No Dia do Enfermeiro, a história de Sue Carpenter, personagem do último tango de Diego Maradona na história das Copas do Mundo

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Vinte e cinco de junho de 1994. Foxboro Stadium, Boston. A Argentina de Alfio Basile estava embalada pela goleada por 4 x 0 pela Grécia na fase de grupos da Copa dos Estados Unidos e acabara de derrotar a Nigéria por 2 x 1, com direito a assistência de Maradona para o belo gol da virada marcado pelo atacante Claudio Caniggia — de triste memória para o futebol brasileiro. Ao término da partida, D10S deixa o campo de mãos dadas com uma suposta enfermeira. Sue Carpenter é quem aparece ao lado do craque nas tevês dos mundo inteiro e nas páginas dos jornais no dia seguinte.

A presença dela em campo é ideia do doutor Roberto Peidró, segundo médico da comissão técnica da Argentina na Copa de 1994. Começava ali a história de uma teoria da conspiração. Sue Carpenter virou a “enfermeira” que levou Maradona embora da Copa. Quem esperava ver Maradona novamente em campo contra a Bulgária na terceira rodada lamentou que o triunfo sobre a Nigéria entrasse para a história como a última das 91 exibições do craque vestindo o uniforme da seleção bicampeã do mundo.

Maradona havia sido flagrado no exame antidoping. Testara positivo para efedrina. O maestro do timaço que contava com Diego Simeone, Fernando Redondo, Gabriel Batistuta e Claudio Caniggia, liderados pelo técnico Alfio Basile, tinha 33 anos. A mesma idade de Sue Carpenter. A enfermeira norte-americana nascida em Los Angeles ocupava o cargo de auxiliar do controle de doping da Fifa. O livro El Último Maradona, escrito pelos jornalistas argentinos Alejandro Wall e Andrés Burgo, aponta que Sue não era enfermeira e chegou a ganhar da Fifa o pseudônimo de Ingrid Maria a fim de protegê-la dos ataques depois durante e depois da Copa de 1994.

O livro El Último Maradona, escrito pelos jornalistas argentinos Alejandro Wall e Andrés Burgo, aponta que Sue não era enfermeira e chegou a ganhar da Fifa o pseudônimo de Ingrid Maria a fim de protegê-la dos ataques depois durante e depois da Copa de 1994. Ela era apenas auxiliar do departamento de doping da entidade máxima do futebol no Mundial e revelaria o nome verdadeiro durante a participação nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996

Sue Carpenter surgiu de branco no gramado. Ficou ao lado do jogador na entrevista pós-jogo em campo. Um policial escoltava os dois numa cena no mínimo intrigante. O ídolo argentino questiona aquela cena na autobiografia Yo soy el Diego de la gente. “Viram algum outro jogador que foram buscar para levá-lo ao antidoping? E eu fui, fui como um tonto”, desabafou. Maradona havia sido sorteado para o exame na presença de assessores da Fifa, agentes de segurança e dos médicos da Nigéria e da Argentina.

“Eu sorteei os números da Nigéria e o médico nigeriano os números da Argentina. Saiu o 10 da nossa seleção. Era o Maradona. As bolinhas não estavam frias, nada desse tipo. Eram bolinhas comuns que o médico nigeriano botou a mão e escolheu. Ele tirou a 10, assim como também saiu a número 2, do Vázquez”, contou o doutor Peidró, em 2014, numa entrevista exclusiva ao canal de televisão argentino TyC.

O médico da Argentina deu a versão dele sobre a presença da enfermeira em campo. “A loira esperava o fim do jogo com três companheiras e sem saber que Maradona tinha sido sorteado. Não havia nada atípico até então: a Copa dos Estados Unidos foi a única em que, por uma disposição particular, um policial e uma auxiliar — essas garotas vestidas como se trabalhassem em um hospital — deveriam entrar em campo para acompanhar os jogadores do campo até a sala de controle. Achar que apenas houve ‘enfermeira’ para Maradona é um erro. E também uma vitimização: houve ‘enfermeira’ para os quatro jogadores sorteados em cada uma das partidas do torneio”, esclarece Peidró.

“Eu me preparei muito bem para esta Copa, eu me preparei como nunca. Isso dói muito porque eles cortaram as minhas pernas, acertaram na minha cabeça quando eu tenho a oportunidade de ressurgir. Porque quando eu me droguei, fui até o juiz e disse; ‘Sim, me droguei. O que eu preciso pagar?’ E paguei”
Diego Armando Maradona, após o corte na Copa do Mundo 1994

O profissional da comissão técnica da Argentina acrescentou: “Geralmente, elas esperavam os jogadores quando eles estavam saindo. Nesse estádio (Foxboro), o vestiário estava em uma ponta e a sala de controle em outra. Era preciso avisá-los ainda em campo porque não era permitido passar pelo vestiário antes”, pondera Peidró.

À espera do fim da partida, Sue Carpenter conversou com Peidró à beira do campo. Disse que tinha sido casada com um argentino de sobrenome Rodríguez. “Nós começamos a conversar ali, na linha lateral, e ela tinha sido casada com um argentino. Não conhecia a Argentina e me contava que sonhava em conhecer um lugar chamado Congreso, porque seu ex-marido era de lá. Ela me perguntou o que significava Congreso e eu expliquei que era um bairro de Buenos Aires”, relatou o médico em entrevista ao La Nación.

A conversa foi interrompida pelo apito final do árbitro sueco Bo Karlsson. mas bastou para que Sue Carpenter fosse encorajada pelo médico a pisar no gramado para buscar Maradona. “Eu digo a ela que me acompanhasse e se colocasse ao lado dele porque sairia em todos os jornais”, conta Peidró. Assustado, Maradona questionou o delegado da partida sobre a identidade daquela mulher. O chileno Harold Mayne Nicholls esclareceu: “Está tudo em ordem, Diego. Ela é do controle antidoping e vai te acompanhar”, informou.

“Eu morri de dó quando vi, pela televisão, que ele chorava. Eu me sinto culpada de algo que não fiz. Esse é o meu trabalho”
Sue Carpenter, em entrevista ao El País

Ao saber a identidade de Sue Carpenter, Maradona tentou ser gentil. “Foi um mito essa história de que a enfermeira o segurou pela mão e o levou embora. Se vocês voltarem a ver as imagens, vão perceber que é ele quem segura a mão dela”, explicou doutor Peidró.

O técnico Alfio Basile chegou a contar que houve um movimento pela defesa de Maradona. “Até o presidente da República (à época Carlos Menem) me telefonou. Nós íamos fazer a defesa, estávamos falando sobre isso quando disseram que havia uma ligação para mim. Atendi. Era o Julio (Grondona). Ele me disse; ‘Coco, não venham. A defesa está descartada’.”

O zagueiro Oscar Ruggeri sustenta a teoria da conspiração. “Tiraram a gente daquela Copa. Foi algum acerto que o Grondona fez e eu não sei o que ele fez… Essa máfia toda que está presa agora. E os que não estão presos, estão lá em cima (mortos)”, disse o ex-zagueiro, que recuperou a faixa de capitão após o corte de Maradona da Copa do Mundo.

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Marcos Paulo Lima

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