Bolsonaro
Bolsonaro Crédito: Evaristo Sá/AFP Bolsonaro

Com texto disparado pelo WhatsApp, Bolsonaro se mostra acuado

Publicado em Política

O país não quer que Bolsonaro faça conchavos, quer que ele governe dedicando energia àquilo que interessa à maioria dos eleitores: emprego, renda, saúde, educação e segurança.

O texto compartilhado pelo presidente Jair Bolsonaro a amigos via WhatsApp, aquele que diz que o país é ingovernável sem conchavos, foi visto até por aliados como um sinal de que ele se sente cada vez mais acuado. Alguns arriscam a dizer que ele está até meio perdido sobre que decisões tomar e em quem confiar. A carta apócrifa, divulgada pelo Estadão, que publicou em seguida uma resposta do próprio Planalto, indica ainda que o presidente dá um xeque-mate muito cedo, uma vez que não colocou sequer o que representa a nova politica que prometeu empreender no país.

Diz a resposta que o presidente enviou à jornalista Tânia Monteiro, do Estadão, por intermédio do porta-voz:  “Venho colocando todo meu esforço para governar o Brasil. Infelizmente os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o País de volta ao trilho do futuro promissor. Que Deus nos ajude!”, afirmou o presidente.

Até aqui, a nova politica, na visão de muitos, parece ser algo do tipo: “Façam apenas o que eu quero”. Bolsonaro não foi feito sozinho, deputados, senadores, governadores e prefeitos também o foram. E é preciso estabelecer a base de diálogo com todos, o que até agora não foi feito. O presidente e sua equipe não são deuses, nem donos da verdade, precisam apresentar as bases de um diálogo. Imagine, caro leitor, um jogo de futebol do campeonato brasileiro, por exemplo. As regras do ano passado não valem mais, tá ok? Perfeito. Agora, quais são as novas regras? Como ninguém sabe, estão todos ali, esperando, uns se aquecem dentro do campo, tocando bola, outros dão cambalhotas, enquanto a maioria apenas observa, esperando o surgimento das novas regras. Ocorre, que, no jogo do poder, o relógio não está parado.

Sem saber o que essa nova politica representa, quais são as novas regras do jogo, tudo vai parando e os problemas aumentando. O Orçamento não tem recursos para investimentos, em breve faltará para pagar despesas correntes. O Congresso tem dificuldades em aprovar na íntegra as propostas que ele apresenta, como, aliás, nenhum presidente conseguiu até hoje, em especial, num tema como Previdência. E, para completar, o senador Flávio Bolsonaro, o 01, deve muitas explicações sobre compra e venda de imóveis e ex-funcionários ligados a milicianos.

Em relação ao Congresso, o presidente, nos últimos meses, manteve uma relação de idas e vindas com os parlamentares. Fixou primeiramente sua relação com as bancadas temáticas, deixando os líderes partidários fora do seu campo, jogando sozinhos. As conversas com o presidente da Câmara e do Senado só ocorreram em março, às véspera da viagem aos Estados Unidos. A conversa mais alentada se daria um mês depois. Porém, quando tudo parecia caminhar de forma mais cordial, o presidente, no Twitter, voltou a dizer que definiria exclusivamente o que faria em relação à Venezuela, o que levou Maia a responder com um alerta de declarações de guerra têm que obrigatoriamente passar pelo Parlamento.  Bolsonaro não gostou do puxão de orelhas.

Com os militares, a relação também não foi das melhores, por causa dos ataques diretos feitos por Olavo de Carvalho e pelo 02, Carlos Bolsonaro, incansável no papel de tratar até amigos e aliados do presidente como conspiradores. Derrubou Gustavo Bebianno da mesma forma que Olavo de Carvalho quase conseguiu derrubar o general Santos Cruz. Vale lembrar que, nesses episódios, Bolsonaro não foi incisivo na defesa de nenhum dos auxiliares, pedindo aos militares apenas que considerassem o episódio encerrado.

Nas últimas duas semanas, o presidente mais uma vez, em vez de se garrar no serviço de aprovar a reforma da Previdência e azeitar sua relação com o Parlamento, jogou energia num decreto de ampliação do porte de armas, texto de constitucionalidade duvidosa, e, na primeira manifestação contra seu governo, chama todos de idiotas, quando o erro primário partiu de um ministro da Educação, Abraham Weintraub, que declarara publicamente bloquear verbas de universidades que, na avaliação faziam balbúrdia. Muitos governos no passado recente, inclusive Dilma Rousseff, tiveram que bloquear recursos da Educação, mas nenhum anunciou isso como um “castigo” dado com gosto de vitória como fez Weintraub. Todos davam essa notícia com ares de velório.

Falta a Bolsonaro, dizem alguns de seus próprios aliados, energia positiva e leveza para governar, sem ver em todos “inimigos a serem abatidos”.  Não é colocando a culpa nos outros que seu governo ganhará altitude para voar em céu de brigadeiro. Ainda está tempo.