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Declaração de Bolsonaro sobre presidente da OAB constrange delegados da PF

Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Calvacanti 

A vergonhosa e tosca declaração de Jair Bolsonaro sobre o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, é um incômodo duplo do capitão reformado. O primeiro com o próprio chefe da entidade de classe, vítima de uma série covarde de fake news divulgada por integrantes de tropas de bolsominions nas redes sociais há pelo menos dois anos.

Tal incômodo de Bolsonaro está relacionado com ações da OAB regional e nacional envolvendo declarações anteriores do político do PSL, como as que enaltecem o covarde torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Agora, vai se incomodar com mais uma: a própria interpelação de Santa Cruz promete levar ao Supremo Tribunal Federal (STF) por causa da entrevista desassisada de ontem do presidente brasileiro.

A segunda bronca de Bolsonaro é com a investigação da Polícia Federal envolvendo Adélio Bispo, autor do ataque à faca contra o então candidato ao Palácio do Planalto, em 2018. O presidente não se convenceu com as apurações, que apontaram que o criminoso agiu de maneira solitária, ao contrário do que tentam fazer acreditar as redes de bolsominions, que associam a facada a uma ação política mais ampla.

Não é a primeira vez que Bolsonaro faz tal cobrança, que se espalha entre os seguidores, deixando delegados numa situação para lá de constrangedora. No final de fevereiro, o capitão reformado cobrou que a corporação acelerasse a investigação sobre o “ato terrorista”. Na época, em mensagens privadas, policiais chegaram a dizer que o presidente perdeu a oportunidade de ficar calado.

Desconhecimento

Apesar de dizer que sabe qual foi o destino de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, pai de Felipe, Bolsonaro não tem qualquer informação. Mas, mesmo sem ter dados, pode ter que explicar no Supremo o que disse.

Moro e o silêncio

Há poucos silêncios tão ensurdecedores quanto o do ministro da Justiça, Sérgio Moro, com o episódio dos ataques de Bolsonaro à memória de um desaparecido político, inclusive pela forma como foi feita, ao tentar constranger o filho, que na época tinha 2 anos. E aqui não está em jogo uma defesa ou um ataque ao presidente — o ex-juiz não faria tal coisa —, mas qual é mesmo a opinião de Moro sobre a ditadura e as torturas. Seria bom saber também o que ele acha da investigação da PF sobre Adélio.

Curtidas

Um olho na segurança digital…/ A reforma tributária será a noiva da vez na Câmara, depois da aprovação em segundo turno da reforma da Previdência. Porém, como ainda não há consenso sobre “qual” matéria será prioritária, um outro texto deve ganhar status de prioridade: o Projeto de Lei nº 2.303/2015, que prevê a regulamentação das criptomoedas no Brasil na definição de “arranjos de pagamento”, sob a supervisão do Banco Central.

… com prioridade…/ A regulamentação das criptomoedas é um projeto pessoal do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Chegou a ser tratado como prioritário por ele enquanto a reforma da Previdência ainda tramitava na Comissão Especial. E, depois das informações de que ele também foi alvo de supostos hackers presos pela Polícia Federal, pessoas próximas dizem que a matéria ganhou ainda mais importância. Afinal, é comum os cibercriminosos serem remunerados ou fazerem transações por meio dessas moedas digitais.

de Estado…/ O projeto das criptomoedas será apreciado em uma comissão especial a partir do retorno das atividades parlamentares. O presidente do colegiado, Augustinho Ribeiro (SD-SE), tem sinal verde para acelerar o debate. “O momento é oportuno para debatermos o tema, com tudo o que acontece no país, tendo em vista que as moedas virtuais servem a criminosos, para que possam receber até pelo seu serviço”, sustenta.

… e outro olho na cybereconomia/ O interesse do Parlamento na matéria, no entanto, não se refere apenas à segurança. A regulamentação das bitcoins pode valorizar bastante quem investe nas moedas digitais. E, quando se trata disso, não se fala apenas de hackers. Investidores e até mesmo alguns parlamentares têm interesse pessoal.