Como a conquista de espaço na Seleção mudou o comportamento de Gabigol no Flamengo

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Gabriel Barbosa — e profissional nenhum — deve ser agredido com copo de cerveja ou outro objeto no local de trabalho e lugar algum. Muito menos a família dele, a sua ou a minha, como fizeram com dona LIndalva, mãe do jogador, depois da eliminação da Copa do Brasil na quinta-feira contra o Athletico. “Seu filho vai conhecer o inferno”, ameaçaram. O respeito ao próximo é um dos princípios inegociáveis nas relações interpessoais. Gostar ou não do Gabigol são outros quinhentos. Para mim, o autor de 97 gols com a camisa rubro-negra, alguns deles em decisões de título, está corretíssimo ao se defender e condenar os atos da madrugada de sexta-feira, no Rio de Janeiro.

Dito isso, quero chamar a atenção para outras questões a respeito de Gabigol. Estas em campo. O ídolo do Flamengo nunca esteve tão perto de disputar a Copa do Mundo. Ele não deve ser convocado nesta sexta-feira por opção do Tite. O técnico não chamará jogadores em atividade no Brasil para as partidas contra Colômbia e Argentina, em novembro. Mas Gabigol faz parte do grupo. Disputa vaga entre os titulares com o xará Gabriel Jesus.

A conquista de espaço na Seleção mudou o comportamento de Gabigol no Flamengo. Ele anda paz e amor. Faz parte do marketing pessoal para evitar desgastes e ir à Copa. O camisa 9 não balança a rede com a camisa rubro-negra há oito partidas, mas não reclama do posicionamento em campo. Renato Gaúcho deixa o autor de 97 gols pelo Flamengo distante da área. Ele tem sido muito mais arco do que flecha. Atua aberto na direita, mas compensa dando passes quase sempre decisivos para o parceiro Bruno Henrique. Faz bem a ele passar a imagem de jogador de grupo, que se doa em nome do espírito coletivo.

Gabigol também não reclama ao ser substituído. Deixou o jogo em três dos últimos quatro jogos do Flamengo sem dar chilique. Era comum reclamar com Domenec Torrent, Rogério Ceni e no início da Era Renato Gaúcho. O atual treinador, inclusive, o chamou de “chatão” depois  do primeiro piti. Amenizou dizendo que o atacante deseja jogar sempre.

Louvável a atitude dele ao atrair os holofotes depois da derrota por 3 x 0 para o Athletico e falar em nome do grupo na saída do gramado depois da eliminação da Copa do Brasil. Mas, para mim, também faz parte do marketing pessoal de Gabigol na disputa por vaga entre os 23 convocados para a Copa do Catar. Não basta parecer líder equilibrado. Tem que provar.

Ao assumir a responsabilidade, Gabriel Barbosa agiu como se esperava de Neymar depois da queda do Brasil contra a Bélgica nas quartas de final da Copa do Mundo. Em vez de se omitir, mostrou-se equilibrado ao analisar a derrota. “Não fomos felizes. Perdemos um jogo dentro de casa por 3 x 0. Realmente é decepcionante. Mas esse grupo já mostrou várias vezes que sabe dar a volta por cima, sabe se levantar. É ter calma. Pensar direitinho. Este grupo já mostrou que sabe dar a volta por cima. E a torcida, ao meu ver, tem que apoiar e nos ajudar. Com todo mundo junto podemos seguir rumo de títulos”, discursou.

Preocupa, apenas, a incorporação do discurso “renatista” às palavras de Gabigol. O técnico disse depois da derrota por 3 x 1 para o arquirrival Fluminense: “Quem tudo quer, nada tem”. Acenou que seria impossível conquistar os títulos da Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores. Inconscientemente (ou conscientemente), Gabigol replicou Renato com outras palavras: “É complicado, é difícil, entendemos a revolta da torcida. Esse time aqui já foi campeão de muitas coisas. Temos que saber perder e saber ganhar. Claro que no Flamengo queremos vencer, vencer e vencer. E já mostramos isso”, afirmou.

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Marcos Paulo Lima

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