Ele fez um gol de calcanhar com a camisa do Porto na final da Copa dos Campeões da Europa de 1987 — como era chamada à época a Uefa Champions League. O clube português conquistou o título ao vencer o Bayern Munique de virada, por 2 x 1, em Viena, na Áustria. Foi um dos artilheiros da Copa. Cinco anos antes, havia sido carrasco da Alemanha na Copa de 1982. Abriu o caminho para a vitória da Argélia por 2 x 1 na fase de grupos. Aos 60 anos, Rabah “Mustapha” Madjer é considerado o melhor jogador da Argélia, um dos maiores da história do futebol africano. Entre outros motivos, por ter brindado o país com a maior conquista no futebol — a Copa Africana de Nações. Madjer era jogador no título de 1990. Vinte e nove anos depois, o ex-técnico da seleção pode ver a geração de Mahrez, Brahimi e Feghouli conquistar o bicampeonato na decisão da CAN 2019 contra Senegal. Esse é um dos temas da entrevista do craque ao blog Drible de Corpo. Realista, Madjer explica por que a América do Sul faturou as últimas quatro edições da Copa e faz duras críticas ao futebol sul-americano e africano.
A sua geração é responsável pelo maior título da história da Argélia, a Copa Africana de 1990. A atual caiu nas oitavas de final na Copa do Mundo em 2014 contra a Alemanha, e está na decisão da CAN 2019. Repetirá o feito na decisão contra o Senegal?
Penso que sim. A seleção da Argélia evoluiu como equipe. Pratica um futebol melhor com bons resultados da estreia até agora. As partidas contra a Costa do Marfim e a Nigéria foram muito difíceis, mas ganhamos com o coração. Vamos enfrentar Senegal pela segunda vez. O primeiro jogo foi muito difícil, ganhamos por 1 x 0 (na fase de grupos), mas agora é final. Precisamos de muita concentração. Senegal é uma boa seleção. São muito fortes fisicamente e o nosso time sabe o que espera. Vamos colocar mais uma estrela acima do escudo da Argélia.
Qual é o segredo da geração liderada por Mahrez (Manchester City), Yacine Brahimi (Porto) e Sofiane Feghouli (Galatasaray)?
Não há segredo. O segredo é trabalho. Eu conheço muito bem os jogadores. Há pouco tempo, eu era o treinador da seleção. É um bom elenco que quer ganhar. Temos muita sorte de contar com jogadores excelentes que atuam na Europa. Com essas peças, montamos um bom time que faz boa campanha no Egito. Quando se tem jogadores como Brahimi, Mahrez e Feghouli é sinal de que estamos prontos para ganhar. Nós, argelinos, esperamos muito desse time.
A Argélia poderia ter uma seleção mais forte se alguns não optassem por defender a França. Como fazer para segurar os talentos da Argélia e ter uma seleção ainda mais competitiva?
Eu respeito os argelinos que optaram por defender as cores da França. Isso é futebol. Zidane, Benzema e outros fizeram essa escolha. Porém, nós temos também argelinos que optaram por defender a Argélia. Estão sempre disponíveis e conseguimos montar uma grande seleção com eles. Eu respeito as escolhas de quem prefere a Argélia ou a França.
Você enfrentou o Brasil na Copa de 1986. Qual são as lembranças daquele jogo na Copa do Mundo do México? Careca fez o gol da Seleção…
Naquele ano, nós perdemos para a melhor seleção do mundo: o Brasil. Nós fazíamos um grande jogo, mas perdemos por 1 x 0 devido a um grande erro da nossa defesa. Poderíamos até empatar. Nós perdemos muitas oportunidades. Aquele jogo ficou na história do futebol, na história da Argélia. Sou muito feliz por ter feito parte daquela equipe.
A Europa venceu as últimas quatro Copas do Mundo: Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018). O que explica essa dinastia?
O problema é que, hoje, há uma grande abertura na Europa. Os melhores jogadores do Brasil, da Argentina, do Uruguai, atuam na Europa. Todos praticam o futebol europeu. Essas seleções jogam um futebol mais europeu e perderam a essência. Um exemplo é o Brasil. É inadmissível uma seleção campeã mundial cinco vezes perder por 7 x 1 para a Alemanha. Por que isso acontece? A Seleção não joga o futebol brasileiro. A força do Brasil era porque jogava o futebol brasileiro. Hoje, como todos atuam na Europa, o Brasil pratica o futebol europeu. Perdeu muito. Acontece a mesma coisa com a Argentina. Messi ganha títulos com o Barcelona, mas na Argentina não joga bem. Argentina não joga o futebol argentino como vimos em 1978 e 1986. Tudo mudou.
A África também é prejudicada por essa dinastia?
Todo mundo joga na Europa e perde a característica do próprio país. É assim também com os africanos. Nos anos 1980, nós tínhamos grandes estrelas nos nossos times, mas depois, com a abertura da Europa, não há estrangeiros. Todos são considerados jogadores locais. Hoje, na África, não temos grandes estrelas. É uma pena. Nos anos 1970, 1980, todos os times africanos tinham três, quatro, cinco jogadores que todo mundo conhecia. Hoje, os nossos jogadores atuam na Europa. Não sei se isso é bom ou ruim.
Não há segredo. O segredo é trabalho. Eu conheço muito bem os jogadores. Há pouco tempo, eu era o treinador da seleção. É um bom elenco que quer ganhar. Temos muita sorte de contar com jogadores excelentes que atuam na Europa. Com essas peças, montamos um bom time que faz boa campanha no Egito. Quando se tem jogadores como Brahimi, Mahrez e Feghouli é sinal de que estamos prontos para ganhar. Nós, argelinos, esperamos muito desse time
A maioria dos treinadores das seleções africanas é estrangeira. Há muita obediência tática e pouca alegria no futebol, como era Camarões (1990), Nigéria (1994), Senegal (2002)…
UuConcordo com você. Eu tenho muito respeito aos treinadores europeus e aos africanos, mas nesta Copa Africana temos algo raro. Senegal tem um treinador senegalês e a Argélia um técnico argelino. Marrocos, por exemplo, tem um grande treinador estrangeiro (Hervé Renard), mas não foi bem nesta Copa no Egito (eliminado por Benin nas oitavas de final). Camarões também. É comandado por Clarence Seedorf (holandês), um grande nome do futebol, mas não foi bem (caiu nas oitavas). A Nigéria é comandada pelo alemão Gernot Roht, que tem muita experiência, mas caiu contra a Argélia (nas quartas de final). Não vejo problema em contratar técnico estrangeiro ou um local. É o jogador que faz um bom treinador, não o treinador que faz um bom jogador. É o caso de Senegal. Aliou Cissé tem um grande grupo. Djamel Belmadi faz um bom trabalho na Argélia. Mas tudo isso se deve aos jogadores.
Você trabalhou durante um bom tempo no Qatar como comentarista. Qual é a sua expectativa para Copa 2022?
Será uma grande Copa do Mundo. Está tudo pronto. Estádios, rede hoteleira, o país está em grande desenvolvimento. A Copa do Mundo de 2022 será única, principalmente por ser num país do golfo. O Catar está pronto para isso. É uma honra para todos os árabes. A Copa será em um país árabe. Todos nós seremos embaixadores do futebol. Desejo sorte aos cataris.
Qual é o gol mais importante da sua carreira: o da final da Champions League em 1987 ou aquele contra a Alemanha na Copa do Mundo 1982?
(Risos)… Os dois são muito bonitos. O da Champions League pelo Porto, em 1987 contra o Bayern Munique foi de calcanhar. Entrou para a história. O de 1982 na vitória sobre a Alemanha também é um lindo gol. Mas, para mim, o mais bonito aconteceu nas Eliminatórias da África para a Copa de 1982. Foi em 1981 contra a Nigéria. Nós vencemos por 2 x 1. Aquele foi muito, muito, muito bonito. Espetacular. Esse, sim, o mais bonito da minha carreira. Além disso, classificou a Argélia para a Copa de 1982. Sou muito feliz por ter conseguido isso pelo Porto e pela Argélia. São dois grandes amores para mim.
Quais são as lembranças dos brasileiros daquele time do Porto campeão da Champions League em 1987? Celso, Juary e Casagrande.
Três grandes jogadores. Não se esqueça do Branco, que foi meu amigo também no Porto. Grande homem. Elói também. São meus amigos verdadeiros. Se você puder manda um abraço do Madjer para os meus companheiros brasileiros.
O que pensa sobre Neymar?
É um gênio, um jogador espetacular, gênio. Além disso, um menino muito simpático. Ele só deveria se concentrar mais no campo para evitar muitas coisas fora dele. Mas entendo. Quando se fala de Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, as estrelas, todos gostam de criticar. Sei como é. Normal. Mas Neymar ainda pode fazer muito no clube e na Seleção Brasileira.
Conhece o técnico português Jorge Jesus, que acaba de assumir o Flamengo?
Foi treinador do Benfica, do Sporting. Um bom técnico. Ele pode fazer muita coisa boa no Flamengo. Tem bons jogadores e pode fazer um grande trabalho. Desejo boa sorte a ele.
(Neymar) é um gênio, um jogador espetacular, gênio. Além disso, um menino muito simpático. Ele só deveria se concentrar mais no campo para evitar muitas coisas fora dele. Mas entendo. Quando se fala de Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, as estrelas, todos gostam de criticar. Sei como é. Normal. Mas Neymar ainda pode fazer muito no clube e na Seleção Brasileira.
Johann Cruyff era seu fã. Tentou levá-lo para o Ajax. Por que não foi?
Ele realmente queria me levar para o Ajax. Foi até a minha casa, no Porto, falou comigo, mas, infelizmente, eu tinha contato adiantado com o Valencia e fui para a Espanha. Eu queria jogar no Ajax. Cruyff queria que eu jogasse ao lado de Marco van Basten, uma dupla de ataque formada por Madjer e van Basten, mas não conseguimos.
Quem é o melhor centroavante do mundo? E o número 1 em 2019?
Os melhores pontas de lança na atualidade são Luis Suárez do Barcelona e Aguero do Manchester City. Os melhores jogadores do mundo em 2019 são os de sempre para mim: Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo.
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