Riyadh Season Cup: como a Arábia Saudita usa Cristiano Ronaldo e Lionel Messi para imitar o Catar na disputa para receber a Copa de 2030

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Padrões de excelência do futebol no século 21, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, adversários nesta quinta-feira na Riyadh Season Cup entre o Riyadh Stars e o Paris Saint-Germain, são fiadores de um novo projeto de ostentação no Oriente Médio. A Arábia Saudita inveja o sucesso do minúsculo vizinho Catar, anfitrião com louvor da última Copa, e está disposta a usar a expertise alheia para jogar os ídolos de Portugal e Argentina contra seus próprios países na corrida para receber a edição centenária do Mundial, em 2030.

A Fifa definirá a sede em 2024. A Arábia Saudita é parceira do Egito e da Grécia. Disputa com a candidatura europeia formada por Espanha, Portugal e Ucrânia; e o combo sul-americano de Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Os sauditas copiam táticas do Catar: abrigar eventos e contratar figurões para chamar a atenção. O vizinho levou Xavi para encerrar a carreira de jogador e iniciar a carreira de técnico por lá. O Qatar Sports Investments uniu Neymar, Mbappé e Messi no PSG. A Arábia comprou as Supercopas da Espanha, Itália e quer a do Brasil. O Al-Nassr contratou Cristiano Ronaldo, eleito cinco vezes número 1. O Al-Hilal cobiça Messi — recordista com sete prêmios.

Notou a sutileza? A imagem de Cristiano Ronaldo no Al-Nassr será associada à Arábia na guerra por votos contra Portugal. Se fichar Messi, o Al-Hilal colocará o craque contra a Argentina.

Messi mordeu a isca primeiro. Em maio de 2022, virou embaixador do Turismo da Arábia Saudita. Foi nomeado pelo controverso príncipe e ditador Mohammed bin Salman. O craque passou de herói a vilão. Acusado de aceitar dinheiro para limpar a imagem do imponente gigante do Golfo Pérsico.

Dono da propriedade privada mais cara do mundo nas proximidades de Paris, batizada de Luís XIV, o ditador é acusado de ser o mandante do assassinato de um jornalista árabe opositor do regime. Um relatório da CIA, a polícia secreta dos Estados Unidos, embasa a apuração. No site Visit Saudi, Messi protagoniza vídeos e fotos em pontos turísticos da Arábia Saudita. Há, inclusive, destinos recomendados a partir de experiências da estrela no país.

Contratado pelo Al-Nassr, Cristiano Ronaldo quebrou as redes sociais na apresentação midiática. Ostenta o salário mais alto do mundo entre os jogadores de futebol: R$ 1,1 bilhão por ano. Em troca, a Arábia Saudita contará com um dos rostos dos sonhos para duelar com Portugal pela Copa de 2030.

Messi é embaixador do turismo da Arábia Saudita. Cristiano Ronaldo, o astro da liga nacional. Mesmo que não dê certo por lá, o gajo tem a opção de se transferir para a Premier League e defender o Newcastle, cujo proprietário é… saudita. Movimentos como esses são chamados de sportwashing. Do inglês, sport (esporte) e wash (lavar). A tática é vincular o futebol ao país a fim de melhorar a imagem no exterior. Assim como o Catar, a Arábia Saudita tem histórico de violações aos direitos humanos. As relações perigosas rendem muita grana, mas podem custar caro aos melhores jogadores do século 21.

*Coluna publicada no último sábado na edição impressa do Correio Braziliense.

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Marcos Paulo Lima

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