O dia em que o Santiago Bernabéu virou “Roland Garros” na troca de bolas entre Mbappé e Benzema

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Tudo parecia conspirar para que a Cidade Luz finalmente entrasse no roteiro das principais capitais europeias com pelo menos um time campeão da Champions League. Londres orgulha-se do Chelsea. Amsterdã vangloria-se do Ajax. Lisboa é representada pelo Benfica na sala de troféus. O Paris Saint-Germain montou timaço para a temporada em que a final estava marcada para São Petersburgo. A invasão da Rússia à Ucrânia mudou o endereço da decisão para o Stade France, em Saint-Denis, na grande Paris, a 15km do Parque dos Príncipes — a casa do PSG. No entanto, o Real Madrid cancelou o “save the date” de Messi, Neymar e Mbappé para a festa de 28 de maio.

O sonho de conquistar a Champions League pela primeira vez, em Paris, está adiado. A França tem a melhor seleção do mundo, porém, seu time mais badalado tomou virada épica por 3 x 2, no placar agregado, de um Real Madrid aquém de sua melhor versão, mas com uma camisa pesada enfeitada por 13 divisas de campeão continental.

A Batalha do Santiago Bernabéu lembrou duelos épicos entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo nos tempos em que o argentino vestia a camisa do Barcelona, e o português, a do Real Madrid. Lembra? Houve um clássico entre eles no Camp Nou, em 2012, que terminou 2 x 2. Dois gols de cada um deles. A série encerrada ontem foi mais ou menos assim.

Parceiros de ataque na França, atual campeã da Copa do Mundo e da Liga das Nações, Benzema e Mbappé transformaram uma partida de futebol com tantos astros em um jogo de tênis. Um duelo à parte. Era como se, de um lado da quadra, estivesse um Novak Djokovic ou Rafael Nadal da vida, e do outro, um Roger Federer. Ambos subiram à rede e trocaram bolas, ou melhor, gols, como se estivessem brincando no gramado, ou melhor, no saibro de Roland Garros, no badalado Grand Slam da pátria deles.

Elétrico, Mbappé balançou a rede três vezes ontem, mas, em dois, estava impedido. O que valeu parecia encaminhar o match point da série. O PSG havia vencido no Parque dos Príncipes por 1 x 0, gol de Mbappé, e abriu 2 x 0 novamente graças a ele, no Santiago Bernabéu. Neymar deixava Mbappé na cara do gol explorando a frágil marcação no setor de Carvajal e Éder Militão — todos carentes de Casemiro. Suspenso, o brasileiro viu o meio de campo formado por Kroos no papel de primeiro volante com Modric e Valverde. Camarinha e Lucas Vázquez deram mais estabilidade ao time na etapa final.

Enquanto Mbappé, número 1 do PSG, brilhava, o dois e o três, Messi e Neymar, respectivamente, contrariavam as boas atuações no primeiro tempo sumindo da partida na etapa final. Do outro lado, Benzema crescia. Vinicius Junior se soltava. Modric assumia o domínio do meio de campo. Começava o show à parte do Real Madrid.

Um hat-trick de Benzema, com direito a lambanças do melhor goleiro do mundo, o italiano Donarumma; erro grave de Marquinhos ao afastar a bola para o meio da área; e assistências de Modric e Vinicius Junior encontraram um centroavante impecável nas finalizações. Como se fosse um tie-break no tênis, Benzema fechou o duelo com Mbappé em 3 sets a 2. Três gols do galático e dois do astro do PSG.

Messi e Neymar podem ter jogado juntos na Champions League pela última vez. O francês sentiu, no estádio, a grandeza do Real Madrid — o gigante ávido por contratá-lo. Messi teve a chance de ser competitivo no Manchester City, mas escolheu a zona de conforto do PSG, um time em constante metamorfose. Neymar, o mais caro da história, contratado por 222 milhões de euros, é o mais questionado. Arrisca passar para a história como quem não cumpriu o projeto de levar o time ao título europeu nem mesmo quando teve os auxílios de Mbappé e Messi.

O Real Madrid não é mais aquele do tricampeonato sob a batuta de Zinedine Zidane, porém o clube merengue é comandado por um senhor treinador. Carlo Ancelotti havia prometido, na véspera, a melhor versão de seu time contra o PSG. Não conseguiu no primeiro tempo. Foi engolido pelo PSG e flertou com uma goleada. Só que o italiano admirado por Tite sacou da prancheta alternativas para encurralar a defesa francesa em mais uma épica noite europeia.

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Marcos Paulo Lima

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