Nikos Laskaris: conheça o controverso mecenas oculto da Gama Sociedade Anônima do Futebol

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A queda de braço entre a Sociedade Esportiva do Gama (SEG) e a Gama Sociedade Anônima do Futebol (SAF) noticiada aqui no Correio Braziliense pelos repórteres Danilo Queiroz e Victor Parrini nesta semana tem um personagem oculto, controverso e não por acaso blindado pelos dois lados da “criptomoeda” alviverde. O blog apurou que o teuto-grego Nikolaos “Nikos” Laskaris é o principal padrinho do casamento em processo de separação. Uma cláusula de confidenciabillidade altíssima oculta o nome do mecenas apresentado à cúpula alviverde como responsável pelo depósito de € 1 milhão na conta da SAF para o início da nova gestão.

O investimento ainda não saiu do papel, virou treta, está em vias de ruptura e mina o desempenho esportivo do clube. Em meio ao litígio, o Paranoá humilhou o Gama por 4 x 0 nesta quinta-feira pela quarta rodada do Candangão. Com uma vitória, duas derrotas e um empate, o time se aproxima perigosamente da zona de rebaixamento. A crise é grave porque a SEG pediu divórcio, mas o técnico e o elenco pertencem à SAF.

Se dinheiro na mão é vendaval, o não aparecimento do aporte na conta da SAF, e muito menos da SEG, é o motivo do primeiro imbróglio na história da nova modalidade de gestão dos clubes de futebol sancionada em 9 de agosto de 2021 pelo presidente da República, Jair Bolsonaro.  Ao desobrigar as SAFs de informar o nome dos donos de cotas com 10% ou mais do clube-empresa, o projeto abriu uma cratera para a falta de transparência. O Gama, por exemplo, é um case de misterinhos, suspense e jogo de esconde. Enquanto Cruzeiro (Ronaldo Fenômeno) e Botafogo (John Textor) fazem um cara-crachá dos seus investidores, o Gama omitia o perfil do potencial mecenas.

Em meio à longa apuração, o blog questionou várias vezes à SEG e à SAF se o nome do mecenas era Nikos Laskaris. Os lados negavam ou omitiam ironicamente, algumas vezes até constrangidos com a apuração, a identidade do empresário. Eis um dos motivos: a reportagem apurou, na Grécia, que o empresário tem uma ficha controversa na Europa.

O currículo do potencial investidor teuto-grego nascido em Bonn, na Alemanha, tem rastros. Consequentemente, na interpretação das partes, tirá-lo do armário durante as negociações colocaria em risco a operação que havia sido frustrada no Criciúma, mas vinha sendo costurada com aparente sucesso neste ano no Gama. Daí a inclusão de uma cláusula de confidencialidade altíssima de R$ 10 milhões durante as arrastadas tratativas.

Uma fonte grega com quem o blog conversou definiu Nikos Laskaris como um controverso empresário. Contou, ainda, a este jornalista, que o empresário foi proprietário do Aris Basketball Club, mais conhecido nas competições como Aris Thessaloniki, da cidade de Salônica, até estourar um escândalo. Um mandado de prisão internacional da Interpol determinava a prisão de Laskaris. Motivo: uma disputa legal com um ex-sócio da Letônia.

Michalis Subotins acusava o parceiro Nikos Laskaris de abuso financeiro. O combate jurídico dizia respeito à compra e venda de ouro por meio de uma plataforma online. Subotins acionou Laskaris por peculato de € 100 milhões. Paralelamente, houve apreensão de ações do Aris. Em 2017, Laskaris foi preso no hotel Hilton, em Atenas. A companheira dele, a cipriota Geórgia Eusebiou, também era procurada pelas mesmas acusações legais — comércio de ouro online e peculato. Os salários dos jogadores da trupe de basquete começaram a atrasar e afetaram o desempenho esportivo do Aris.

Segundo a justiça grega, os réus Laskaris, representante à época de um fundo de investimentos suíço, e Geórgia, teriam extorquido € 27 milhões do empresário letão Michalis Subotins usando métodos fraudulentos por meio de uma plataforma de venda de ouro online — incluindo a compra de ações do time de basquete Aris.

Um dos trechos de um despacho publicado na Grécia revela: “Foi pago por N. Laskaris um montante de 798.660 euros aos fundos da sociedade anônima desportiva Aris Kalathospiriki SA a título da sua participação em dois aumentos sucessivos do seu capital social, que assim adquiriu 79.532 ações nominativas com um valor nominal total de 1.154.664 ações. 90% do capital social. Este montante total de 798.660 euros fazia parte de 900.000 euros que foram transferidos através de duas transferências bancárias de uma conta em nome de G. Eusebius no banco LGT BANK (Suíça) AG, em Zurique, para uma conta no banco Alpha Bank, na Grécia”.

Houve pedido de extradição do casal para a Suíça. Seis meses depois da prisão, Laskaris e Geórgia foram libertados em condições restritivas e pagamento de fiança de € 200 mil cada um. Ambos alegaram inocência e acusaram Michalis Subotins de “fraudulento e chantagista”.

Segundo apuração da justiça grega, Laskaris confirmou ter enviado capital de € 900 mil euros de um banco de Zurique para aumentar a participação no Aris. Porém alegou que esses fundos pertenciam à esposa, eram limpos, de acordo com a lei suíça e tributados no país europeu. Por sua vez, Geórgia informou que a plataforma eletrônica para comercialização de ouro era dela.

Mesmo assim, a justiça grega questionou: “Se o dinheiro realmente veio da venda de ouro aos visitantes-clientes da plataforma, não se justifica porque eles não pagaram o dinheiro diretamente nas contas pessoais do acusado, mas o acusador teve que mediar, enquanto a alegação de que isso não foi permitido pelos bancos suíços. E então qual a natureza e finalidade do acordo fiscal celebrado pela arguida, ao abrigo do qual não foi substancialmente controlada a origem do dinheiro transferido para a sua conta?”.

Semelhanças

O episódio envolvendo Nikos Laskaris na Europa tem algumas semelhanças com a operação de compra do Gama. O empresário teuto-grego adicionou um ramo. Além de comercializar ouro online, passou a investir no emergente mercado de criptomoeda. Coincidentemente, a criação do Utility Token Gamao foi uma das inovações apresentadas aos conselheiros alviverdes a fim de convencê-los a aderir à SAF. Os cartões de visitas de Laskaris em perfis o apresentam, entre outros atributos, como profissional de estratégia e finanças com interesse particular em blockchain e NFTs.

Coincidentemente, esse foi o primeiro passo dado pela Gama SAF. Pouco depois da abertura da empresa, o clube lançou o Utility Token GAMAO e começou a comercializá-lo online. Paralelamente, a Sociedade Esportiva do Gama aguardava pelo aporte de € 1 milhão correspondente à compra de 90% das ações da SAF. Os outros 10% ficaram com o clube.

No início desta semana, os pontos da longa apuração do blog começaram a se fechar. Sob pressão dos conselheiros ao anunciar o rompimento com a SAF, o presidente do Gama, Weber Magalhães, disse a um deles que teria visto o extrato bancário de um depósito no valor de € 1 milhão feito por uma pessoa chamada “Nikos” na conta de uma empresa batizada de Green White Investments LLC. Questionado pelo blog se o sobrenome de quem teria feito o crédito é Laskaris, o dirigente repetiu reiteradamente que não lembrava o sobrenome. Mas uma outra fonte confirmou à reportagem que sim, Nikos Laskaris é o suposto mecenas. O valor refere-se ao primeiro depósito previsto no contrato da SAF.

Oficialmente, a SAF diz que o dinheiro ainda não teria chegado ao Brasil devido a questões burocráticas como abertura de conta para a lisura da transferência bancária. Uma fonte, no entanto, aponta que há um temor por parte da SAF de que o aporte de € 1 milhão seja rapidamente consumido por credores do clube. A dívida do Gama é estimada em R$ 20 milhões. A lista dos credores é imensa e tem até agiota que ameaça constantemente ocupar uma parte do terreno do Centro de Treinamento Ninho do Periquito. Weber Magalhães estaria sendo pressionado justamente por quem emprestou dinheiro ao clube a romper com a SAF.

Como informaram os colegas Danilo Queiroz e Victor Parrini nas reportagens publicadas nesta semana no Correio Braziliense, o gestor responsável pelos investimentos no Gama SAF é Leonardo Scheinkman. Assim como o clube, o intermediário da negociação sempre blindou o nome do controverso mecenas grego. No entanto, uma proposta apresentada pelo grupo econômico ao Criciúma, semelhante à feita ao Gama, deixou rastros para unir e fechar os pontos desta apuração.

Como o Gama virou plano B

Em setembro de 2020, um grupo liderado pelo investidor Nikos Laskaris apresentou oferta para uma injeção financeira de R$ 2 milhões no primeiro mês, e mais R$ 1 milhão no segundo semestre da gestão do Criciúma. No segundo ano, a intenção seria de R$ 3 milhões aplicados em momentos estratégicos. A notícia foi publicada na imprensa catarinense. O blog teve acesso, inclusive, a uma ata de assembleia do Criciúma do dia 28 de setembro de 2020 em que a proposta foi mencionada como concorrente do Grupo de Investimento Gestor (GIG), liderada pelo advogado Alexandre Farias.

Um dos trechos da ata do Criciúma relata: “João Neto respondeu que um único investidor grego, Nikolaos Laskaris, vai colocar os recursos próprios, será aprovado um aporte inicial de R$ 6 milhões em dois anos, se gerir mal o clube, vai perder o dinheiro, e se colocar e não der resultado tem a opção de ir embora e não renovar por mais cinco anos”. Fonte de Criciúma diz que o conselho não sentiu firmeza e muito menos obteve garantias para avançar.

A oferta ao Criciúma tinha como embaixadores o lateral-direito Rafinha, então jogador do Olympiacos da Grécia, e o ex-jogador Alex para dar credibilidade. Porem, os homens fortes eram o investidor Nikos Laskaris, o diretor de relações internacionais Leonardo Scheinkman e o CEO João Neto. Os dois últimos desembarcaram em Brasília no meio do ano passado para ajudar um desesperado Gama a ter condição de disputar a Série D do Campeonato Brasileiro.

Não havia elenco a uma semana do início do torneio. À beira da falência, o clube cogitou abrir mão da vaga na quarta divisão do Brasileirão. Oportunistas, os investidores trouxeram jogadores na última hora e pouco a pouco convenceram parte do conselho alviverde a transformar a Sociedade Esportiva do Gama (SEG) em Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Na última segunda-feira (31/1), o Correio Braziliense publicou que, em nota pública, a Sociedade Esportiva do Gama (SEG) anunciou a decisão do Conselho Deliberativo de rescindir o contrato que criou a Green White Investments LLC apontando “descumprimento de cláusulas financeiras”. Na terça (1º/2), a SAF, por meio do diretor Leonardo Scheinkman, negou calote do investidor que adquiriu 90% das ações do projeto e negou ser o responsável pelo aporte financeiro. Disse atuar como diretor da Gama SAF, “ser uma pessoa que ajudou o clube a encontrar um investidor” e que já gastou R$ 600 mil em despesas do clube.

O sócio majoritário do Aris Basketball Club é Dimitris Guliemos. Ele detém 90% das ações. O presidente é Charis Papageorgiou. Nikos Laskaris mora na Alemanha, mas consta como CEO do badalado time grego. Emmanuel “Manos” Laskaris é vice-presidente.

O blogueiro segue em férias. Passando de vez em quando por aqui para comentários e análises.

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Marcos Paulo Lima

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