As vitórias pírricas do Flamengo e o drama do exército do general Tite

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O momento de Tite no Flamengo na temporada lembra o do Rei Pirro, cujo exército derrotou os romanos nas batalhas de Heráclito e de Ásculo nos anos 279 e 280 a.C, mas sofreu perdas irreparáveis na chamada Guerra Pírrica. Em um registro do historiador Plutarco, o rei Pirro teria desabafado no privado com o grupo dos homens de confiança: “Mais uma vitória dessa e eu estarei arruinado”. Sabe-se lá se Tite não afirmou o mesmo entre quatro paredes aos auxiliares Matheus Bachi, Cléber Xavier e César Sampaio depois da dramática vitória por 2 x 0 contra o Bolívar no primeiro jogo das oitavas de final da Libertadores. Abriu vantagem, porém perdeu Pedro e Gabriel Barbosa no mesmo jogo. Um em cada tempo.

O saldo das três batalhas do Flamengo contra o Palmeiras, duas pelas oitavas de final da Copa do Brasil e uma no Brasileirão, e do início do mata-mata contra o Bolívar, é devastador para o exército rubro-negro. Éverton Cebolinha e Matias Viña passaram por cirurgia. O ano acabou para ambos. Artilheiro do país na temporada com 29 gols e 8 assistências, Pedro saiu lesionado contra o Bolívar. Gabriel Barbosa, o maior goleador do Brasil na história da Libertadores e protagonista do bi e do tri do clube em 2019 e em 2022, entrou no lugar do Pedro, também se machucou e deixou o time com 10 no fim da partida, no Maracanã.

Resultado: o Flamengo está no limite para dois jogos dificílimos em um espaço de sete dias. O primeiro contra o líder Botafogo no gramado sintético do estádio Nilton Santos. Na sequência, a partida de volta diante do Bolívar, em La Paz, a 3.600m de altitude.

Em tese, o Flamengo tem somente um centroavante disponível: Carlinhos. Há dois pontas, o direito Luiz Araújo e o esquerdo Bruno Henrique. Ele não jogou contra o Bolívar porque cumpriu suspensão. Havia sido expulso na última rodada da fase de grupos.  Se Wesley não for vendido nos próximos dias para a Atalanta da Itália, restam dois laterais direitos, ou seja, ele e Varela, e o canhoto Ayrton Lucas. Recomenda-se buscar o Carbone na base. Tite usou o menino na pré-temporada contra o Philadelphia Union, nos Estados Unidos.

Há quem torça o nariz para o trabalho de Tite. Vale refrescar a memória. Na era Landim, o Adenor é o primeiro técnico a assumir o time no início da temporada e chegar ao mês de agosto no cargo. Detalhe: com três possibilidades de título e o Carioca conquistado no primeiro semestre. Jorge Jesus, Rogério Ceni e Dorival Júnior deixaram troféus no museu rubro-negro, sim, mas pegaram o bonde andando e fizeram correções de rota em um espaço curto de tempo para devolver o Flamengo aos trilhos.

A lição para Tite e todos os treinadores em situação semelhante à dele no futebol brasileiro é dura, mas objetiva: por mais que as comissões técnicas se esforcem para preservar a saúde física, clínica e mental dos jogadores, é impossível ter o controle de tudo no calendário insano da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Nem o torcedor mais pessimista previa chegar aos duelos contra Botafogo e Bolívar, neste domingo e na próxima quinta-feira, sem Everton Cebolinha, Viña, Pedro e Gabriel Barbosa.

Para não colocar o dedo na ferida sem apontar soluções, eu sugiro as escalações para os dois jogos em sete dias. Tite poderia mandar a campo contra o Botafogo pelo Campeonato Brasileiro a seguinte formação: Matheus Cunha; Wesley, David Luiz, Léo Ortiz e Carbone; Igor Jesus e Evertton Araújo; Matheus Gonçalves, Victor Hugo e Lorran; Carlinhos.

É necessário dar um passo atrás para escalar a melhor formação possível diante do Bolívar na altitude de La Paz na quinta-feira: Rossi; Varela, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Ayrton Lucas; Pulgar, De la Cruz, Gerson e Arrascaeta; Luiz Araújo e Bruno Henrique.

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Marcos Paulo Lima

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