Admiro a coragem do técnico argentino Gabriel Milito para fugir das obviedades e bancar novos truques. Não se tratar de reinventar a roda nem o futebol, mas de mostrar-se inquieto na busca por alternativas capazes de surpreender o adversário. A escolha de uma dobra de laterais esquerdos com Guilherme Arana na função de meia e Rubens na ala premiou a ousadia com o golaço do início da reação do Atlético-MG na virada por 2 x 1 contra o Vasco. Um legado da passagem de Jorge Sampaoli pelo clube mineiro. Explico mais adiante como ele transformou Arana em jogador multiuso.
Ser camaleão é agir como Milito. Nas quartas de final da Libertadores contra o Fluminense, ele substitui Bernard por Deyverson e matou a série. Como não pode contar com o centroavante na Copa do Brasil, apostou em Guilherme Arana por dentro, delegou a lateral a Rubens e montou o Galo como gosta: com variações de ações ofensivas dos dois lados do campo. Os donos da casa foram agressivos pela direita, no centro e na esquerda.
O Vasco saiu na frente porque não abre mão do único talento fora de série disponível no elenco. Philippe Coutinho é um jogador especial. Não tenho dúvida de que ele será um dos grandes nomes do futebol brasileiro em 2025. Antes, pode, sim, carregar o Vasco à terceira final de mata-mata nacional na história do clube. Provou no acabamento do belíssimo gol na abertura do placar. Um contra-ataque com o centroavante Pablo Vegetti incorporando Evair ao sair da área para criar espaço, encerrado com o passe de Emerson Rodríguez e a finalização cruzada categórica do camisa 11 no fundo do barbante do goleiro Éverson.
O Atlético-MG surpreendeu-se com a dedicação do Vasco à marcação. O técnico Rafael Paiva conseguiu cercar os pontos fortes do Galo, mas sofreu a virada justamente devido à carência de talentos. O gol de Guilherme Arana saiu depois de o toque de bola dos donos da casa hipnotizar o sistema defensivo cruzmaltino. Uma obra-prima na Arena MRV.
Conversei uma vez com Guilherme Arana na cobertura da Seleção sobre o papel do técnico Jorge Sampaoli na evolução técnica dele. O lateral passou a ser mais do que lateral. Aprendeu a construir o jogo por dentro, como se fosse meia, e cresceu na carreira.
“Hoje em dia você tem que fazer diferentes funções. Aprendi a jogar em uma posição nova, que foi com o Jorge Sampaoli, jogando um pouco por dentro. Isso me fez muito bem porque eu não estava acostumado a jogar na parte do meio ali do campo. Sempre joguei por fora, pela lateral. Independentemente de onde eu jogar vou me adaptar super-rápido para manter o meu nível e desempenhar um grande futebol”, respondeu Arana a este jornalista.
Guilherme Arana recebe a bola praticamente como um ponta-esquerda no lance do gol da vitória do Galo e cruza com a precisão de lateral-esquerdo, a posição de origem dele. Paulinho surge na frente do goleiro Léo Jardim como uma flecha e finaliza com a precisão de centroavante para desencantar depois de sete partidas de abstinência.
O plano de jogo de Gabriel Milito deixa ensinamentos. A solução para os problemas nem sempre está no tamanho do orçamento, no saldo azul da conta corrente ou da poupança. É possível reinventar-se com o que há disponível no elenco. Abel Ferreira costuma usar dobras de laterais para solucionar problemas. Marcos Rocha e Mayke, por exemplo. Milito investiu em Rubens e Guilherme Arana e se dá o direito de empatar com o Vasco no confronto de volta para avançar à final da Copa do Brasil. Não será fácil. O time de Rafael Paiva amadureceu. Mesmo com escassez de talento, consegue peitar qualquer adversário.
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