Há dois anos, contratar o badalado Jorge Sampaoli — anunciado nesta quinta-feira como novo técnico do Santos — era missão impossível. Em 2015, o argentino chegou a ser promessa de campanha do candidato Walim Vasconcellos na batalha por votos contra Eduardo Bandeira de Mello na eleição presidencial do Flamengo. O treinador havia acabado de levar o Chile ao título inédito da Copa América. Estava supervalorizado, mas Wallim jura que havia pré-acordo. O treinador confirmou durante a Copa da Rússia.
Dois anos depois, Jorge Sampaoli continua na moda em um mercado brasileiro que continua encantado com o que ele fez na Universidad de Chile e na seleção do Chile, porém, incapaz de fazer o contraponto, observar com lupa os números do treinador nos últimos dois trabalhos, ou seja, no Sevilla, da Espanha, e na Argentina, de Lionel Messi.
O dono da prancheta do Santos comandou o Sevilla em 53 jogos, com 27 vitórias, 12 empates e 14 derrotas. O aproveitamento dele na temporada foi de apenas 58,49%*. O quarto lugar no Campeonato Espanhol, atrás apenas de Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid, foi um tanto enganoso em relação ao desempenho geral do clube. Perdeu as finais da Supercopa da Uefa e da Espanha, foi eliminado nas oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa pelo Leicester City e da Copa do Rei, na mesma fase, pelo Real Madrid.
Talvez, o empresário de Jorge Sampaoli tenha enviado aos dirigentes do Santos um (DVD) com os melhores momentos do cliente no Sevilla. Exemplo: aquela vitória sobre o Real Madrid no Campeonato Espanhol, encerrando 40 jogos de invencibilidade da trupe de Zidane.
Aproveitamento cada vez pior*
Universidad de Chile: 68,93%
Chile: 69,05%
Sevilla: 58,49%
Argentina: 55,56%
Será que os cartolas não viram o que Jorge Sampaoli fez com a Argentina nas Eliminatórias para a Copa e, logo em seguida, no Mundial da Rússia? Se não fosse aquela exibição de gala de Lionel Messi contra o Equador, lá em Quito, a seleção teria encarado a repescagem ou assistido ao Mundial do sofá. A Argentina sofreu para avançar em segundo lugar com uma vitória no apagar das luzes diante da Nigéria, em São Petersburgo. Levou baile da França nas oitavas de final e voltou para casa desempregado. Aproveitamento pífio de 55,56%*.
Apesar disso tudo, o Santos topou a missão de ressuscitar Jorge Sampaoli. Lá na Rússia, o argentino não perdeu a oportunidade de fazer o marketing pessoal ao falar do futebol brasileiro. “O Flamengo tentou me contratar quatro vezes. O Corinthians duas. O São Paulo me deu um contrato em branco, mas estava no Chile”, esnobou Sampaoli.
“O Flamengo tentou me contratar quatro vezes. O Corinthians duas. O São Paulo me deu um contrato em branco, mas estava no Chile”
Jorge Sampaoli, durante a Copa da Rússia
Aos 58 anos, Jorge Sampaoli vive de dois bons trabalhos. Na Universidad de Chile, foi bicampeão do Torneio Apertura e do Clausura em 2011, e do Apertura em 2012. Em 2011, faturou a Copa Sul-Americana. Em 2015, a Copa América, à frente da seleção do Chile. Orgulha-se de ser o responsável pelos últimos dois títulos do futebol chileno.
Como quem vive de passado é museu, espero que os cartolas do Santos tenham avaliado com rigor o presente do badalado técnico antes do acerto. Prefiro continuar acreditando que os dirigente daqui querem mesmo é grife. Duvido muito que conheçam o aproveitamento de no máximo 50% nos últimos dois empregos. Mas é Natal, tempo de abrir presentes…
*Errata: Este post foi corrigido. Os números publicados antes da atualização referiam-se ao aproveitamento de vitórias de Jorge Sampaoli, que foi de 61,02% na Universidade de Chile, de 62,79% na seleção do Chile, de 50,94% do Sevilla e de 46,67% da Argentina. Grato ao atento leitor no Twitter @Maurosvs.
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