Voo vespertino de domingo para Porto Alegre. Um torcedor do Grêmio está inquieto na poltrona. Debate com companheira ao lado se paga ou não R$ 15 pelo pacote básico de Wi-Fi oferecido pela empresa aérea. Ansioso, deseja acompanhar o Gre-Nal 414. Entretanto, vence o impulso e decide esperar a aterrisagem.
Minutos depois de o avião tocar o solo do Aeroporto Internacional Salgado Filho, todos tomam um susto com um grito solitário e corajoso: “Gol, gol, gol”, vibra sozinho, como se estivesse na sala de casa, com o tento de Jael. Em tempos de intolerância, procuro logo pela porta de emergência — a única rota de escape no caso de revolta de algum colorado. Menos mal. O surto de fanatismo foi respeitado e a viagem acabou bem.
A caminhada até a esteira numero 3 para a entrega das bagagens é em clima de Grenal. À espera do embarque sabe Deus pra onde, gremistas uniformizados assistem ao clássico hipnotizados. Formam uma “avalanche” em volta da tevê com o pescoção esticado para cima. Arrisco dizer que alguns deles pode ter perdido o voo tamanha a satisfação com o placar que, até aquele momento, apontava 2 x 0 para o tricolor, e transformara a sala de embarque em uma extensão da Arena do Grêmio, localizada ali pertinho.
Eu sei, isso é Gre-Nal. Mas ouso dizer também que essa confiança, ansiedade, o prazer de ver e de saber logo o resultado do Grêmio tem a influência de Renato Gaúcho. A goleada por 3 x 0 sobre o Inter abre caminho para o maior ídolo da história do clube se gabar, em 9 de abril, de ter quebrado mais um tabu, desta vez no Estadual.
O Grêmio não conquistava um título nacional desde 2001. Renato Gaúcho chegou e brindou o clube com o penta da Copa do Brasil em 2016. O Grêmio amargava jejum na Libertadores desde 1995. A abstinência acabou em novembro do ano passado com o tri diante do Lanús, na Argentina. O time não faturava a Recopa desde 1996. Superou o Independiente.
O Grêmio não fatura o Campeonato Gaúcho desde 2010, ou seja, nesta década, não ganhou nenhum. Silas era o comandante naquele título. De 2911 em diante, o Inter levantou o troféu seis vezes e o Novo Hamburgo uma, no ano passado. Se administrar a vantagem e sair classificado do Beira Rio neste meio de semana, o Grêmio, que chegou a ser ameaçado de cair para a segunda divisão do Estadual, se transformará no favoritaço ao título de 2018.
E aí, haja paciência para aguentar o nada marrento Renato Gaúcho pedindo estátua, decretando feriado em Porto Alegre, dizendo que foi melhor do que Cristiano Ronaldo, mandando o Arthur levar na mudança para Barcelona um DVD dele para mostrar ao Messi… Afinal, Renato Gaúcho pode tudo. Que fase! De 2016 para cá, não para de colecionar títulos. Tem a chance de fechar o ciclo com as conquistas do Estadual e, quem sabe, do Brasileirão. O jejum não só do Grêmio, mas do Rio Grande do Sul na Série A, vem desde 1996. Renato Gaúcho resgatou o prazer, o orgulho de torcer pelo clube dentro do avião, na sala de embarque do aeroporto, no estádio, na frente da tevê, do celular, ao pé do rádio… Resumindo: como diz a letra de Lupicínio Rodrigues: “com o Grêmio onde o Grêmio estiver”.
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