Financiadores dos atos golpistas são próximos alvos da PF

Publicado em coluna Brasília-DF

Por Denise Rothenburg — Depois da operação que teve o ex-presidente Jair Bolsonaro e militares de alta patente como alvos, o próximo grupo a ser detalhado no organograma da tentativa de golpe de Estado é o núcleo dos grandes financiadores. Até aqui, vieram a público apenas os pequenos. Nas 135 páginas da decisão do ministro Alexandre de Moraes aparece apenas o pedido de dinheiro feito pelo major Rafael Martins a Mauro Cid. O ex-auxiliar de Bolsonaro não diz, nessa conversa, de onde viria o dinheiro. Mas a Polícia Federal está mapeando e chamará novamente o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e outros investigados para falar sobre isso e sobre a parte secreta de reuniões que ele acompanhou.

Em tempo: embora novas operações da PF dificilmente ocorram nestes dias de carnaval, é certo que vem muito mais por aí.

Conta aí, vai

Com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, preso — e ele não é mais réu primário —, a expectativa dos investigadores é que ele conte o que sabe. Nos tempos do Mensalão, não funcionou. Ele recebeu um indulto, em 2016, do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso.

Muito além de Ramagem

No meio político, crescem as preocupações sobre o futuro dos deputados mais ligados ao bolsonarismo. Até aqui, poucos apareceram nas investigações e não foram muitos os que defenderam o capitão publicamente. O grupo vai trabalhar para sobreviver politicamente.

Lula e Lira

As últimas operações da Polícia Federal sobre Bolsonaro e seus aliados ajudaram na construção para chegar à trégua entre o presidente Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No PT e no Centrão há quem diga que não é hora de criar mais confusão na política. Já chega a que promete tomar conta do Congresso, na volta do feriado.

A “dica” de Anderson Torres

O vídeo da reunião de 5 de julho de 2022 mostra que a tentativa de evitar eleições já havia sido objeto de outros encontros mais restritos, sem a maioria dos ministros presentes. Se havia outros enfronhados na tentativa de golpe, nessas reuniões menores serão chamados a prestar esclarecimentos.

Oito meses/ Esse foi o período entre a operação Tempus Veritatis desta semana e aquela que prendeu Mauro Cid e apreendeu o computador em que estava o que ficou amplamente conhecido nestes dias como o “vídeo do golpe”. Desta vez, com muito mais material apreendido, a análise também deve demorar.

Meu querido diário/ A Polícia Federal (PF) tem “ouro em pó” em mãos. O diário que o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno (foto) é apontado por seus amigos como algo “bastante revelador”.

Carnaval da política/ O governo já pediu aos seus ministros e assessores que não tripudiem sobre a operação da Polícia Federal e mantenham a postura republicana do direito de defesa. Porém, depois de 2018, quando os bolsonaristas tomaram as ruas com bonecos de Lula vestido de presidiário — os “pixulecos” —, aliados de Lula não veem a hora de colocar nas ruas o “golpicho” — o nome ainda não está definido —, um boneco de Jair Bolsonaro com o
mesmo uniforme.

 

Jurista Vera Lúcia diz que nome dela para o STF é “mera especulação”

Publicado em coluna Brasília-DF

Por Luana Patriolino – A jurista Vera Lúcia Araújo, advogada negra que já integrou uma lista tríplice para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negou que esteja sendo cotada para a próxima cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), em outubro. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, defendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicasse uma mulher negra para ocupar a vaga aberta pelo ministro aposentado Ricardo Lewandowski, mas Cristiano Zanin foi o escolhido. O nome de Vera Lúcia surgiu novamente como alternativa à saída de Rosa Weber, mas ela nega. “É mera especulação. Nunca houve [procura] por parte de qualquer pessoa, por parte dos representantes da República. Naturalmente, fico muito honrada de as pessoas me nominarem. Mas, também, nunca houve nenhum movimento meu em direção a isso”, disse à coluna.

Negra latino-americana e caribenha

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, convidou jornalistas negras de todo país para um café da manhã, hoje, em Brasília, em celebração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data é comemorada em todo 25 de julho e foi instituída pela Lei 12.987, de 2014, com o intuito de dar visibilidade às mulheres negras em suas áreas de atuação. Além de destacar a importância delas para a construção da sociedade e de incentivar políticas públicas.

Mutirão carcerário

A presidente do STF, ministra Rosa Weber, participou, ontem (foto), de ações em um mutirão carcerário, em Cuiabá (MT). A visita abre a campanha de ressocialização que será realizada em cinco capitais, com previsão de que sejam revisados mais de 100 mil processos entre este mês e agosto. O evento também contou com a presença do governador do estado, Mauro Mendes (União Brasil), e da desembargadora Clarice Claudino da Silva, presidente do TJMT. “Os mutirões constituem, sem dúvida, uma das primeiras e mais emblemáticas políticas judiciais no país, em 2008. O Judiciário cobrava-se uma melhor execução dos processos penais e lança luz sobre o drama dos presídios”, destacou a ministra.

Lira defende reforma tributária

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), defendeu a reforma tributária, ontem, no discurso que fez no evento da Lide, em São Paulo. “Estamos saudando uma dívida histórica que tínhamos com todo brasileiro”, enfatizou. O seminário reuniu 400 empresários. Segundo o parlamentar, o texto apresentado é progressivo, capaz de diminuir a desigualdade social e inserir uma carga menor na cesta de consumo da população carente.

… e administrativa

Lira também aproveitou o encontro para reforçar seu desejo de dar andamento no projeto de reforma administrativa, que, conforme destacou, está pronto para ser debatido na Câmara.

Protesto/ A deputada federal Fernanda Melchionna (PSol-RS) e o MST reuniram 800 pessoas em Porto Alegre, no sábado, em um ato em defesa das seis deputadas ameaçadas de cassação na Câmara dos Deputados. As parlamentares são alvo de representações no Conselho de Ética por suspeita de quebra de decoro durante a aprovação do projeto do marco temporal de terras indígenas, no fim de maio. O PL, autor de todas as ações, alega que as congressistas gritaram ao microfone para os favoráveis ao texto. Políticos e figuras públicas de diversos partidos de esquerda estiveram presentes, além de sindicalistas, intelectuais e artistas.

Barroso em mais um evento/ O ministro do STF Luís Roberto Barroso estará em um seminário sobre fake news. O evento ocorrerá no auditório do Edifício Íon, em 17 de agosto, em Brasília. A aparição ocorre um mês após a participação dele no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) — em que foi duramente criticado por dizer “nós derrotamos o bolsonarismo”. Com a polêmica, o magistrado justificou que se referiu ao voto popular ao falar da questão e negou qualquer atuação política.

Prêmio do Judiciário/ A consultoria Judiciário Exponencial (J.Ex.) abriu, ontem, as inscrições para o Prêmio de Inovação Judiciário Exponencial — que tem como objetivo reconhecer e incentivar as iniciativas e projetos inovadores no âmbito tecnológico, de gestão e de novas metodologias aplicadas no Ecossistema de Justiça. Os interessados devem se cadastrar até 31 deste mês, pelo site http://jexlegal.com.br/premioinovacao/. A cerimônia de premiação está marcada para 21 de novembro, no Dúnia City Hall, no Lago Sul, em Brasília, e vai receber membros do Poder Judiciário.

Anielle na Colômbia/ A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, viajou, ontem, à Colômbia para uma série de agendas no país, a convite da vice-presidente Francia Márquez, que também é ministra da Igualdade e da Equidade. Um dos principais compromissos é a assinatura de um memorando de entendimento entre os países, com foco na promoção da igualdade racial e desenvolvimento social e do econômico.

Fumaça/ Frequentado por apreciadores de charuto, o Esch Café 3, no Rio de Janeiro, foi o ponto de encontro de três integrantes do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em meio a clássicos habanos, conversavam o ministro Luís Felipe Salomão, corregedor da Justiça Federal e cotado para o Supremo, e os colegas Antonio Saldanha e Marco Aurélio Bellizze. Todos cariocas.

Colaborou Denise Rothenburg

Reajuste do Judiciário vai virar dor de cabeça

Publicado em coluna Brasília-DF

O reajuste salarial de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e servidores dos Judiciário vai virar uma dor de cabeça para os demais Poderes. Executivo e Legislativo não têm hoje orçamento para promover grandes reajustes salariais. No caso dos deputados, as apostas são as de que, depois das eleições, as excelências voltarão a Brasília prontas para votar o próprio reajuste salarial, a vigorar na próxima Legislatura, conforme a legislação em vigor.

Com tantas pressões por reajustes e tanto efeito cascata e, ainda, o pagamento dos auxílios, o governo, seja quem for o presidente eleito, será pressionado a ampliar os limites de recursos dos demais Poderes na hora de votar o Orçamento do ano que vem. Vale lembrar que as associações de classe do Judiciário haviam pedido um percentual maior para correção dos salários, mas o STF não aceitou por causa dos limites orçamentários. A solicitação dos magistrados indica que, para o próximo ano, a mobilização por aumento de limites orçamentários será forte.

Que sirva de exemplo

Depois de dois dias, o Exército decidiu defender o coronel Ricardo Sant’Anna, aquele expulso da comissão especial de transparência eleitoral. Embora os generais discordem da ideia de um coronel da ativa se expor nas redes sociais, a maioria deles concluiu que não seria possível aceitar que o TSE soltasse uma nota tão dura sem sequer telefonar aos militares para tratar do caso. A nota do Exército é para deixar registrado que não gostou da forma como um dos seus foi tratado e sem qualquer comunicação aos generais.

Geraldo, o curinga
Os petistas consideravam que o ex-governador Geraldo Alckmin seria crucial para auxiliar na conquista de eleitores no interior de São Paulo. Porém, desde que ele entrou no PSB e se juntou às fileiras de Lula, mais tarefas lhe são entregues. Até aqui, os aliados de Geraldo já listaram a igreja, o empresariado, o agro e por aí vai.

Nem Geraldo resolve
A contar pelo discurso do presidente da Confederação Nacional de Agricultura, João Martins, no Encontro do Agro, vai ser difícil. Ele disse, com todas as letras, que “não há espaço para uma equipe corrupta e incompetente”. Nem o “retorno de um candidato processado e preso como ladrão”, mencionou.

Discretíssima
Não contem com gestos bruscos e espalhafatosos da presidente eleita do STF, ministra Rosa Weber. Mas isso não significa que será um mandato cor-de-rosa. A fala pausada e calma servirá para discursos firmes e enfáticos em defesa da democracia, se for necessário, ao longo do processo eleitoral.

CURTIDAS

Xandão, o relator/Os aliados do presidente Jair Bolsonaro ficaram estarrecidos ao ver que será Alexandre de Moraes o relator do pedido de registro da candidatura à reeleição. “com tantos ministros, tinha que sair logo o Xandão?”, comentou um amigo de Bolsonaro.

O discurso de Lyvia I/ O lançamento do Caixa para Elas, em São Paulo, com a presença do presidente Jair Bolsonaro e da primeira-dama Michelle, foi marcado por um depoimento emocionante e duro sobre a realidade nua e crua do abuso sexual infantil no Brasil. Lyvia Montezano, esposa de Gustavo Montezano, foi ao palco e alertou para o problema, que o país desconhece o tamanho.

O discurso de Lyvia II/ Lyvia foi vítima de abuso aos 5 anos. Ela hoje é uma ativista em defesa das crianças. “Os dados são alarmantes. Hoje, 60% das vítimas de estupro no Brasil são menores de 13 anos. Estima-se que apenas 10% dos casos são notificados”. Lyvia contou que, em viagem ao Amazonas, num abrigo, conheceu uma criança de 12 anos, que brincava com a própria filha de 3 anos. “Foi abusada por tantos que não sabia quem era o pai”, contou.

O discurso de Lyvia III/ Numa das laterais do palco, a presidente da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques, e a modelo Ana Hickmann mal contiveram as lágrimas, assim como boa parte da plateia de autoridades. “O relato que fiz aqui não é uma história de superação, nem de entretenimento. É um apelo para que este tema seja tratado com a gravidade com que merece. Grandes líderes, pensem no que podem fazer. Se a gente não começar hoje, vai ser quando? Se não formos nós, quem será?”, perguntou Lyvia.

Após condenação, Fraga articula votação do projeto de abuso de autoridade

Abuso de autoridade
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Coluna Brasília-DF / Por Denise Rothenburg

Ministério Público e juízes que se preparem. Parlamentares que foram alvo de condenações e pedidos de abertura de inquérito e indiciamentos ao longo do processo eleitoral voltaram do pleito dispostos a trabalhar para aprovação do projeto de abuso de autoridade ainda este ano. “Eu pedi ao Rodrigo (Maia) que coloque o assunto em pauta”, disse à coluna o deputado Alberto Fraga (DEM-DF).

Fraga sabe do que está falando. A menos de duas semanas do primeiro turno, a Justiça do Distrito Federal condenou o então candidato a governador a quatro anos de prisão em regime semiaberto por prática de crime de concussão — exigência de vantagem indevida em razão do cargo.

De acordo com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), ele exigiu e recebeu R$ 350 mil em propina para assinar contratos entre o GDF e uma cooperativa de micro-ônibus em 2008, quando era secretário de Transportes do governo Arruda. Tucanos, petistas e emedebistas também se viram às voltas com processos no período eleitoral. Se eles se juntarem, aprovam fácil.

DEM, o primeiro a chegar

Antes mesmo de o eleitor ir às urnas escolher o próximo presidente da República, o DEM já aportou com mala e cuia na porta de Jair Bolsonaro, oferecendo a chamada governabilidade em troca da sobrevivência.  Em 1993, quando comprou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso como quem adquire um apartamento  “na planta”, o então PFL ofereceu os votos para aprovar o Plano Real. Agora, sem tantos votos assim, oferece o verniz de um presidente da Câmara afeito ao diálogo, Rodrigo Maia.

Melhor pegar

Bolsonaro já foi avisado de que, diante do climão entre o candidato e os ministros do Supremo Tribunal Federal depois das declarações de Eduardo Bolsonaro, o melhor é o PSL apoiar Rodrigo Maia para presidente da Câmara e não criar marola nestes primeiros dois anos. Assim, ganha algum lastro maior no Parlamento enquanto busca fazer pontes com o Judiciário.

Questão de tempo

A nova pesquisa Ibope na cidade de São Paulo, onde Fernando Haddad apareceu com 51% e Jair Bolsonaro, com 49%, deixou os aliados do petista com a impressão de que, se houvesse mais tempo de campanha, seria possível repetir a dose no interior, onde Bolsonaro lidera com folga.

Questão de engajamento

Bolsonaro sentiu o peso da capital paulista. Por isso, cobrou via redes sociais que os deputados do PSL trabalhem por ele, e não por Márcio França ou João Doria. E ainda lembrou que a maioria deles não se elegeria sozinho e só conseguiu o mandato graças ao capitão.

Enquanto isso, na Lapa…/ A grande presença de artistas no “Ato da Virada” promovido pela campanha de Fernando Haddad terminou por reunir mais gente do que o próprio PT esperava. Quem esteve no ato paulistano assegurou que a mobilização no Rio foi muito maior. Ali, a escritora Elisa Lucinda pediu aos presentes que fossem votar no domingo carregando um livro.

… Haddad virou candidato/ Quem acompanha diariamente os discursos do Fernando Haddad saiu com a certeza de que, ali, ele vestiu a camisa de candidato a presidente da República. A mudança se deu depois do discurso de Bolsonaro no domingo, em que o candidato do PSL disse que Haddad seria preso ou exilado.

O contraponto/ O ponto alto do discurso do petista na Lapa foi dizer que, se vencer, não quer ver Bolsonaro “preso, nem exilado”. “Quero que ele viva com saúde para ver o jovem negro na universidade, para ver as mulheres emancipadas, donas de seus destinos, os índios com terras demarcadas, os nordestinos progredindo com água, comida, trabalho e educação. Ele não aprendeu nada em 30 anos, quero que viva pelo menos mais 30 para aprender.!”

A volta de Barbieri/ Derrotado para o Senado em São Paulo, Marcelo Barbieri (foto) foi nomeado assessor especial no Planalto. Ele já está escalado para trabalhar na transição para o futuro governo, a partir de segunda-feira.