Tite apostou no 4-2-4 no primeiro tempo da vitória contra o Chile nas quartas de final da Copa América. Apostou na velocidade e no talento de Neymar, Richarlison, Firmino e Gabriel Jesus, mas abriu mão do raciocínio no meio de campo. Casemiro e Fred não são muito mais cães de guarda do bom sistema defensivo, que ainda não foi testado pelas potências europeias, do que articuladores, pensadores de ações ofensivas.
A formação escolhida para começar a partida lembrou o dilema de Rogério Micale nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. O mentor da inédita medalha de ouro começou o torneio com três peças no meio de campo — Thiago Maia, Renato Augusto e Felipe Anderson. Na frente, Gabriel Jesus, Gabriel Barbosa e Neymar. Não funcionou nas exibições contra África do Sul e Iraque. O time passou a funcionar no 4-2-4 a partir da goleada contra a Dinamarca. Passou a ter Walace e Renato Augusto no meio de campo, e o quarteto Luan, Neymar, Gabigol e Gabriel Jesus no ataque. Foi fácil se impor contra Dinamarca, Colômbia e Honduras, mas ficou difícil na decisão contra a Alemanha. Para não perder o meio de campo, Micale encerrou a final com Rafinha e Felipe Anderson ao lado de Walace e de Renato Augusto; e Luan e Neymar na frente.
Assim como Micale, Tite quer aprimorar a ideia de ter quatro atacantes. Neymar e Firmino como falsos meias e Gabriel Jesus e Richarlison mais agudos. Não funcionou no primeiro tempo contra o Chile. Obviamente, a Seleção perdeu o meio de campo com Casemiro e Fred. O Chile tinha a posse de bola e não cedia espaço para a velocidade e o talento do quarteto escolhido por Tite. Faltava inspiração, controle das ações e da cadência da partida no setor criativo. Melhorou com a entrada e o gol de Lucas Paquetá, mas aí Gabriel Jesus foi substituído e a história do jogo mudou totalmente. Recuado, o Brasil passou a desarmar e acionar Neymar.
O Brasil não encanta como no início do trabalho de Tite, longe disso, mas noto algo positivo no ciclo para a Copa do Qatar-2022. A busca por alternativas. Elas nem sempre vão se encaixar, como o 4-2-4 do primeiro tempo contra o Chile, mas há repertório. Tite voltou para a etapa final no 4-1-4-1. Tentou resgatar o formato do começo do trabalho e até fez o gol da vitória, mas o vermelho de Jesus estragou a sequência do plano B.
Insisto que Tite deveria adicionar à caixinha de maldades um sistema com linha defensiva de três zagueiros. Éder Militão e Marquinhos são zagueiros rápidos. Thiago Silva, a referência para o papel de líbero. Em tese, esse sistema liberaria mais os laterais Danilo e Alex Sandro ou Renan Lodi para garantir a presença de cinco jogadores pressionando o adversário, como quer Tite. A Eurocopa mostrou várias seleções atuando no 3-5-2, 3–4-3 ou 3-4-1-2. Ainda há tempo de ensaiar esse modelo. Até novembro do ano que vem. Tite domina o sistema. Levou o Grêmio ao título da Copa do Brasil assim, em 2001, quando conquistou fama nacional ao dar um nó nó Corinthians, de Vanderlei Luxemburgo. Não custar tentar.
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