A paralela do impeachment

Publicado em coluna Brasília-DF

Enquanto o PMDB e os partidos tradicionais se preparam para a batalha do impeachment, a Rede, da ex-senadora Marina Silva, vai tentar trazer à baila uma proposta de antecipação das eleições de 2018. A primeira conversa da Rede se deu com o deputado Chico Alencar, do PSol. A ideia em curso é propor uma emenda constitucional para que se faça o recall do mandato da presidente Dilma Rousseff. Se ela for rejeitada pela população — e hoje tudo indica que será —, o país teria nova eleição em 90 dias. Diante da contaminação da linha sucessória, em especial, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha; e o do Senado, Renan Calheiros, a Rede considera que quem vier a assumir o poder no lugar de Dilma Rousseff tem que ter a chancela das urnas. Falta combinar com o PMDB, o maior partido da Casa; o PSDB; o DEM e quem mais chegar.

Cunha no comando
As indicações dos deputados Rogério Rosso (PSD-DF) para presidir a comissão especial do impeachment e de Jovair Arantes (PTB-GO) para relatar foram obra do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O fato de o governo não ter reclamado é sinal de que os aliados de Dilma estão com poder de fogo reduzido na Casa.

Fui…!
As ausências do vice-presidente Michel Temer e do presidente do Senado, Renan Calheiros, à posse dos ministros dissiparam as esperanças de quem considerava possível atrair uma parcela maior do PMDB contra o impeachment. Ficou cristalino que o vice e seus aliados já estão no aquecimento para assumir o poder.

E vou mudar!
Michel Temer tem maturado nos últimos dias que um futuro governo sob seu comando não poderá ser de continuidade, ou seja, terá de renovar propostas e projetos para tentar aglutinar apoios. “Se chegar propondo só a volta da CPMF não atrairá ninguém”, diz um experiente político da oposição.

Agora lascou
Os diálogos de Lula com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) foram considerados pelos próprios petistas como um tiro no pé. “Se Lula queria alguma tábua de salvação ali, perdeu”, comentavam os conhecedores do humor dos ministros da Suprema Corte.

Enquanto isso, no Planalto…
A presidente garante em discurso: “A gritaria dos golpistas não vai me tirar do rumo e colocar nosso povo de joelhos”. Mas, internamente, ministros avaliam que as manifestações de 16 de março e as de ontem foram bem mais preocupantes do que as de domingo, porque foram espontâneas. Estão todos inseguros.

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O jeitão dele…/ O semblante do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (foto), mudou. Há tempos, ele não se mostrava tão feliz, desfilando com uma gravata verde-bandeira. Acredita que, enquanto o impeachment estiver em cena, poderá tratar de se segurar no cargo.

…Não nega/ A aposta dos aliados de Cunha é de que depois do impeachment vem a eleição municipal, e a Câmara ficará esvaziada. Assim, creem os amigos do presidente da Câmara, ele terminará seu mandato no comando da Casa.

Juiz & justiceiro/ Por mais apoios que Sérgio Moro agregue hoje, há uma sensação entre os políticos das mais diversas matizes que o juiz ultrapassou um limite ao expor o diálogo entre Dilma e lula, captado quando a ordem da escuta estava revogada. O estrago político, entretanto, está feito. Só resta ao governo reclamar às instituições competentes.

E o Mauro Lopes, hein?/ Adalclever Lopes, filho do novo ministro da Aviação Civil, não foi à posse ontem no Planalto. Dos ministros do PMDB presentes, o do Turismo, Henrique Eduardo Alves, fez questão de ficar “à paisana”, no meio dos convidados, sem ocupar um dos lugares de destaque. Senadores do PMDB faltaram. Um deles comentava ontem reservadamente que não queria fotos ao lado de Lula.