Como a escassez no Fortaleza e a fartura no Flamengo ensinaram Ceni a domar o São Paulo

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O valente empate do São Paulo por 3 x 3 com o Internacional, no Beira-Rio, pela penúltima rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro, reforça a tese de que, se não é, Rogério Ceni tem tudo para ser um dos técnicos mais promissores do futebol brasileiro.

Destaco uma das virtudes do ex-goleiro: a capacidade de se virar na escassez ou na fartura. De trabalhar com o que tem e entregar resultados possíveis e até mesmo inimagináveis, como a controversa (por parte da arbitragem) classificação diante do Palmeiras nas oitavas de final da Copa do Brasil ou o jogo duro de hoje diante do Colorado. O tricolor volta com um ponto precioso na bagagem, mas poderiam ser três. Sem exagero.

Rogério Ceni fez muito com tão pouco no Fortaleza. O suficiente com o muito que tinha no Flamengo para conquistar quatro taças pelo time rubro-negro — Brasileiro, Guanabara, Supercopa do Brasil e Carioca. As experiências na escassez e na fartura dos dois elencos ensinaram o treinador a olhar para os problemas do dia a dia do São Paulo com o equilíbrio demandado pela situação.

O técnico não teve os titulares Calleri, Léo, Jandrei, Miranda, Arboleda e Patrick. Mesmo assim, soube fazer um bom cozido com os ingredientes disponíveis e ofereceu um cardápio indigesto para o Internacional. Não é fácil ficar três vezes atrás no placar, no Beira-Rio, com um time mutilado, buscar o empate por três vezes e sair da casa do rival com um ponto.

É bem verdade que Mano Menezes colaborou com seu velho vício de fazer um gol e oferecer a bola numa bandeja ao adversário. O erro do técnico do Internacional é menosprezar a capacidade dos times de Rogério Ceni de saber o que fazer com a pelota. As equipes costumam tratá-la com carinho e sabem muito  o que fazer com ela. Seus comandados entram em campo sabendo exatamente o que fazer.

O comportamento de Mano é decepcionante se levarmos em conta a revolução que ele propôs ao futebol brasileiro no início da década passada. Quando assumiu a Seleção Brasileira no lugar de dunga depois da Copa do Mundo da África do Sul,, ele chegou a levá-la para um período de treinos na Cidade Desportiva — o complexo de treinamento do Barcelona.

O plano era respirar os ares da revolução liderada por Pep Guardiola, que havia assumido o time na temporada 2008/2009 com novos conceitos. A partir do tiki-taka, arrematou todos os títulos possíveis e influenciou a Espanha na conquista da Copa. Mano deixou aquilo tudo para trás depois de ser demitido injustamente pelos ex-presidentes da CBF Marco Polo Del Nero e José Maria Mari. Frustrado, voltou a ser Mano até no bi do Cruzeiro na Copa do Brasil. Um time organizado, defensivo, pragmático e muito competitivo. Beleza não era mais  fundamental. O Internacional trilha o mesmo caminho.

Criativo, Rogério Ceni sabe como tirar proveito das manias dos colegas. Configurou o São Paulo no nada convencional 3-1-4–2, com Rafinha na função de zagueiro pela direita, posicionou Nikão ao lado de Luciano no ataque e tirou da zona de conforto o que Mano costuma ter de melhor — a defesa. Sacadas como essa lembra o que ele fez, por exemplo, ao recuar Willian Arão para a defesa e escolher Diego como substituto de Gerson na campanha do título brasileiro do Flamengo em 2020. Aposta em soluções no próprio elenco e arrisca. As falhas do jovem goleiro tricolor Thiago Couto e do zagueiro Beraldo ameaçaram estragar o planejamento, mas no fim a estratégia deu certo e o São Paulo conseguiu sobreviver.

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Marcos Paulo Lima

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