“A Caixa é o banco dos pobres, o foco é outro”, afirma o presidente da estatal descartando a retomada do patrocínio aos times de futebol

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Se havia alguma expectativa por parte dos times de que a Caixa Econômica Federal repensasse a extinção do Programa de Apoio ao Futebol Brasileiro para ajudá-los a amenizar os prejuízos financeiros causados pela pandemia do novo coronavírus, a esperança acabou. De passagem pelo Correio Braziliense nesta sexta-feira para entrevista ao CB.Poder na TV Brasília, o presidente do banco estatal descartou a possibilidade.

Na semana passada, houve rumor na capital de que a visita de Flamengo e Vasco ao presidente Jair Bolsonaro tinha relação com um possível pedido de ajuda financeira em meio ao caos. O Rubro-Negro perdeu dois patrocinadores — BS2 (máster) e Azeite Royal (meiões). O Gigante da Colina amarga crise sem precedentes.

Questionado pelo blog ao término do programa CB.Poder se o governo cogitou a possibilidade de retomar o patrocínio máster nas camisas dos principais clubes do país, Pedro Guimarães foi taxativo. “Não pensamos nunca. A Caixa é o banco dos pobres, o foco é outro”, respondeu, endossando o que o chefe dele, o ministro da Economia Paulo Guedes, havia defendido ao tomar posse em 2019. “Às vezes, é possível fazer coisas 100 vezes melhores com menos recursos do que gastar com publicidade em times de futebol”, argumentou Guedes. O apoio a modalidades olímpicas, paralímpicas e o Bolsa Atleta continuam na gestão Bolsonaro.

Pedro Guimarães vive outra realidade. O economista trocou banco privado por público. Antes de aceitar o convite de Guedes e desembarcar no atual governo para assumir a Caixa, a posição dele era de investidor. Indiretamente, uma instituição privada da qual ele fazia parte ajudou a equilibrar as finanças de clubes de ponta.

Pedro Guimarães era sócio-diretor do Brasil Plural. O banco privado chegou a emprestar dinheiro ao Flamengo e ao Fluminense. Ao extinguir o Programa de Apoio ao Futebol Brasileiro lançado no governo de Dilma Rousseff, e mantido na gestão de Michel Temer, Guimarães viveu o outro lado da moeda. Cumpriu ordens de Bolsonaro e Guedes e determinou corte de R$ 25 milhões no orçamento rubro-negro. Esse era o valor do contrato com o clube carioca. Ele chegou a justificar à época: “A Caixa patrocinava vários times de futebol, como o Flamengo. O Flamengo não precisa da Caixa. Quem precisa da Caixa? As populações carentes e as que têm algum tipo de deficiência”. Mesmo sem a verba do banco estatal, o Flamengo empilhou títulos: Campeonato Carioca, Brasileirão, Libertadores, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana, e foi vice no Mundial de Clubes da Fifa contra o Liverpool.

Quando vestiu a faixa presidencial, Bolsonaro anunciou que revisaria o investimento em publicidade e patrocínio da Caixa. “Tomamos conhecimento de que a Caixa gastou cerca de R$ 2,5 bilhões em publicidade e patrocínio neste último ano. Um absurdo!”, escreveu no Twitter, em 13 de dezembro de 2018, durante a transição, em resposta a um relatório do Tribunal de Contas da União publicado no fim de novembro daquele ano.

O texto do TCU apontava “irregular prorrogação de contratos de patrocínio”. Acrescentava que os acordos “não se constituem em serviço de natureza contínua”. Dos 20 clubes da primeira divisão em 2019, 12 eram turbinados pela verba da Caixa: Atlético-MG, Athletico-PR, Avaí, Bahia, Botafogo, Ceará, Cruzeiro, CSA, Flamengo, Fortaleza, Goiás e Santos. Todos perderam o aporte financeiro.

Curiosamente, Pedro Guimarães aprovou num passado recente o repasse de dinheiro do Brasil Plural para as contas da dupla Fla-Flu. O banco privado até ofereceu projetos de parceria. Na gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello, o Conselho de Administração do Flamengo aprovou ao menos dois empréstimos ao Plural. Na época, o vice-presidente de finanças rubro-negro, Cláudio Pracownik, ajudou a fazer o meio de campo. O dirigente do clube carioca também era sócio minoritário e diretor da instituição financeira.

Em reconstrução financeira à época, o Flamengo turbinou as contas ao receber R$ 3 milhões em 2015; e mais R$ 10 milhões em 2016. A receita equilibrou o orçamento do clube. O primeiro depósito foi aplicado no pagamento dos salários e encargos do departamento de futebol. O segundo ajudou a reforçar o elenco no início da temporada 2017 — ano em que o técnico Muricy Ramalho assumiu a prancheta rubro-negra.

Cláudio Pracownik chegou a explicar publicamente a movimentação financeira. “Não sou dono do banco, sou minoritário aqui, tenho 2% das ações. Buscamos outras opções no mercado, mas os outros bancos teriam que analisar o balanço do Flamengo, ia demorar muito para sair o pagamento. A taxa de colocação dos outros bancos geraria de 2% a 2,5%. Conversei com outros sócios da Brasil Plural, e a maioria deles é de rubro-negros, nos reunimos com o comitê de crédito e conseguimos o aval. Em vez de cobrar 2,5% de taxa de colocação, conseguimos que o Brasil Plural cobre 0,5%, uma operação abaixo do valor de mercado. Conseguimos também que o juros do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ficasse em 150%. No mercado, queriam 175%. O Flamengo só vai pagar 150% de CDI se não pré-pagar antes”, explicou Pracownik, em 2016, ao portal globoesporte.com.

Fundado em 2009, o Brasil Plural também emprestou dinheiro e ofereceu parcerias ao Fluminense e ao Grêmio. Em 2017, apresentou o conceito original de um fundo de investimento ultraconservador administrado pela instituição financeira. A ideia era que os tricolores se engajassem na aplicação, que teria um percentual direcionado ao clube carioca. A ideia também foi apresentada ao Flamengo e ao Grêmio.

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Marcos Paulo Lima

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