Coluna Brasília-DF/Por Carlos Alexandre de Souza
Se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar, no domingo, o uso emergencial dos imunizantes produzidos pela Fiocruz e Butantan, o governo federal pretende iniciar a vacinação na próxima quarta-feira, com a distribuição de seis milhões de doses. Deixando de lado os preparativos, para fins de propaganda, da cerimônia no Planalto que simbolizará o começo da imunização, a data marca o passo mais aguardado pela nação no combate ao novo coronavírus. Ressalte-se, no entanto, que essa é tão somente uma frente da guerra. Há muitas outras batalhas em curso. O caminho para vencer o novo coronavírus é longo e tortuoso.
A vacina constitui uma solução importante para dar um refrigério à rede de atendimento da saúde. Permite, também, avançar no planejamento da retomada de atividades essenciais, como o retorno às aulas, a produção industrial e a prestação de serviços.
Mas, a imunização não significa, de forma alguma, o abrandamento de outras medidas absolutamente necessárias para conter a disseminação do novo coronavírus. Países como Canadá, Alemanha, Inglaterra e Portugal, muito mais adiantados do que o Brasil no processo de imunização, estão impondo medidas mais duras –– em algumas situações, lockdown –– para conter as ocorrências de mortes e de novos casos.
Não dá para relaxar
No Brasil, a simples perspectiva de uma vacinação provocou um relaxamento generalizado dos hábitos preventivos. Por uma série de razões, uma quantidade impressionante de brasileiros continua a menosprezar o risco da covid-19, em aglomerações absolutamente temerárias e irresponsáveis. Que fique claro: o país está com uma média assustadoramente alta de mortes, próxima da casa do milhar. E permanecerá assim por um bom tempo. Em diversas capitais, os sistemas de saúde estão próximos ou já ingressaram no colapso. E variantes do novo coronavírus, mais transmissíveis e já identificadas no Brasil, apresentam-se como ameaças adicionais. Não dá para relaxar, pois, com a chegada da vacina.
Proteção, sempre
Independentemente da velocidade do processo de vacinação previsto para começar na próxima semana, a obediência aos protocolos de segurança –– uso de máscara, distanciamento social e higienização –– precisará ser mantida como prioridade durante muitos meses.
Retrocesso
Pressionados pelo governo Bolsonaro e apesar de todas as evidências científicas em contrário, o governo do Amazonas e a Prefeitura de Porto Alegre decidiram adotar o chamado “tratamento precoce” para enfrentar o avanço da pandemia. As velhas hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, mundialmente conhecidas como inúteis para conter o vírus, passaram a ser oficialmente distribuídas na rede pública de atendimento.
É outra coisa
Má-fé, irresponsabilidade, curandeirismo, simpatia, wishful thinking. É possível chamar essas iniciativas de muitos nomes. Menos de ciência.
Incoerência
Por sinal, note-se a evidente contradição daqueles que defendem rigor extremo na aprovação da vacina, mas recomendam abertamente tratamentos alternativos sem qualquer comprovação médica a pacientes com covid.
Campos opostos
Próximos de encerrar a dobradinha demista no comando das duas casas do Congresso, Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia (foto) preparam-se para trilhar caminhos diametralmente opostos. Enquanto o senador pavimenta o desembarque no governo Bolsonaro, o deputado dedica-se a construir uma frente parlamentar que atue como contraponto à agenda do Planalto.
Tudo muda
É interessante observar que, caso se confirme a transferência de Alcolumbre para o Executivo, a relação do senador com o titular do Planalto mudará. Uma coisa é ser o presidente do Congresso e manter um diálogo institucional com o chefe do Executivo. Outra coisa é ter Bolsonaro como chefe. Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni têm segurado o tranco até aqui. Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro pediram o boné.
Bomba atômica
Em entrevista ao Correio, em março de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes disse que “impeachment é uma bomba atômica em termos institucionais”, referindo-se à gravíssima instabilidade que um processo de impedimento pode acarretar a um regime democrático.
Força ou fraqueza?
Com a retirada de Dilma Rousseff do poder, em 2016, muito se falou sobre a qualidade da democracia brasileira, que registrou dois processos de impeachment no intervalo de 25 anos. O que dizer, então, da maior democracia do mundo, onde o presidente teve o pedido de impeachment aprovado pela segunda vez no mesmo mandato? Seria sinal de vigor ou de tibieza dos regimes democráticos?