O jogo da decisão: Dilma ou Michel Temer?

Publicado em Análise da semana

Os times do impeachment, o futuro de Eduardo Cunha e os movimentos do PMDB

A política continuará fervendo a partir desta segunda-feira, quando serão escolhidos os integrantes da comissão especial que analisará o pedido de abertura processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. No dia seguinte, o Conselho de Ética da Câmara deve finalmente votar o parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) que determina a continuidade do processo por quebra de decoro contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha.

Cunha na berlinda, dividindo o palco do desgaste com Dilma

A tendência é o Conselho de Ética aprovar o parecer de Pinato contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha e deflagrar a investigação. Paralelamente, seguirá a batalha na comissão especial do impeachment, onde haverá uma guerra para escolha do presidente e do relator da comissão formada por 65 deputados. Tanto o presidente quanto o relator da comissão do impeachment devem ser escolhidos ainda esta semana.

E o PMDB tem a força…

A contar pela posição tomada pelos partidos, Dilma estará nas mãos do PMDB. O partido do vice-presidente da Republica já deflagrou a operação de desembarque do governo, com a saída do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, do PMDB do Rio Grande do Sul, ligado ao vice-presidente Michel Temer _ não foi à toa que Dilma passou os últimos dias cobrando juras de fidelidade de seu companheiro de chapa. Ela sabe o que representa a saída do ex-deputado gaúcho do governo.

Padilha tem um livro onde ao longo de vários meses anotou o comportamento de cada deputado e mapeou os cargos e benesses que cada um já recebeu do governo. Agora, esse conhecimento estará a serviço do impeachment, que já tem o apoio formal do PPS, PSDB, DEM e SDD. (leia mais sobre PMDB abaixo)

… E o apoio do PSDB
A entrevista de José Serra hoje na Folha de S. Paulo é um claro sinal de que ele está com os dois pés no projeto para colocar Michel Temer. E para Serra ter colocado seu chapéu ali, significa que já existe um acordo de que o peemedebista não concorrerá à reeleição. Há menos de um mês, Serra recusava todos os pedidos de entrevista alegando que não era hora de se pronunciar. Agora, para bons entendedores, ele saiu da toca.

A rede da Legalidade

Para se contrapor a essa onda da oposição, os partidos aliados com um viés de esquerda lançaram no fim de semana a Rede da Legalidade, numa alusão ao grupo que, em 1961, se mobilizou pela posse do presidente João Goulart. Ontem, no Maranhão, o governsdor Flávio Dino (PCdoB), reuniu-se com integrantes do PDT para selar o apoio à presidente Dilma. O ex-ministro Ciro Gomes atacou diretamente o vice Michel Temer, chamando-o de “capitão do golpe”.

O governo sabe que se esses partidos de centro (PP-PTB-PR e uma parcela do PMDB) estiver junto com a oposição em favor do impeachment, as chances de vitória da presidente Dilma Rousseff serão praticamente nulas. Daí, o fato de a presidente tentar manter o embate com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que, de acordo com a pesquisa Datafolha, está hoje em pir situação do que a presidente, uma vez que 81% querem sua saída da presidência da Casa.
Lula, os governadores e os movimentos sociais
O ex-presidente tentará ajudar a pupila colocando os movimentos sociais em manifestações em prol do mandato da presidente Dilma. Na mesma direção, atuará o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, do PMDB, tentando segurar seus correligionários ao lado da presidente da República. O pano de fundo dessa disputa é o controle do PMDB, hoje com os vários grupos em guerra, tentando arregimentar apoios para a convenção do partido no ano que vem. Os favoráveis ao impeachment, liderados pela Bahia. Os governistas, pelo Rio de Janeiro. Não por acaso a presidente já ofereeceu a Secretaria de Aviação Civil à bancada na Câmara comandada do Leonardo Picciani, abandonando assim a ideia de extinguir pastas que predominava em julho. Você deve se recordar, leitor, que essa pasta de Eliseu Padilha chegou a entrar na lista de cargos fadados à extinção e, depois, o governo voltou atrás.

STF e as tentativas de barrar o processo
Paralelamente, seguem as ações para tentar barrar o processo de impeachment. Até aqui, duas tentativas fracassaram. Outras virão.

Economia e recesso
Com o impeachment e o processo envolvendo Eduardo Cunha em pauta, fica cada vez mais difícil o governo conseguir colocar em votação as medidas pendentes. E pior: Se o Congresso for mesmo convocado para trabalhar no recesso, a ideia do grupo aliado ao presidente da Câmara é que ele coloque o impeachment como tema único para janeiro, deixando todo o resto no congelador até depois do carnaval. Os partidos, entretanto, vão defender que o processo contra Eduardo Cunha seja incluído, bem como as medidas do ajuste fiscal. Afinal, com tantos problemas e a crise a cada dia mais aguda não dá para a classe política simplesmente sair de férias. Aliás, como cantava Milton Nascimento, ficar de frente para o mar e de costas para o Brasil não vai fazer desse lugar um bom país.