A primeira missão de Ciro Nogueira

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Que voto impresso, que nada. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse à coluna que estará, hoje, dedicado a levar ao Congresso a proposta do Auxílio Brasil, novo nome do Bolsa Família. “Vem muita coisa boa por aí, pode esperar”, garantiu. O projeto seguirá sem valores definidos. A ideia do governo é aprovar a proposta até novembro e decidir quanto será pago dentro do processo de discussão, conforme a realidade orçamentária do país.

O tema é visto como a pauta mais positiva desta temporada e vem sob encomenda para tirar de cena as tensões a respeito do voto impresso, um projeto ultrapassado e malconduzido. O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defende um sistema “mais transparente” de auditagem, mas não o voto impresso. Ou seja, a ideia é enterrar o assunto, abrindo a porta a estudos que possibilitem uma auditagem eletrônica, como existe hoje no sistema bancário. Porém, é preciso buscar um sistema que assegure o sigilo do voto.

Onde vai pegar

Com a posse de Ciro Nogueira na Casa Civil, a avaliação do governo é a de que a relação com o Congresso tende a melhorar. O problema é o Judiciário. O presidente Jair Bolsonaro tem “esticado a corda” e não tem no seu entorno alguém que faça uma ponte de forma precisa nos bastidores, como outros já tiveram. Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva tiveram, por exemplo, o ex-ministro Nelson Jobim, o ex-deputado Sigmaringa Seixas, já falecido, entre outros.

Um Torres não faz verão
O ministro da Justiça, Anderson Torres, embora habilidoso, não tem essa proximidade com os ministros da Suprema Corte ou do Tribunal Superior Eleitoral. Daí o encontro entre o comandante da Aeronáutica e o ministro Gilmar Mendes. A ideia é criar essa ponte o mais rápido possível. Afinal, com o presidente respondendo a inquérito no TSE, e ainda incluído na investigação das fake news, é visto como preocupante.

Assim não vai
Em conversas reservadas, deputados e senadores têm dito que Lula solto e Bolsonaro impedido de disputar as eleições por levantar suspeitas sobre a urna eletrônica, será mais lenha na fogueira da crise. Logo, quem quiser derrotar o atual presidente, que o faça na eleição. Ainda que seja para que ele fique reclamando, depois, que não tinha o voto impresso.

Senado colocará bola no chão
Com grandes resistências por parte dos governos estaduais e municipais, e parte do setor produtivo, a reforma do Imposto de Renda em tramitação na Câmara corre sério risco de emperrar no Senado. Lá, a prioridade é a Proposta de Emenda Constitucional 110, do ex-deputado Luiz Carlos Hauly.

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Rindo à toa/ Quem estava para lá de feliz na posse era o senador Flávio Bolsonaro (Republicano-RJ). “Só essa posse (lotada de parlamentares) é sinal de que a primeira missão, de ampliar o diálogo, Ciro já cumpriu. Ele é habilidoso e ajudará muito”, disse à coluna.

Enquanto isso, ao pé do ouvido…/ Um parlamentar resumiu assim a troca de comando da Casa Civil: até aqui, quem chegava para participar da festa, encontrava um pitbull na porta, que espantava todo mundo. Agora, colocaram alguém que atrai a turma para dentro do governo.

Projetos eleitorais/ Filiado ao PP, o secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Alexandre Baldy, fez questão de prestigiar a solenidade de posse de Ciro na Casa Civil. Os amigos que se aproximavam iam logo comentando: “Meu senador!” Baldy, de máscara o tempo todo, apenas sorria com os olhos.

Aliás…/ A maioria dos convidados usava máscara de proteção. Eram poucos os que desfilavam sem ela. Alguns até inovaram no acessório. Um visitante exibia uma máscara com a inscrição bordada “Bolsonaro 2022”.

Eduardo Bolsonaro vai pedir CPI das urnas eletrônicas

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Eduardo Bolsonaro
Crédito: Wilson Dias/Agência Brasil.

Além da campanha em favor do voto impresso, a família Bolsonaro surfa na notícia de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pediu à Policia Federal que investigasse invasão ao seu sistema dez dias depois das eleições de 2018 para pedir uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). “Estou preparando a peça para abrir a CPI das urnas eletrônicas com base nas graves denúncias embasadas no relatório da POLÍCIA FEDERAL em que através de documentos o próprio TSE admite que o sistema foi invadido pelo menos em 2018”, tuitou há pouco o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

A perspectiva da CPI sair é remota. Até porque as urnas são sistemas estanques, que não estão conectadas à internet, logo, dizem os técnicos, não estariam expostas a invasões. A maioria dos líderes partidários também não deseja abrir esta CPI agora, uma vez que seria mais uma frente de desgaste do clima politico, num momento em que é preciso acalmar os ânimos a fim de criar um clima favorável às reformas. Ou seja, numa primeira análise, os líderes consideram que Eduardo dificilmente terá sucesso na empreitada.

Braga Netto, sob pressão, vira missão para Ciro Nogueira

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Defender a Defesa passou a ser, desde ontem (3/8), uma das tarefas do novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. É que o ministro da Defesa, general Braga Netto, foi convocado pela Câmara dos Deputados para falar a respeito da posição em relação ao voto impresso versus eleições de 2022 e será, ainda, alvo de outros temas incômodos para os militares. Especialmente, as denúncias de espionagem feitas pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), de que militares do Exército teriam procurado seus amigos em Aracaju atrás de informações que pudessem ser usadas contra o parlamentar.

Braga Netto sabe que, desde o episódio das supostas ameaças às eleições, está sob pressão da área política. Ontem, chegou, inclusive, a telefonar para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para negar as acusações feitas por Rogério Carvalho e dizer que esse comportamento não faz parte da Defesa. Tudo para ver se consegue, por tabela, aplainar esse desgaste e reduzir as perspectivas de convocação na CPI da Pandemia, pedido feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), uma vez que Braga Netto, quando ministro da Casa Civil, coordenava o grupo do Palácio do Planalto encarregado da gestão da pandemia. Agora, caberá ao civil Ciro buscar resolver mais esse problema.

Investidores em fuga…

A terceira versão do relatório do deputado Celso Sabino (PSDB-PA) não agradou aos empresários. A análise preliminar da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) sobre a proposta foi direta: não atingirá a neutralidade arrecadatória nem incentivará a retomada do desenvolvimento e da geração de empregos.

… e muito preocupados
O principal problema é a indefinição de alíquota do imposto, vinculada à arrecadação futura. Do jeito que está, o setor produtivo acredita que terminará pagando mais imposto. Vai ser difícil fechar um texto que chegue a um consenso. Com a tributária empacada, resta a administrativa para tentar dar um sinal positivo de que a agenda de reformas não foi para o espaço.

Inclua-me fora dessa
O presidente da Câmara, Arthur Lira, já avisou ao Planalto que acredita na capacidade de recuperação do presidente Jair Bolsonaro e até na reeleição. Agora, como chefe de Poder, não vai brigar com o Judiciário por causa de ninguém. Ou Bolsonaro para com essa briga assim que o Congresso decidir sobre o voto impresso, ou perderá aliados.

Fulanizou, lascou
Ao dizer que sua briga não é com o Judiciário e, sim, com Luís Roberto Barroso, Jair Bolsonaro enterrou mais um pouquinho a PEC do voto impresso. Afinal, reduziu tudo a uma briga pessoal com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Como diria o eterno vice-presidente Marco Maciel, referência da capacidade de diálogo na política, a primeira frase que deve ser dita para resolver uma crise é: “Não vamos fulanizar”.

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Vê se me escuta, presidente/ O discurso que o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, promete para hoje, em sua posse, é um chamamento à conciliação e ao fim das brigas.

Uma prévia, dois pesos/ Os tucanos fazem a seguinte aposta em relação às prévias: se o governador João Doria vencer, será o candidato. Se for o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite tem jogo para o PSDB apresentar um vice.

O cabo eleitoral/ O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin é apontado como um dos principais entusiastas da candidatura de Eduardo Leite no ninho tucano. Antes da prévia de novembro, ele não deixará o partido.

Requião no PSB/ Depois de perder o controle do MDB paranaense, o ex-senador Roberto Requião conversa especialmente com o PSB. Ainda não fechou, mas é por aí que as conversas estão mais adiantadas.

Planalto pega receita para evitar processos de impeachment

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Ao nomear Carlos Henrique Sobral para número 2 da Secretaria de Governo, a ministra Flávia Arruda leva para dentro do Palácio do Planalto um dos poucos que acompanhou, de dentro, todos os processos de impeachment e de denúncias contra presidentes da República que tramitaram na Câmara, neste século. Carlos Henrique tem a memória das votações do impeachment de Dilma Rousseff e das duas denúncias contra Michel Temer. E, nos três casos, atuou do lado vitorioso.

Nos tempos de Dilma, era braço direito do todo-poderoso presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Depois, nos tempos de Michel, era chefe de gabinete da mesma Secretaria de Governo em que está agora. Chegou com Geddel Vieira Lima e ficou com os ministros Antônio Imbassahy e Carlos Marun. Dadas as investigações que correm no Supremo Tribunal Federal, a ordem é se preparar para o caso de Jair Bolsonaro ser submetido a algo parecido pelo STF. Temer venceu a primeira denúncia por 263 votos a 227, em 2 de agosto de 2017, e a segunda por 251 a 233, em outubro do mesmo ano. E sabem como é: com esse novo inquérito envolvendo o presidente, todo cuidado é pouco.

Paulo Guedes perde mais uma

Depois de ver a área de Trabalho e Previdência sair da sua pasta, o ministro da Economia está prestes a perder mais uma: é voz isolada dentro do governo a favor do Bolsa Família de, no máximo, R$ 300, enquanto a área política pretende elevar para R$ 400. O programa, como o leitor da coluna sabe, é visto como o passaporte para melhorar a popularidade de Bolsonaro.

Mas não entrega os pontos
A equipe de Guedes tem dito que, para ter um programa social robusto, será preciso demonstrar capacidade de controle do gasto publico. Não adianta aumentar os valores de auxílios e benefícios sociais se o mercado entender que a proposta é eleitoreira e não tem sustentação fiscal. O resultado será inflação, queda da bolsa e dólar nas alturas. No mínimo, será preciso garantir o parcelamento dos precatórios de R$ 89 bilhões que vencem em 2022, um valor que compromete o teto de gastos.

E o voto impresso, hein?
O relator da PEC do voto impresso na comissão especial, deputado Felipe Barros (PSL-PR), anunciou que vai procurar o ministro Ciro Nogueira em busca de apoio para tentar salvar a proposta. O titular da Casa Civil, porém, tem outras prioridades. Como garantir as bases que possam levar o presidente a recuperar popularidade.

Segura aí
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pisou no freio para a reforma tributária. Se colocasse para votar hoje, a perspectiva de derrota era grande.

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O quarteto/ Os quatro ministros que aparecem na foto à porta da residência oficial do Senado, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o da Câmara, Arthur Lira, mostram quem está com a responsabilidade política de comandar a relação entre Congresso e Parlamento: Ciro Nogueira, Flávia Arruda, João Roma (Cidadania) e… Paulo Guedes, o detentor da chave do cofre.

Looks em sintonia/ A calça com listras brancas e pretas de Flávia Arruda estava em sintonia com a gravata de Pacheco, enquanto Ciro, Roma, Guedes e Lira desfilaram de gravatas azuis.

Chuva de processos/ Advogados do ex-presidente Lula avaliam processar quem repassou vídeos com áudios adulterados com a entrevista do petista de 20 de julho. A velocidade da gravação foi alterada para sugerir embriaguez. O vídeo foi compartilhado, por exemplo, pelo cantor Roger Moreira, da banda de rock Ultraje a Rigor.

Agosto começa em alta-tensão/ Bolsonaro deu a largada dizendo que Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, não pode presidir o processo eleitoral depois da soltura de Lula pelo STF. O presidente do STF, Luiz Fux, falou que diálogo e harmonia entre os Poderes não implica impunidade. De quebra, o TSE instaurou inquérito para investigar os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral sem provas. O clima não está para bandeira branca.

Até aqui, não há sinal de paz entre os Poderes

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Os estrategistas políticos dos partidos aliados ao governo, que não são necessariamente os estrategistas policias do presidente da República, planejaram começar esta semana com um clima mais ameno entre os Poderes. Ms não e isso que se vê diante da retomada dos trabalhos do Congresso e do Judiciário. O recado do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, em defesa da democracia e do diálogo, e com um alerta, foi claro: “Harmonia e independência entre os Poderes não implicam em impunidade de atos”. Ou seja, se há algo errado nos demais Poderes, seja no Executivo, seja no Legislativo, cabe ao Judiciário julgar.

O discurso de Fux não fará com que o presidente Jair Bolsonaro recue nas suas posições. O presidente da República continuará na sua toada, de levantar suspeitas sobre a lisura do processo eleitoral, de forcar o voto impresso. Se não der para fazer valer a sua vontade __ e tudo indica que o voto impresso não será aprovado __, o presidente terá o discurso de que a classe politica não quis eleições limpas. Se insistir nisso, de levantar suspeitas sobre o processo eleitoral, a tendência, conforme os estrategistas de partidos aliados, é o centrão se afastar e lavar as mãos. E nem toda a habilidade de Ciro Nogueira será capaz de manter o seu grupo próprio a Bolsonaro.

A partir da derrota do voto impresso, esse tema tenderá cair no esquecimento e os verdadeiros temas de 2022 vã estar em cena, emprego, gestão da pandemia, vacinas, desenvolvimento econômico e social. Não por acaso, o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, começa a semana com uma reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, para tratar do novo valor do Bolsa Família. Ciro já está na próxima fase do jogo eleitoral, enquanto Bolsonaro terá que encontrar um jeito de sair desse discurso do voto impresso e entrar na pauta que interessa à maioria do eleitorado. cCmo bem lembrou Fux em seu discurso, “o povo não quer polarizações. Quer vacina, emprego e comida na mesa”.

“O general foi uma decepção. Ciro vai funcionar, mas a que preço eu não sei”, diz Fraga

Publicado em Governo Bolsonaro

Aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro, o ex-deputado Alberto Fraga acompanha à distância as mudanças no primeiro escalão do governo do ex-amigo, com quem não fala há mais de 90 dias. Acredita que o maior erro do presidente Jair Bolsonaro até o momento foi se cercar de pessoas que não conhecem a política. Acredita também que ainda há tempo para consertar, porém, é incerto. “O maior erro de Bolsonaro foi se cercar de pessoas que não conhecem a política. O general Ramos é uma grande decepção. Há coisas que não se conserta em oito meses”, diz ele, numa conversa com o blog neste sábado.

Fraga considera que os militares são leais, têm eficiência e disciplina, “mas não são políticos”. “Eles não se prepararam para isso. No meu primeiro mandato, eu era mais coronel do que politico. E na politica, não dá para agir como militar. Tem que agir como politico. Ramos (enquanto ministro da Casa Civil) chegava querendo continência, dizia para os deputados que, se não votar assim, assado, vou cortar a sua emenda. Não poderia dar certo”, diz.

O ex-deputado voltou a circular em jantares em Brasília, depois da reclusão a que se submeteu desde a morte da esposa, Mirta, vítima da Covid 19 aos 56 anos. As conversas de que participa giram em torno da perspectiva da terceira via para enfrentar Lula, em quem não vota de jeito nenhum, e Bolsonaro, com quem não conversa há mais de três meses. “Há espaço para a terceira via, quero a volta do PT. Trabalhei muito pelo impeachment (de Dilma Rousseff), para derrotar o PT. Entregar agora para o PT é de lascar. Vai ser osso”, comenta.

Alberto Fraga tem ouvido muita gente que votou em Bolsonaro dizer que não vota mais. Ele mesmo ainda não se decidiu. Bolsonaro está derretendo nas pesquisas e há uma margem entre 40% e 60% para um novo candidato.”Não me arrependi de ter votado em Bolsonaro. O que me deixa triste e ver os rumos que o governo está tomando e o que me preocupa é ver o governo voltar para as mão do PT”, diz ele. O ex-deputado considera que o presidente não conseguiu desaparelhar a máquina estatal e diz que seria preciso identificar militantes de esquerda na estrutura dos ministérios em cargos de confiança para substituir por pessoas, no mínimo, “neutras” e técnicas: “Não houve esse trabalho”, diz. Quando perguntado se as mudanças na saúde, onde os militares tomaram conta, não seriam exemplos dessa mudança, Fraga responde que “não quer dizer que militares tenham que estar em todos os postos e que não haja corrupção. Estão aí as denúncias sobre militares na Saúde. Esse caso, aliás, é uma decepção”.

Da mesma forma que agora há uma gestão mais profissional, com Marcelo Queiroga na Saúde, Fraga acredita que, na Casa Civil, a gestão de Ciro Nogueira trará mudança na seara política. “Vai funcionar, Ciro é habilidoso, não tenho dúvidas. Agora, a que preço, eu não sei”, diz ele, referindo-se à necessidade de atendimento aos parlamentares. “Bolsonaro insistiu muito tempo com um general que achava que dando dinheiro para as emendas, ganharia votações. Agora, o tempo é curto. Se tivesse mudado no início do ano, teria mais tempo. Agora, quem for candidato só poderá ficar até abril e tem coisas que não se consegue mudar mais, a rejeição está alta. Vamos ver. Não sou dono da verdade”.

E o voto impresso? “Não consigo entender por que a maioria é contra. Não sei se é a forma como Bolsonaro se expressa. É preciso que se crie um sistema de recontagem assegurada. Se digital ou impresso, eu não sei. Não é ser contra a urna, é ser a favor do direito de auditagem e recontagem”. Pelo visto, esse tema e a ojeriza ao PT ainda unem Fraga e Bolsonaro. E só.

Novo programa social será estruturado sem orçamento definido

Publicado em coluna Brasília-DF

Embora o valor do novo Bolsa Família esteja cotado na faixa dos R$ 300, a estruturação do pacote de medidas sociais seguirá para o Palácio do Planalto sem a definição dos montantes necessários para pagar a conta. Essa parte, a cargo do Ministério da Economia, ainda não foi definida e caberá ao ministro Paulo Guedes. Isso significa que, ou ele vai definir cortes, ou tentar acoplar à aprovação de novos impostos para fazer frente aos R$ 18 bilhões de acréscimo ao Bolsa Família.

Em tempo: os deputados já avisaram que, se vier com aumento de impostos, pode esquecer. Eles aprovam o novo valor, mas não vão aumentar a carga tributária. Em outras palavras, o governo que se entenda para fechar a conta.

Deu ruim…

A live em que o presidente Jair Bolsonaro prometeu apresentar provas de fraude da urna eletrônica foi lida como um fiasco até por integrantes da base aliada. Ao dizer “não tenho provas”, o chefe do Executivo não mudou opiniões de congressistas em favor do voto impresso. As apostas são de rejeição do texto.

… e pode piorar

O tom de Bolsonaro, aliás, conforme avaliação de aliados, indica que o número de votos contra o voto impresso deve crescer, depois de prometer e não apresentar as tais provas cabais de fraude na urna. Foi um constrangimento desnecessário em se tratando de um presidente da República.

Melhor dos mundos

Ao dizer que será candidato a governador, o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, deixa a porta de saída aberta para o caso de não conseguir se equilibrar entre o bolsonarismo-raiz e os militares dentro do governo. E ainda sai com a desculpa de defender o governo.

Jogada de risco

Nas conversas reservadas dos deputados, Ciro Nogueira vem sendo tratado como a “última cartada” de Bolsonaro. Se não der certo, vai degringolar de vez a relação do presidente com o Congresso.

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Na lida social/ Paula Mourão, esposa do vice-presidente Hamilton Mourão, foi madrinha do II leilão beneficente do projeto de cooperação social entre Gabão e Brasil, ao lado da embaixatriz do Gabão, Julie Pascale Moudoute-Bell. A ação já arrecadou 100 cadeiras para banho e, agora, busca conseguir 400 cadeiras de rodas para aquele país. Ela tem participado de vários eventos desse tipo.

Veja bem/ Paula, porém, é seletiva nesses convites. Só vai aonde sente que pode ajudar de fato. “Só para tirar fotos, melhor nem comparecer”, diz, interessada em ajudar a fazer a diferença para atender os mais necessitados.

Livro/ Enquanto espera o aval do Senado para ocupar uma vaga no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o advogado Mário Goulart Maia lança seu sétimo livro. Hermenêutica Judicial, uma análise sobre interpretações das leis com base numa visão humanista e no direito natural.

Live/ Hoje, 10h30, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, debatem Sistemas de Governo — Crises e desafios. A apresentação está a cargo do professor da USP e advogado Pierpaolo Bottini.

Ciro faz périplo pelos ministérios

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Conhecedor do signo da politica, o novo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, começa a trabalhar fazendo um périplo pelos Ministérios, a fim de ter um panorama de tudo o que está sendo discutido em cada pasta e, assim, montar uma estratégia para o futuro. Como o “lado de fora”, ou seja, o Congresso, ele já conhece e tem o mapeamento dos partidos, ele quer aproveitar esse dias cuidar da “parte interna”, o que está em curso no governo, uma vez que a Casa Civil é responsável pela coordenação de todos os ministérios.

Começou pelos “da Casa”, como são chamados os ministros que despacham no Palácio do Planalto. A primeira, aliás, foi Flávia Arruda, da Secretaria de Governo, de forma a dissipar as intrigas palacianas. Flávia teve problemas com o antecessor de Ciro, o general Luiz Eduardo Ramos, que tentou manter praticamente todos os assessores que havia colocado para a Segov. A relação entra a ministra e o general nunca foi das melhores. Agora, com Ciro Nogueira, a expectativa é a de uma convivência muito melhor, uma vez que Ciro já chegou defendendo essa parceria com a Segov. O diálogo, segundo parlamentares ligados a Ciro, fluiu muito bem.

A Segov é um cargo é visto como um cago “complicado”, porque, ali, os parlamentares vão carregados de pedidos que, invariavelmente, dependem de outras pastas para serem atendidos. E, sem a Casa Civil, que coordena os Ministérios, nessa tarefa de cobrança, fica difícil. Agora, Ciro já recebeu sinal verde de Bolsonaro para melhorar esse diálogo do governo com o Congresso. Portanto, para Flávia Arruda, Ciro surge como alguém capaz de facilitar o seu trabalho e ainda desafogar a agenda, uma vez que ele deve canalizar parte das conversas com os parlamentares.

Outro que Ciro também procurou para uma demorada conversa foi o ministro da Cidadania, João Roma, que, a cada dia, ganha mais destaque na seara politica do governo, uma vez que é responsável pelo novo Bolsa Família, o programa social em que o presidente Jair Bolsonaro aposta suas fichas a fim de recuperar popularidade e votos. Hoje, ele deve conversar com outros ministros, inclusive, Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura.

Ciro tem apenas oito meses para mostrar serviço e organizar a “Casa”. É o prazo para deixar o cargo, caso seja candidato a governador do Piauí, algo que não é uma obsessão. Afinal, ele já tem mais quatro anos de Senado garantidos, uma vez que seu mandato vai até 31 de janeiro de 2027.

Foto comemorativa do Dia do Agricultor gera conflitos entre Planalto e Congresso

Publicado em coluna Brasília-DF

A foto divulgada, ontem, pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República como parte das comemorações do Dia do Agricultor, promete trazer dores de cabeça ao presidente Jair Bolsonaro. Parte dos congressistas planeja, inclusive, recorrer à Procuradoria-Geral da República (PGR), acusando o governo de instigar conflitos agrários, ao usar uma imagem de uma arma com mira telescópica. O estrago está feito, ainda que o governo tenha retirado a imagem do ar.

A PGR, consultada por alguns, respondeu que “não antecipa posicionamentos ou manifestações”. Se acionada, terá que se posicionar a respeito e juristas que analisaram consideram que um processo é viável, até para evitar que as incitações aos conflitos prevaleçam.

Foi proposital
A bancada do agronegócio foi a primeira a pedir que o governo explicasse por que homenagear o Dia do Agricultor com a imagem de um caçador com um rifle com mira telescópica. Recebeu como resposta extraoficial uma mensagem de que “fazia parte de um contexto”.

Veja bem
Os deputados e senadores consideraram a imagem um “erro crasso” e pediram que o governo retirasse do ar, porque isso só reforçaria o lado negativo do campo, e não a produção. A avaliação do setor é a de que a agricultura precisa se aproximar da sociedade como um todo, e acabar com os conflitos. Por isso, a imagem foi retirada. Porém, o estrago já estava feito.

Outro nível
A imagem que a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) divulgou para marcar o 28 de julho mostra agricultores trabalhando com crianças, outros usando máscaras de proteção, mulheres sorrindo e a inscrição “produtores de alimentos”. Melhor assim.

Micou

Sabe aquela história de fusão de partidos discutida entre PSL, DEM e PP? Pois é, já era. O DEM não quer abrir mão da liberdade de administrar seu partido. Já o PSL, detentor de um fundo partidário de fazer inveja a muitos, também não dividirá os valores com os “sócios”. Logo, fica tudo como está.

O que vem por aí
Depois da baixa adesão à greve dos caminhoneiros pelo país, circulou pelo WhatsApp uma convocação do ex-deputado Sérgio Reis para mobilização em Brasília, num acampamento de três dias, às vésperas do Sete de Setembro: “Queremos dar um jeito de mobilizar este país e salvar o nosso povo. Estaremos lá, num movimento, artistas e grandes empresários do Brasil que não aceitam mais a situação do nosso país. O convite está feito”.

A linguagem de Ramos/ O presidente Jair Bolsonaro não estava brincando quando disse que o então ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, desconhecia o linguajar dos políticos. Circula pelo Congresso a história de que o ministro, sempre muito brincalhão e bem-humorado, atendeu assim a ligação de um integrante da cúpula do Parlamento: “Para emendas, disque um; para cargos, disque dois; para outros pedidos, disque três. Fala, meu amigo!” A excelência, em vez de levar na brincadeira, ficou possessa.

De judeu para judeu/ Ex-ministro da Justiça, Milton Seligman foi ao Twitter mandar a seguinte mensagem ao ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten. “Presta atenção @fabiowoficial e explica para sua gente que neta de nazista que milita em partido neonazista é tão nazista quanto os que o recebem com pompa e circunstância”.

Não está sozinho/ Seligman não fala apenas por si. A avenida Faria Lima, que hoje concentra grandes fortunas, pensa da mesma forma.

Easy rider/ O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem mais em comum com Jair Bolsonaro do que o “somos Centrão”. Ciro é dono de uma concessionária da Honda no Piauí.

Centrão ameaça discutir semipresidencialismo se Ciro Nogueira não for bem tratado na Casa Civil

Publicado em coluna Brasília-DF

O ânimo do Centrão em se debruçar sobre o semipresidencialismo vai depender da forma como o novo ministro Ciro Nogueira será recebido pelo primeiro escalão do presidente Jair Bolsonaro, incluídos aí os filhos com assento na política — 01, 02 e 03. Se o bolsonarismo-raiz sabotar o trabalho do senador na Casa Civil, as discussões em torno do semipresidencialismo prometem ganhar mais velocidade.

Primeira missão

Caberá a Ciro definir com Bolsonaro o valor do Fundo Eleitoral de 2022. A aposta dos aliados do senador é a de que o governo caminhe para estipular um recurso agora, de forma a sinalizar o que cabe no Orçamento para custear as campanhas. Mas o que valerá mesmo é o que estiver escrito na Lei Orçamentária do ano que vem.

O “couro” de Ciro

O desconforto dos militares, que acabam de perder agora a Casa Civil depois de perder, há alguns meses, a Secretaria de Governo, é algo que, pelo menos no momento, não preocupa o Centrão. A avaliação é a de que Ciro “tem couro grosso”, não “cozinha na primeira fervura” e nem “cai com o barulho da bala”. Sendo assim, podem tentar fritá-lo à vontade. Se o presidente empoderar seu novo ministro, está tudo certo.

Último suspiro

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso está por um fio na Comissão Especial e caminha para ser rejeitada. Se a manifestação do próximo domingo não obtiver um público para lá de específico, esquece. A tendência na Câmara dos Deputados é derrubar a proposta.

Mexeu com fogo

A razão agora para derrotar o projeto está na ameaça que teria sido feita ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por emissários do ministro da Defesa, Walter Braga Netto — de que, sem voto impresso, não haveria eleição. Mesmo que ele tenha negado tudo, será um argumento para a Câmara mostrar que, diante das dúvidas se houve ou não, é preciso deixar claro que a Casa não se rende a ameaças.

Por falar em Braga Netto…

Ciro vai até tentar ver se consegue evitar a convocação do ministro para explicar as tais ameaças. Quer que isso seja um gesto de confiança no governo, em especial na nova gestão da Casa Civil.

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Sem freios/ Grandes usuários de carros alugados, os motoristas de aplicativos estão sentindo no bolso os efeitos da fusão da Localiza, do ex-secretário especial de Privatizações Salim Mattar, e da Unidas, celebrada em setembro passado. Os preços de locação de carros dispararam. Na média, subiram 23% de fevereiro a julho deste ano nas principais capitais do país.

… e embalados/ Em alguns aeroportos, como Congonhas (SP), o aumento foi de 51%. No estado de São Paulo, um quarto dos motoristas de aplicativos usam carros alugados, segundo a associação que reúne a categoria (Amasp).

Sob análise/ A fusão entre Localiza e Unidas deve ser avaliada em breve pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo o consultor e economista Juan Perez Ferrés, responsável pelo levantamento, a principal causa para o aumento é a redução de frota feita pelas duas empresas. Juntas, elas têm mais de 70% do mercado, uma concentração que impacta diretamente a competitividade no setor.

Joice Hasselmann/ A deputada é a entrevistada do CB.Poder de hoje, 13h20, na TV Brasília e redes sociais do Correio Braziliense.