que se aposentou na semana passada, ocupava faixa de campo semelhante no tabuleiro do time turco.

Quando não contava com o alemão ou optava por substituí-lo durante uma partida, Vítor Pereira mandava a campo o ponta-esquerda uruguaio Diego Rossi. O português costuma fazer algo semelhante no Flamengo. Everton Cebolinha costuma entrar no lugar de Arrascaeta e muda totalmente a dinâmica do time. Portanto, é certamente uma das opções.

Há outras. Matheus França, por exemplo, entrou muito bem no lugar de Arrascaeta no segundo tempo do jogo de volta da semifinal contra o Vasco. Mudou a partida quando o rival dominava a partida. Deu agressividade e renovou o oxigênio do ataque ao lado de Ayrton Lucas e de Pedro.

É possível pensar em alternativas táticas. Com a boa fase de Ayrton Lucas, Filipe Luís dificilmente reassumirá o posto de titular na lateral esquerda. É uma excelente opção para compor a linha de três zagueiros, mas pode ser visto também como opção para o meio de campo. Não são poucas as histórias de laterais reinventados na função de meia. Júnior, Leonardo, Jorginho, Felipe, Michel Bastos, Zé Roberto e tantos outros se repaginaram antes da aposentadoria e passaram a contribuir como homens de marcação ou de criação. A leitura de jogo de Filipe Luís é formidável para um setor carente de mentes brilhantes. Ele sabe como poucos construir por dentro.

O sortido elenco rubro-negro também oferece a Vitor Pereira o que ele tanto gosta: ferramentas jovens. Pode, por exemplo, adiantar Gerson para a função de Arrascaeta a fim de dar cadência ao time. Abriria vaga para Vidal ao lado de Thiago Maia. Se preferir o caminho da ousadia, daria a função do uruguaio ao reintegrado Victor Hugo ou a Matheus Gonçalves.

Ousadia foi um dos trunfos de Rogério Ceni em um dos momentos mais críticos da passagem dele pelo Flamengo. Lembram? Pressionado pelas eliminações nas quartas de final da Copa do Brasil contra o São Paulo e nas oitavas da Libertadores pelo Racing, encontrou soluções no elenco para sobreviver no cargo. Puxou o volante Willian Arão para a zaga ao lado de Rodrigo Caio e passou a escalar Diego na cabeça de área com Gerson. O Flamengo arrancou para a conquista do bicampeonato brasileiro em 2020 e superou o Fluminense na decisão do Carioca em 2021.

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Marcos Paulo Lima

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