Em tempos de crianças, adolescentes, jovens e idosos usando camisas de times europeus com os nomes e os números de Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Mbappé e outros astros às costas na América do Sul, as imagens de Gabriel Barbosa presenteando um torcedor mirim do Junior Barranquilla com a blusa de treino do Flamengo após o aquecimento; e outro com o par de chuteiras usado na vitória do atual campeão da Libertadores por 2 x 1 são os retratos de um continente carente de ídolos tangíveis, palpáveis, feitos de carne e osso parados ali na sua frente, olho no olho. Nosso papel de exportador de pés de obra para o outro lado do Oceano Atlântico na cadeia industrial do futebol só concede o benefício de curtir, admirar o ídolo pela televisão, nas redes sociais ou no mundinho virtual dos games.
Gabriel Barbosa erra como qualquer ser humano. Por exemplo: recebeu cartão amarelo bobo na vitória do Flamengo. O camisa 9 pode fazer falta ao time em algum jogo na fase de grupos. Em contrapartida, num tempos de intolerância de tudo o que é tipo, o atacante de 23 anos tem sido sensível no relacionamento não somente com a torcida rubro-negra, mas a adversária. Foi assim na partida contra o Grêmio no ano passado, em Porto Alegre, pelo Brasileirão; recentemente nos bastidores da decisão da Taça Guanabara diante do Boavista; e nesta quarta-feira, ao dar atenção aos privilegiados hinchas colombianos. Carinho, aliás, que não faltou ao país vizinho, em 2016, na tragédia da Chapecoense.
Alguns dirão que as ações de Gabigol não passam de jogadas de marketing pessoal. Também, não serei ingênuo para contestar esse argumento, mas, até que se prove o contrário, está fazendo um bem danado a quem só deseja um pouquinho de atenção em um esporte que se profissionalizou ao extremo, desumanizou os protagonistas do espetáculo e distanciou o esporte mais popular do mundo das camadas sociais menos favorecidas. Em muitos casos, falta dinheiro para pagar pelo ingresso para ir ao estádio. Portanto, causa surpresa quando um Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar ou simplesmente Gabigol saem da caixinha, tiram a armadura de robôs e se apresentam como as pessoas esperam que eles sejam: de carne e osso.
Craques inspiradores como Gabigol só precisam entender que não basta tirar selfie, distribuir autógrafos, surpreender com presentes ou simplesmente balançar a rede para ser ídolo. O comportamento fora das quatro linhas é fundamental para a manutenção de um fã. Enquanto Gabriel Barbosa marcava “gols de placa”, em Barranquilla, no trato humanizado com a plateia, Ronaldinho Gaúcho — eleito duas vezes o melhor jogador do mundo em 2004 e em 2005 —, desconstruía a própria imagem de ídolo ao ser detido pela polícia no Paraguai por suposto uso de passaporte falso.
Fãs precisam entender que ídolos são imperfeitos. Cometem seus pecados, arranham a própria imagem. Fãs precisam aprender que a genialidade dos craques dentro das quatro linhas pode e deve ser reproduzida na medida do possível. O comportamento irresponsável fora das quatro linhas, não. Ronaldinho Gaúcho não é o primeiro nem será o último protagonista de escândalo. Cristiano Ronaldo e Lionel Messi tiveram os nomes expostos mundialmente em problemas com o fisco da Espanha. A transferência de Neymar do Santos para o Barcelona, em 2013, continua sob investigação.
Que exemplos de humanidade como a generosidade de Gabigol com os colombianos sirvam de exemplo para velhos e novos ídolos. Que o episódio lamentável causador de mais arranhões à imagem de Ronaldinho Gaúcho sirva de (mau) exemplo do que não se pode nem deve fazer. Juízo, Gabigol. Juízo, quase quarentão Ronaldinho Gaúcho. Seu aniversário vem aí no próximo dia 21.
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