Brasil faz as pazes com o drible e usa espírito olímpico para domar a valentia da Argentina

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Como diria Nelson Rodrigues, “o empate é o pior resultado do mundo. O torcedor sente-se roubado no dinheiro da entrada e inclinado a chamar os 22 jogadores, o juiz e os bandeirinhas de vigaristas. Ele acrescenta: “De todos os empates, o mais exasperante é o de 0 x 0”. Justamente o placar do clássico desta terça entre Argentina e Brasil.

O empate sem gols no Estádio Bicentenário, em San Juan, ao menos teve diversão e arte por parte do lado verde-amarelo da força. Ponto para Tite. O técnico da Seleção foi ousado ao escalar um ataque olímpico na casa do maior rival. Lucas Paquetá, Vinicius Junior, Raphinha e Matheus Cunha poderiam ter formado o quarteto ofensivo de André Jardine neste ano nos Jogos de Tóquio. Todos tinham idade para disputar o torneio de futebol no Japão, mas somente Matheus Cunha foi liberado pelo ex-clube dele à época, o Hertha Berlim.

Vinicius Junior e Raphinha conduziram o Brasil a fazer as pazes com um velho recurso artístico do futebol: o drible. A arrancada de Raphinha pela direita antes de levar a cotovelada canalha do zagueiro Otamendi já valia o ingresso. A lambreta de Vinicius Junior na etapa final depois de tomar uma bola entre as canetas de Di Maria merecia ter mexido no placar do Bicentenário.

Corajoso, Tite deu ótimo passo na formação do grupo que irá ao Catar. O perfil conservador dele certamente pediu para escalar desde o início Philippe Coutinho e Gabriel Jesus, ambos experientes na missão de encarar clássicos contra a Argentina. Os dois ficaram no banco e o treinador apostou em dar rodagem aos jovens Eder Militão, Vinicius Junior, Raphinha, Lucas Paquetá, Antony e Matheus Cunha em um ambiente hostil, praticamente de Libertadores.

Os meninos passaram no teste não somente na bola, mas também no campo de batalha da mente. A Argentina tentou intimidar Vinicius Junior no início da partida ao empurrá-lo praticamente na placa de publicidade. Depois, Otamendi incorporou o valentão. Agrediu Raphinha e sequer tomou cartão amarelo. Nem o VAR foi chamado para auxiliar no lance. Em vez de responder com pontapés ou dedo em riste na cara, o Brasil recorreu ao talento.

Foi bom ver o comportamento do meio de campo do Brasil sem o suspenso Casemiro. Fabinho e Fred deram conta de Lionel Messi. O volante do Manchester United quase fez um gol ao acertar o travessão. Lucas Paquetá comandou o meio de campo enquanto teve fôlego.

Alguns pontos incomodam, mas são compreensíveis levando-se em conta o que propõe Tite. Os laterais Danilo e Alex Sandro apoiam pouco. Praticamente só sobem na boa, Talvez, o estilo defensivo da dupla faça falta no apoio aos pontas. Vinicius Junior, Raphinha e Antony sentiram falta da passagem dos laterais em alguns trechos da partida.

O ataque olímpico escalado por Tite também expôs defeitos de fábrica e crise de ansiedade. Vinicius Junior faz temporada extraordinária na Europa com a camisa do Real Madrid, mas precisa aprimorar a finalização. Falhou em dois lances nos quais a bola deveria ter beijado a rede. No primeiro tentou uma cavadinha. No outro, perdeu tempo ao ajeitar a bola na perna canhota para a direita. Raphinha poderia ter soltado a bola depois do drible na ponta direita, mas preferiu carrega-la um pouco mais para dentro da área e foi desarmado. Em outro lance, chutou de muito longe, quando poderia ter evoluído um pouco mais em direção ao gol. Faltou experiência em alguns lances a Lucas Paquetá e a Matheus Cunha também.

Senti falta, ainda, de pulso firme, liderança, malícia quando a temperatura do jogo subiu. Faltou o capitão Marquinhos ser um pouco mais enérgico no lance da cotovelada de Otamendi em Raphinha. Dar um pique em direção ao árbitro e cobrá-lo, no mínimo, a ida ao VAR. Otamendi, o juiz e os auxiliares ficaram na zona de conforto sem a pressão da Seleção.

No fim das contas, o empate ficou de bom tamanho para os dois lados. O Brasil, de Tite, lidera com folga e jogou classificado com seis rodadas de antecedência para a Copa. Beneficiada pela vitória do Equador, a Argentina carimbou presença no Mundial. É a 13ª a fazer check-in no Catar. Além de Brasil, Argentina e do anfitrião Catar estão garantidos: Alemanha, Dinamarca, Bélgica, França, Croácia, Espanha, Sérvia, Inglaterra, Suíça e Holanda.

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Marcos Paulo Lima

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