O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira, véspera do feriado e Semana Santa, foi quase um pedido de desculpas à população pela demora em reconhecer a gravidade da pandemia de Covid-19. Anos-luz distante daquela primeira fala, há 18 dias, em que o presidente chamou a doença de “gripezinha”. Hoje, de forma serena, Bolsonaro mencionou que a prioridade é salvar vidas, solidarizou-se com as famílias das vítimas, disse que tem a responsabilidade de decidir de forma ampla e sobre todos os temas _ como que justificando o fato de ter estimulado as pessoas a irem para as ruas e criticado os governadores. Aliás, hoje veio a frase “respeito governadores e prefeitos”. Ressaltou ainda o fato de a Organização Mundial de Saúde dar liberdade para que cada país adote medidas de acordo com as particularidades. E, mais uma vez, ressaltou que muitos têm que sair atrás do pão nosso de cada dia.
O capitão elencou ainda todas as medidas que o governo está tomando para tentar os efeitos da crise de Saude e econômica. Citou o ajuda de R$ 600 aos informais, o esforço para a produção de hidroxicloroquina, um medicamento que vem sendo usado para pacientes de Coivd-19 com bons resultados em vários casos. O remédio vem sendo defendido por Bolsonaro desde o início da crise como a grande salvação. A medicina, entretanto, ainda não tem um protocolo fechado para o melhor tratamento da doença.
Politicamente, o pronunciamento foi visto por muitos como um esforço de Bolsonaro para tentar recuperar a simpatia do eleitorado, que hoje aprova mais os governadores do que o presidente. O Datafolha desta quarta-feira, por exemplo, ouviu eleitores do Rio e de São Paulo e detectou que, no Rio, o governador Wilson Witzel tem ótimo e bom de 55% dos cariocas no trato da pandemia, enquanto Bolsonaro registra 34% de ótimo e bom. Apenas 17% consideram Witzel “ruim e péssimo”. Bolsonaro tem é considerado “ruim ou péssimo” por 39%. Em São Paulo, Dória tem a aprovação de 51% (ótimo e bom) e Bolsonaro, 28%. A avaliação “ruim e péssimo”, no caso de Dória, é de 19%, enquanto a de Bolsonaro chega a 43%.
Ao que tudo indica, Bolsonaro parece ter entendido que a crise de saúde é grave e sua atenção prioritária. E que, nesse momento, cabe ao estado fazer o papel de tentar amenizar os impactos econômicos __ e não estimular as pessoas a voltarem logo ao trabalho para não prejudicar a economia. Resta saber se o presidente manterá essa posição, ou voltará ao “modo confronto” do último Domingo, quando disse em live, na porta do Palácio da Alvorada, que ministros estavam “se achando” que iria “usar a caneta”. No momento, está no “modo equilíbrio”. Que Deus conserve.