A falta que faz o ingrediente “Zico” na receita do chef Tite para o clássico contra a Argentina

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Tite é um devoto da Seleção da Copa de 1982. Daqueles de usar vídeos das exibições de Leandro, Júnior, Falcão, Sócrates, Toninho Cerezo, Zico, Éder e companhia em preleção. Por isso, perguntei a ele neste sábado qual jogador daquele timaço pediria emprestado ao Telê Santana para reforçar o Brasil na partida deste domingo contra a Argentina, às 16h, na Neo Química Arena, casa do Corinthians, pela sexta rodada das Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022. Tite tentou driblar a pergunta, mas respondeu o óbvio ululante que eu gostaria de ouvir para falar sobre a aflição do treinador por um articulador: “Zico, pronto. Zico 1, Zico 2, Zico 3”, elegeu.

A resposta é simbólica. Tite tem insistido nesta rodada tripla nas Eliminatórias no discurso de que busca um articulador. O jogador que ele chamou no início de 2018 de ritmista. A figura capaz de servir Neymar e companhia no ataque. Lá se vão três anos e o “Zico” do Tite não aparece. Zico entre aspas porque jogador como o Galinho só existiu o próprio. É único.

Tite gostaria de ter, por exemplo, o croata Modric, que ganhou o voto dele na eleição do melhor jogador do mundo em 2018. O belga De Bruyne é outro nome admirado por Tite. “Gosto do De Bruyne, e não é pouco”, disse em dezembro do ano passado ao votar no Fifa The Best. Há carência na Seleção por um uruguaio como Arrascaeta ou um argentino do naipe de  Nacho Fernández. O Brasil ainda forma, sim, esse tipo de jogador, mas a safra mais frustra, decepciona, fracassa, do que ajuda.

Podemos citar alguns nomes que poderiam ter assumido esse papel de articulador: Paulo Henrique Ganso, Oscar, Lucas Lima e Gustavo Scarpa, por exemplo. Renato Augusto era essa figura no início do trabalho. Ele certamente insistirá com Philippe Coutinho quando ele voltar a jogar bola no Barcelona. Tite está inquieto. Descreveu mais de uma vez o perfil que procura.

“Hoje, nosso processo é de construção, processo criativo para finalização. o processo de construção, de links com Everton Ribeiro, com Neymar, com (Philippe) Coutinho, com Claudinho, com ajustes do meio para frente para chegar em Neymar, em Gabigol, Richarlison, Gabriel Jesus. Está sendo nesse ponto a atenção maior”, explicou na entrevista coletiva.

O treinador tentou transformar Neymar em “enganche”, como dizem os argentinos, mas ao apostar nisso na final da Copa América perdeu poder de fogo no ataque justamente porque Neymar não nasceu para ser “Zico”, tomar conta do meio de campo e marcar muitos gols. O dom dele é para driblar, encarar um contra um e finalizar, fazer gol.

Tite se comparou na entrevista a um chef de cozinha, um confeiteiro. Deu a entender que é fã de um dos programas preferidos da minha filha Isabela, o Bake Off Brasil, popular Mão na Massa. “Às vezes, assisto programa de gastronomia e acho que é uma analogia boa. Primeiro, você faz a parte do bolo, depois o recheio, daí progride para parte do glacê e vai construindo. É um pouco assim que se faz futebol. Gostaria que esse processo fosse apressado, mas precisa do processo todo, de desenvolvimento para atingir a plenitude. Da criação, do gol, da consistência defensiva, da vitória, da beleza que é a cereja do bolo. Que é o pontinho final”.

O ingrediente em falta na receita do chef Tite rumo à Copa do Mundo do Qatar-2022 é justamente o articulador. O “Zico” que ele pediria emprestado ao Telê Santana para o clássico de hoje contra a Argentina. Se não há cereja, Tite pode ser criativo e improvisar durante o duelo com a Argentina. Daniel Alves fez papel de articular recentemente no São Paulo. O volante Gerson, também, no Flamengo.

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Marcos Paulo Lima

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