Não se assuste se Mauro Júnior aparecer nas últimas listas de Adenor Leonado Bachi, o Tite, antes do anúncio final dos convocados para a Copa do Mundo do Qatar. Há pelo menos dois motivos para isso: o versátil jogador de 22 anos faz bela temporada no PSV Eindhoven e está prestes a completar cinco anos na Holanda. Na prática, isso significa que, em julho, ele não somente pode, como dará entrada no pedido de passaporte. É o primeiro passo para conseguir a dupla nacionalidade e ficar à disposição da Laranja Mecânica como jogador naturalizado.
Pressionada pela perda de jogadores naturalizados como o volante Jorginho, campeão da Euro-2020 pela Itália no ano passado, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está numa cruzada para impedir a fuga de talentos. A entidade tem monitorado casos semelhantes ao de Mauro Júnior. Recentemente, Tite convocou o volante Matheus Nunes, mas o jogador do Sporting escolheu representar Portugal. Campeão da Copa América em 2019, o volante Allan esteve pertinho de vestir a camisa da Squadra Azzurra.
Paulista de Palmital, Mauro Júnior foi revelado pelo Desportivo Brasil. Desembarcou na Holanda jovem para ingressar no time Sub-19 do PSV e tem passagem pelas seleções de base. Defendeu a Sub-17, Sub-20 e figurou na Sub-23. André Jardine chegou a convoca-lo para o Pré-Olímpico, mas teve de cortá-lo por causa de uma lesão. O jogador participou de amistosos contra a Colômbia e o Chile, ambos em São Paulo, e de um triangular nas Ilhas Canárias. Depois de integrar os preparativos para os Jogos de Tóquio-2020, foi preterido.
A frustração tem sido curada com bom futebol. Mauro aterrissou na Holanda como meia, mas rapidamente mostrou uma virtude: a versatilidade. Atua como ponta e lateral direito ou esquerdo e virou um dos coringas do técnico alemão Roger Schmidt nesta temporada. A comissão técnica da Seleção está atenta ao futebol holandês. Extremos como David Neres e Antony foram chamados mais de uma vez justamente pelo que produziram no futebol holandês.
Em 2021/2022, Mauro Júnior acumula 1.693 minutos em campo. Em 25 jogos, marcou dois gols e deu quatro assistências. Entrou em campo como titular em 15 das 24 partidas do PSV, saiu do banco em outras duas e colabora com o a trupe de Eindhoven na perseguição ao arquirrival Ajax na caça ao título. O time de Amsterdã lidera com 57 pontos. O PSV tem 55.
“Mauro está surpreendendo a todos na Holanda nesta temporada. Ele chegou ao PSV como meia-atacante, mas, no ano passado, jogou algumas partidas como lateral-esquerdo porque havia muitas lesões. O treinador do PSV, Roger Schmidt, ficou muito impressionado”, analisa o jornalista holandês Lentin Goodijk, do portal Voetbal International.
Dos 25 jogos em que esteve no gramado nesta temporada, atuou em 13 como lateral-esquerdo, em quatro como ponta-direita, em outros quatro como lateral-direito, em dois no papel de ponta-esquerda e em dois como meia. Balançou a rede duas vezes em fevereiro. Uma contra o Vitesse na goleada por 5 x 0 e outra no triunfo diante do Sparta Roterdã.
Embora tenha virado solução para a lateral-esquerda, Mauro Júnior não é o titular da posição. “Philipp Max é o primeiro. E é um dos jogadores mais caros. Nesta temporada, Schmidt decidiu fazer de Mauro a primeira escolha. Ele gosta muito do Mauro porque é criativo e tem um pé esquerdo muito bom, mas também é humilde e trabalha muito pela equipe. Schmidt chamou Mauro também de ‘nível superior taticamente’. Nas últimas semanas, ele jogou até na lateral direita no PSV para cobrir lesões e brincou na tevê holandesa que a única posição que ele não pode jogar é goleiro, porque ele é muito baixo (1,71m)”, conta Goodijk.
Se conseguir o passaporte e der entrada no pedido de dupla cidadania, Mauro Júnior pode trilhar o caminho de um compatriota. Em 2011, o zagueiro Douglas, jogador do Twente à época, teve o processo de naturalização aprovado. Foi até convocado para um amistoso da Holanda contra a Romênia, em outubro de 2012, mas não entrou em campo. O técnico da Laranja Mecânica naquele período era justamente o atual, Louis van Gaal.
A possibilidade de se naturalizar holandês está aberta para o jovem Mauro Júnior, mas representar o país vice-campeão mundial em 1974, 1978 e 2010 e campeão europeu em 1988 não parece fácil em curto prazo. Além da papelada e do desejo do técnico da seleção, há forte concorrência no setor em que ele tem se destacado. “Temos boas opções nas posições de ala. Daley Blind, do Ajax, é a primeira escolha do lado esquerdo. Mas ele é quase 10 anos mais velho. Talvez nos próximos torneios, se o Mauro continuar evoluindo”, projeta Goodijk.
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