Reformistas, mas não privativistas

Publicado em coluna Brasília-DF

A primeira maratona de sabatinas num único dia com 11 pré-candidatos a presidente ontem na sede do Correio Braziliense deixa claro que a agenda de reformas será intensa em 2019, independentemente de quem for o vencedor. Não tem um que dispense reformar a Previdência ou os impostos no país. Porém, a quatro meses do pleito e com a campanha oficialmente começando em 16 de agosto, são poucos os que têm uma ideia clara do que desejam fazer. Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas, diz que tem propostas, mas não detalha. Geraldo Alckmin, por sua vez, exibe o que foi feito em São Paulo, em termos de Previdência complementar e idade mínima para apresentar o que pretende ampliar para o Brasil.

Quanto às privatizações, o único que se mostra dispostos a entrar fundo nesse seara é o pré-candidato do PSC, Paulo Rabello de Castro. Geraldo Alckmin anuncia desde já que não irá privatizar Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e nem tampouco a Petrobras. Agora, a empresa do trem-bala que se prepare: está na lista de todos para entrar em liquidação em breve.

Bolsonaro foi ao general I
O deputado Jair Bolsonaro (PSL) se reuniu com o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, na tarde de terça-feira. O encontro foi pedido pelo deputado Onyx Lorenzoni, amigo de Villas Bôas, que chegou ao QG do Exército para uma conversa agendada há mais de uma semana, sem o ex-capitão. Ao receber um aceno positivo de Villas Bôas para uma conversa com o pré-candidato a presidente, Lorenzoni ligou imediatamente para Bolsonaro: “Vou aí agora!”, respondeu o pré-candidato, ávido por apoio da cúpula militar.

Bolsonaro foi ao general II
O encontro previsto para durar 20 minutos chegou a duas horas e meia. Das 16h às 18h30. Bolsonaro conversou com outros integrantes do alto comando. O “papo” incluiu ainda o general Heleno, da reserva. “Foi uma reunião amigável, de troca de sugestões, impressões, sobre o momento do país, sobre geopolítica. Foi um movimento importante para o Jair”, contou Onyx à coluna

General vai a todos
Coincidência ou não, na noite de terça-feira, depois dessa conversa do deputado com o alto comando no QG, o site do Ministério da Defesa soltou uma nota dizendo que o comando do Exército vai se reunir com todos os pré-candidatos, a fim de apresentar sugestões a programas de governo. Oficialmente, o Exército não tinha se pronunciado sobre o encontro entre Villas Bôas (foto) e Bolsonaro.

O anti-Bolsonaro
O ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes, pré-candidato do PDT, foi o único dos participantes que atacou diretamente o líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro. “Nós, democratas, temos que extirpar esse câncer enquanto ainda pode ser extirpado. Nunca administrou nem um boteco dos pequenos”, disse Ciro.

Quem sofre, não esquece
Flávio Rocha, do PRB, também chegou com bastante antecedência, mas a assessoria do pré-candidato Guilherme Afif Domingos (PSD) não se incomodou que Rocha ficasse no auditório, assistindo. Ao final, Afif comentou com a coluna: “O Flávio estava comigo (na campanha presidencial de 1989). Abandonou a minha campanha para apoiar o (Fernando) Collor”.

Quem apanha, também não
Reza a lei não-escrita da política que se deve preservar potenciais aliados para um segundo turno. Porém, quem acompanhou todas as sabatinas do Correio pôde perceber que isso não vale para a maioria. “Essa história de fake news não foi invenção do Trump. Dilma e João Santana (foto) que criaram esse mecanismo abominável”, afirma a pré-candidata da Rede, Marina Silva, dispensando conversas com a ex-adversária de 2014 e, por tabela, com o PT.

Tem para todos
Aliás, se tem um pré-candidato que não poupa sopapos nos adversários já nessa fase preliminar é Ciro. Ao falar sobre a autonomia do Banco Central, eis que, de repente, ele se sai com esta em relação ao ex-ministro Maílson da Nóbrega: “Ele deixou o país com uma inflação de 84% ao mês e virou consultor. Não é consultor. É traficante de informação privilegiada”.

No rol dos vices
Paulo Rabello de Castro (PSC), Flávio Rocha (PRB) e Guilherme Afif Domingos, por enquanto, rejeitam uma vaga de vice. Os três disseram que, até aqui, não tem essa de desistir para apoiar esse ou aquele. O mais convicto da candidatura entre os três era Flávio Rocha.

De Meirelles, nem pensar
Se tem algo que é praticamente consenso entre os pré-candidatos a presidente da República é o desejo de guardar uma distância regulamentar do MDB. Todos criticaram o governo do presidente Michel Temer, até Paulo Rabello de Castro, do PSC, ex-presidente do BNDES. Logo, Henrique Meirelles terá que buscar um vice dentro do próprio partido. Ou buscar algum partido inexpressivo. Como há 35 agremiações no país e outras saindo do forno, não será tão difícil encontrar um partideco que lhe dê um vice.

Espartano/ O senador Álvaro Dias (Podemos -PR) foi o único que não levou um grupo de parlamentares. Tampouco se mostra disposto a ser vice. Aliás, ele já avisou ao Podemos que vai até outubro como candidato.

De galera/ Quem mais tinha deputados em volta era Geraldo Alckmin, do PSDB, o último sabatinado, dos 11 ouvidos pelo Correio Braziliense/ Sindifisco. Foram seis deputados e o senador Antonio Anastasia (foto), pré-candidato ao governo de Minas Gerais.

Quem não tem tempo de TV… /… Se diverte com tudo. O garçom que subiu ao palco com uma bandeja contendo taças cheias de suco de pêssego, tropeçou em pleno palco, perto da pré-candidata Manuela D’Ávila. Ela, cheia de charme, brincou: “Opa! Imagina se eu tomo banho de suco aqui, o que não ia dar de memes na internet?! Acabamos de perder conteúdo virtual!”.

Aqui, não!/ Jair Bolsonaro está numa fase de tentar deixar de lado tudo o que se diz contra ele, inclusive a pecha de que está evitando debates. Ontem, chegou com mais de uma hora de antecedência, e a organização teve que arrumar uma sala para acomodá-lo, uma vez que a área vip destinada aos pré-candidatos estava ocupada pelo ex-ministro Henrique Meirelles, que seria sabatinado antes do deputado do PSL. Uma assessora de Meirelles ficou para lá de preocupada: “Ele não vem para cá, né?”

E o PT, hein?/ Nos escaninhos petistas começa a haver uma certa preocupação com as dificuldades de o partido apresentar sua pré-campanha nessas rodadas de conversas e entrevistas, como a promovida ontem pelo Correio em parceria com o Sindifisco. Já tem gente reclamando que, com o pré-candidato preso, o PT está perdendo terreno para os demais.