É evidente a pressa de Rogério Ceni para fazer o Flamengo voltar ao velho normal de 2019. Há um porém. A cabeça do técnico manda, mas o corpo dos jogadores — a maioria fora de forma — não obedece. O novo técnico rubro-negro guia um carro com pneus descalibrados. Há desequilíbrio, risco de acidentes. Diego Alves, Filipe Luís, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa estão aquém da capacidade física, ou seja, 5 dos 11 titulares. Metade do time que empatou por 1 x 1 com o Racing, em Avellaneda, na partida de ida das oitavas da Libertadores.
Por mais que Rogério Ceni tenha boa vontade e até humildade para mandar o software da era Domènec Torrent para a lixeira e reinstalar o aplicativo de Jorge Jesus, ou seja, o modelo vencedor do treinador português e não a dele, Rogério Ceni, a reconfiguração técnica e tática é sujeita a bug. Deu pau duas vezes contra o São Paulo na eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil, travou contra o Atlético-GO, funcionou na vitória contra o Coritiba e voltou a passar por momentos de instabilidade no duelo com o Racing.
O time argentino apostou na insegurança da defesa rubro-negra. Disparado, o setor mais inseguro do atual campeão da Libertadores. Para mim, houve falha coletiva no lance do gol do Racing. Filipe Luís, Léo Pereira, Thuler, Renê, Diego Alves… Para variar, deu apagão no sistema. O time sofreu gol pelo oitavo jogo consecutivo. Só não foi vazado em três das últimas 20 partidas. Detalhe: o Racing marcou outras duas vezes, mas o árbitro invalidou os lances.
Para sorte do aflito Rogério Ceni, a memória do time vai voltando aos poucos. O lance do gol de empate tem, sim, um pouco da era Jorge Jesus. A arrancada de Bruno Henrique, a cabeça erguida, o passe na medida e a explosão de Gabriel Barbosa dentro da área para balançar a rede fora de casa. Arrascaeta também fez um gol, mas o árbitro considerou irregular.
Não foi a noite dos sonhos do Flamengo, mas poderia ter sido dos pesadelos quando o zagueiro Thuler foi corretamente expulso. Naquele momento, deu pane geral no sistema rubro-negro. Rogério Ceni não conseguiu salvar nada do que havia planejado e teve de reinventar o time para suportar a pressão final do Racing. Conseguiu. No entanto, sofreu mais do que o esperado.
Escrevi uma vez aqui no blog que o Flamengo fazia o adversário sofrer no ano passado. Neste ano, está aprendendo a sofrer. Não gosto dessa expressão. Longe disso. Futebol não é masoquismo. Porém, o atual campeão brasileiro e sul-americano não para de aprender lições sobre resiliência. Apesar das chuvas, trovoadas, campo pesado, erros coletivos, individuais, expulsão e futebol aquém do que é capaz, o Flamengo saiu vivo de Avellaneda.
Avançará às quartas de final se não sofrer gol na próxima terça-feira, no Maracanã. É aí que mora o problema. Há desafio maior para uma defesa rubro-negra traumatizada do que não sofrer gol? Eis o desafio do ex-goleiro Rogério Ceni nos próximos sete dias livres para trabalhar tática, técnica e a forma física descalibrada do excelente elenco do Flamengo.
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