Entrevista: Ivan Araújo. Ex-preparador físico do Gama fala sobre a vida nos Emirados Árabes Unidos em tempos de pandemia do novo coronavírus

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Membro da comissão técnica do Gama nos tempos áureos, como os quatro anos seguidos em que o clube disputou a Série A do Campeonato Brasileiro, de 1999 a 2002, o preparador físico brasiliense Ivan Araújo de Souza vive, há seis anos, nos Emirados Árabes Unidos. De lá, ele relata em entrevista ao blog como tem sido a vida em quarentena na província de Al-Fujairah, onde trabalha no Dibba Al Fujairah e mora com a família. O time ocupa o quinto lugar na segunda divisão do Campeonato dos Emirados Árabes Unidos com 26 pontos, seis atrás da zona de acesso à elite, ocupada pelo Emirates (39) e o Dibba Al Hisn (32). A seguir, Ivan Araújo descreve um país que fechou mesquitas e obrigou o país islâmico a reinventar as orações por causa da pandemia do novo coronavírus.

Como estão as competições de futebol nos Emirados Árabes Unidos?
A liga nacional está parada desde 14 de março. Não tem treino. As cobranças começaram a ficar mais rigorosas. A gente não pode dar treino, não tem jogo, nada. Parou tudo. Os jogadores estão tentando se exercitar em casa de forma precária.

Qual é a realidade do clube em que você trabalha?
Trabalho no Dibba Al-Fujairah. Pertence ao emirado de Al-Fujairah, como se fosse um estados dos Emirados Árabes Unidos. Nós estávamos na primeira divisão, mas fmos rebaixados no ano passado. Neste ano, estamos na briga para voltar (à elite), mas o campeonato parou e temos poucas chances de retornar neste ano. De maio para junho começa a ficar muito quente aqui. Junho é época de férias, os contratos terminam, então, estamos aguardando uma posição da Federação, que depende de uma posição do Ministério da Saúde dos Emirados Árabes.

Aí, como aqui no Brasil, há muitas trocas de técnico…
Já é o terceiro técnico diferente neste ano. As coisas não estão indo muito bem. Inclusive, o Sérgio Alexandre, que trabalhou aí no Gama, passou por aqui, foi o nosso segundo treinador, e agora temos um terceiro treinador marroquino (Ahmed El Moujahid), temos três brasileiros no time (Roger Mendonça, Vinícius Lopes e Adeílson).

O que mudou em termos de diversão desde o início da pandemia do novo coronavírus?
A gente tinha liberdade de ir à praia, fazer uma corrida, mas foram fechando tudo e, hoje, não pode. Bem parecido com o Brasil. Fecharam todos os shoppings. Ninguém compra nem vende nada, apenas alimentos, as coisas essenciais.

Quarentena: ruas vazias na cidade em que Ivan Araújo mora no Oriente Médio

E a mobilidade urbana, sistema de transportes?
Passamos por três dias aqui de esterilização no sistema de transporte. O metrô, os ônibus, os táxis, todos foram esterilizados. Não se pode levar mais de duas pessoas nos táxis. Eles orientam a não andarmos com muitas pessoas em um carro, no máximo três.

O distanciamento social é rígido?
Não podemos ir à casa dos amigos, dos vizinhos, reuniões sociais. Não podemos fazer exercícios físicos fora de casa, nas academias, clubes, está tudo fechado. Salão de cortar cabelo fechado, o país está praticamente parado para impedir a propagação do vírus.

Uma cidade fantasma: as principais vias de Fujairah praticamente sem movimento de veículos

Fala sobre a rigidez…
Tem toque de recolher agora, das 20h às 6h. Nesse horário você só sai se for estritamente necessário para ir a hospital, farmácia, coisas urgentes. A polícia na rua, nesse horário, pode multar, prender. É ficar em casa. Não tem como fazer muita coisa. A gente sai muito pouco de casa, apenas para ir ao supermercado. Tem um grande número de brasileiros aqui.

O governo está conseguindo domar o novo coronavírus?
Aqui tem 664 casos e seis mortes. O governo trabalha muito forte para colocar um fim nessa situação esterilizando a cidade, checando. A gente vai ao mercado e tem que usar luvas. Conferem na entrada do mercado se a pessoa está com febre. Os aeroportos estão fechados, ninguém entra nem sai.

Mais rígido do que no Brasil: multas e até prisão para quem furar a quarentena em Fujairah

E a educação, como tem funcionado aí?
Escola parou. Meus filhos estudam em casa on-line.

E as orações, como os rituais estão sendo aí?
Com relação às mesquitas, o acesso para orações foi proibido, o que mostra a seriedade com que estão encarando o problema. Na hora da oração, há o toque, mas ninguém vai (assista ao vídeo abaixo). Eles fazem as orações provavelmente em casa por causa dessa mudança do coronavírus. Até a parte religiosa que eles levam muito a sério teve que passar por adaptações.

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Marcos Paulo Lima

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