Autor: Denise Rothenburg
A história da distribuição de Bíblias com a foto do ministro foi a pá de cal que faltava para selar a saída de Milton Ribeiro do cargo de ministro da Educação. A notícia publicada no Estadão tirou o pouco de apoio que Ribeiro ainda tinha no meio politico. Nem mesmo a bancada evangélica suportou o que classificou de mistura do “sagrado com o profano”. Na Bíblia, a foto deve ser de Jesus Cristo, conforme repetiram muitos deputados evangélicos hoje pela manhã, engrossando o coro pelo afastamento do ministro.
A saída de Milton Ribeiro começou a ser desenhada de fato pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ainda no fim de semana, durante festa de aniversário de 15 anos da filha do ex-deputado Alexandre Baldy (PP-GO), candidato a senador por Goiás. Ali, o comando do PP avaliou que o desgaste só cresceu na última semana e que eles deveriam trabalhar para convencer o presidente Jair Bolsonaro a afastar o ministro dia 31, quando os ministros candidatos às eleições deste ano deixam seus cargos. Aliás, como leitor da coluna Brasília-DF já sabe, era isso que estava previsto desde o início da semana passada: Se Ribeiro conseguisse se explicar e estancar a crise na semana passada, ele não precisaria sair. Caso contrário, sairia em 31 de março, junto com os outros, o que diluiria a repercussão. A notícia da distribuição de Bíblias com a foto do ministro em evento do governo, entretanto, antecipou a “operação”.
Os governistas avaliam que está num ponto em que não dá mais nem para esperar a fala do ministro no Senado, onde Ribeiro deve comparecer esta semana para explicar as denúncias de favorecimento às indicações de pastores para liberação de recursos. E, agora, terá ainda que explicar a questão da distribuição de Bíblias com a sua foto. Essa mistura de sagrado e profano foi criticada até mesmo pela bancada evangélica. Ribeiro perdeu agora todas as condições de permanecer. Ainda que seja uma licença, não estará mais no governo, sangrando a popularidade da administração federal. Falta Bolsonaro pegar a sua Bic e assinar a demissão e/ou afastamento. Os dois textos já estão prontos.
As filiações ao União Brasil nos últimos dias foram feitas mediante o compromisso de liberdade para que os novos partidários possam escolher quem quiser para presidente da República. A legenda terá em seus palanques pelo Brasil afora apoiadores de presidenciáveis dos mais variados credos, de Bolsonaro a Lula, passando ainda por João Doria e quem mais chegar.
No DF, por exemplo, a intenção do senador Reguffe, mais novo filiado e pré-candidato ao GDF, é manter distância regulamentar da campanha presidencial, já que seu eleitorado está distribuído por várias matizes ideológicas. No Ceará, os deputados do União também planejam cuidar da própria vida. Na Bahia, conforme o leitor da coluna já sabe, já se desenha o “Luneto” — Lula e ACM Neto, que concorrerá ao governo estadual.
Duplo objetivo
A filiação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, ao Republicanos, tira mais uma legenda da órbita do governador de São Paulo, João Doria, e da base de apoio do vice-governador Rodrigo Garcia na corrida ao Palácio dos Bandeirantes. Tarcísio ainda buscará outros apoios no entorno dos tucanos. Ele quer ampliar seu tempo de exposição na tevê aberta para tentar chegar ao segundo turno. Se conseguir, será a primeira vez que um governador de São Paulo, candidato à reeleição, ficará fora da rodada final.
Dupla vitória
A Frente Parlamentar de Energia Renovável comemorou a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de cassar a liminar que dava às térmicas a óleo o direito de participar do leilão de dezembro. “Foi uma vitória e tanto. Servirá também de argumento para questionar os jabutis incluídos na privatização da Eletrobras com relação à compra de energia das térmicas a gás”, diz o presidente da Frente, deputado Danilo Forte (PSDB-CE).
Lula com Khalil
Até aqui, todos iguais/ A pesquisa desta semana foi vista pelos presidentes dos partidos como um sinal de que a tal terceira via ainda não tem um candidato que obrigue os demais a sair do páreo. E a contar pela posição, não dá para desprezar Sergio Moro (foto) como opção viável para representar este segmento.
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Por falar em Doria…/ Os 2% que ele apresenta na pesquisa do Datafolha desta semana reforçam a tese do grupo que tenta apeá-lo da disputa presidencial. Afinal, como governador de São Paulo e comandante de um governo bem avaliado, deveria estar melhor.
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Esperteza não/ O presidente do MDB, Baleia Rossi, e Simone Tebet, pré-candidata à Presidência da República, jantaram com Doria e deixaram claro que não é hora de falar em vice ou algo que o valha. Definição mesmo só lá para final de maio, início de junho. Quem for afoito para tratar qualquer coisa nesse sentido desde já, vai terminar isolado.
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Bolsonaro não pretende afastar Milton; se for para sair, será em meio a reforma ministerial
Bloco do eu sozinho
Deixa quieto
Enquanto isso, no PSDB…
Limão e limonada
CURTIDAS
Jogada de risco
Pressão por reajustes, o maior desafio
Mais um tijolinho
A dupla missão do general
Conservadores divididos em Goiás
Bolsonaro distribui a ministros cartilha sobre condutas vedadas a agentes públicos nas eleições
Cumpram a lei
Desconfiado em relação à Justiça Eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro distribuiu, via Advocacia Geral da União (AGU), uma cartilha aos presentes à reunião ministerial. Ali, constam todas as condutas vedadas aos agentes públicos em período eleitoral. Na avaliação do Planalto, todo cuidado é pouco no sentido de evitar uso da máquina, inclusive e-mails, e atos de campanha no horário de expediente. Embora o presidente possa disputar eleição no cargo, o governo considera que é preciso ter muita atenção para não dar margem a ações judiciais que possam colocar a campanha ou pré-campanha em xeque nos tribunais eleitorais.
A cartilha foi distribuída aos ministros que ficam e também àqueles que deixam o governo em 31 de março, conforme fechado na reunião. Hoje, haverá um encontro no Planalto de um representante da AGU com todas as assessorias de comunicação dos ministérios para que sejam informados sobre as condutas vedadas no período eleitoral.
Não convenceu
Dentro do governo, as áreas técnicas são contrárias ao afastamento do general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras. Alegam que uma mudança com viés puramente político provocará insegurança no mercado. Porém, Bolsonaro e a área política consideram que, do jeito que está, não dá para ficar.
Tal e qual
Há quem diga que, quando da entrada de Silva e Luna, o país viveu um período de estabilidade nos preços dos combustíveis. É essa estabilidade que o governo quer resgatar.
Entra, mas não atrapalha
O partido do ministro da Defesa, general Walter Braga Neto, ainda é uma incógnita, uma vez que tanto o Republicanos quanto o Partido Progressista não estão ansiosos por recebê-lo. Esta semana, porém, andou uma casa: A Vice-Presidência não será considerada “cota” de nenhum partido na hora de definir o ministério do segundo mandato, caso Bolsonaro seja reeleito.
Ele vai
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, vai mesmo para o PSD. Afinal, João Doria venceu a prévia e tem muita gente no ninho tucano dizendo que não dá para fazer uma eleição interna para, depois, não dar ao vencedor — no caso o governador de São Paulo — o direito de colocar sua campanha na rua. Afinal, a eleição é só em outubro.
A aposta de Márcio França/ Ao aparecer como segundo colocado na pesquisa de intenção de voto para o governo de São Paulo, Márcio França não pretende abrir mão dessa disputa. Considera mais fácil, num estado conservador, chegar ao segundo turno nessa disputa do que vencer Luiz Datena na corrida para o Senado.
Enquanto isso, no PT…/ Embora Fernando Haddad (foto) lidere a corrida para o governo paulista, os petistas estão preocupados, com receio de que uma união dos candidatos conservadores no segundo turno contra o ex-prefeito.
…e no PSDB…/ Além do próprio Doria, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, tem tudo certo para concorrer à reeleição, quando Doria deixar o cargo daqui a 10 dias para ser candidato a presidente. É mais um a jogar contra a qualquer mudança no resultado das prévias.
Enfermagem/ Funcionou a mobilização dos enfermeiros no aeroporto e no Congresso para a apreciação do projeto que define o piso salarial da categoria. Na semana que vem, vota-se a urgência para análise da proposta. É uma sinalização que, agora, todas as demais categorias querem adotar.
É bom a senadora Simone Tebet, pré-candidata a presidente da República, começar a fazer as contas para ver que parcerias conseguirá manter ao seu lado país afora numa campanha presidencial. No Distrito Federal, por exemplo, seu partido, o MDB acaba de se apresentar publicamente ao lado do PL de Jair Bolsonaro, com direito a bênçãos do ex-presidente Michel Temer.
Quanto à terceira via, Temer disse que ainda há sete meses até a eleição e não vê empecilhos por causa da aliança no DF. Internamente, no MDB, porém, já tem muita gente dizendo que, para sobreviver, o partido terá que dividir alguns de seus candidatos a governador com Bolsonaro e outros presidenciáveis.
CURTIDAS
A compensação do Republicanos/ O ingresso do vice-presidente Hamilton Mourão ao Republicanos hoje amenizou um pouco a ciumeira na base, mas não resolveu. É que Mourão concorrerá ao Senado pelo Rio Grande do Sul, e isso não se traduz automaticamente em votos para os deputados federais da sigla, eleição que conta para fundo partidário e tempo de tevê.
Trabalho dobrado/ O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), está “obrigando” vários deputados a fazerem duas campanhas: uma para a reeleição e outra para de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), na vaga decorrente da aposentadoria da ministra Ana Arraes, em julho.
Elas por ela/ A bancada feminina já fechou todos os votos das deputadas no exercício do mandato (são 76 hoje) para a deputada Soraya Santos (PL-RJ), na foto, a única mulher que concorrerá à vaga do TCU. A ministra Ana Arraes é hoje única mulher no colegiado e a campanha das parlamentares será no sentido de que, nada mais justo, ela seja substituída por outra pessoa do sexo feminino.
Quem manda/ Antes mesmo de chegar ao PL, a deputada Bia Kicis (DF) já foi avisada sobre as regras internas da legenda. No Distrito Federal, quem fala sobre candidaturas ao governo e ao Senado pelo partido é a presidente da sigla no DF e ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda. Aliás, nesse tema, não são raras as vezes em que Flávia é bem direta a quem resolve falar sobre as candidaturas majoritárias: “Aqui, quem decide sou eu. Eu concedo a legenda e também posso tirar”.
Quando a Presidência da República, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados se unem em torno de uma causa, é difícil perder a briga. A máxima, sempre dita em conversas políticas, vale, agora, para a crise do preço dos combustíveis e deixa claro, na avaliação de muitos, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não terá grande poder de manobra para evitar o subsídio governamental voltado a segurar os preços dos combustíveis.
A análise dos políticos ligados ao presidente Jair Bolsonaro é de que, se a guerra perdurar, terá de haver o subsídio para que os preços não subam ainda mais, comprometendo de vez o controle da inflação, o que atinge todos os brasileiros. E quanto mais próximo da eleição, mais a área econômica será pressionada nesse sentido e terá de arrumar dinheiro para atender a essa demanda. O preço dos combustíveis é, hoje, a maior preocupação do Planalto.
O governo federal já fez as contas e aguarda a redução do preço dos combustíveis na bomba em, pelo menos, R$ 0,60, por causa da nova lei do ICMS aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente da República. Esse era o efeito a curto prazo esperado pela área política do governo.
Mesmo com toda a confusão e reclamações do presidente Jair Bolsonaro a respeito do preço dos combustíveis, os mais próximos do chefe do Executivo consideram que trocar o presidente da Petrobras, o general Silva e Luna, não resolverá o problema. A alta do dólar que, certamente, viria nesse momento, por causa da troca na empresa, seria mais um fator para elevar o valor dos combustíveis na bomba.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chega hoje ao Brasil com mais uma boa notícia para o setor: a abertura do mercado canadense para a carne brasileira, bovina e suína. Ela deixa o cargo no final deste mês com um rol de novos mercados para os produtores brasileiros.
CURTIDAS
A desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de concorrer ao Planalto, praticamente selou a filiação de Eduardo Leite ao partido de Gilberto Kassab. Salvo alguma hecatombe daqui até o final do mês, o governador do Rio Grande do Sul aproveitará a oportunidade para apresentar seu nome para a candidatura presidencial. “De zero a 10 para o Eduardo Leite se filiar ao PSD, eu aposto hoje em 9,5”, diz o deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP).
Afinal, uma candidatura à Presidência pode fazer de Leite um player nacional, uma novidade no cenário e, de quebra, dentro de um partido que, sem muito alarde, constrói uma estrutura de fazer inveja a muitos. Como no Rio de Janeiro, onde além do prefeito da capital, Eduardo Paes, há pelo menos dois deputados federais previstos, Pedro Paulo e Marcelo Calero, ambos ligados a Paes.
Leite não deixará de aproveitar esse “cavalo encilhado” que passa à sua frente. E se surgir uma hecatombe, Kassab ainda tem o ex-senador e ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung para se apresentar à disputa nacional, como o leitor diário da coluna sabe há tempos. O gaúcho é, agora, o plano A e a chance de quebrar a polarização. Chega num bom momento, em que a campanha está “no aquecimento” e anima o cenário.
Como o leitor da coluna sabe, Kassab jamais cogitou apoiar Lula no primeiro turno. O presidente do PSD tem plena consciência de que, se o fizesse, o partido racharia, uma vez que não são poucos aqueles que resistem a apoiar o PT. E ao lançar um candidato ao Planalto, conseguirá manter o partido unido no primeiro turno. Se ficar fora do segundo turno, sempre haverá espaço para negociar apoios e a Presidência do Senado para Rodrigo Pacheco.
O que assombra o Planalto…
O que mais tira o sono do governo, neste momento, é a ameaça de greve dos caminhoneiros, especialmente por ser um ano eleitoral. Daí a corrida para aprovação dos projetos no Congresso e as reuniões para tentar suavizar alguns fatores que influem no preço dos combustíveis.
…e os aliados do governo
A postagem do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre o preço dos combustíveis, foi recebida com preocupação pelos aliados do presidente Jair Bolsonaro e vista como algo do tipo “apoio tem limite”. O deputado se referiu ao aumento do preço dos combustíveis como “um tapa na cara do país que luta para voltar a crescer”.
Santo Antônio sai da toca…
Depois da denúncia de Arlindo Chinaglia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que a entidade avalie o balanço da Santo Antônio Energia, confrontando-o com a arbitragem da dívida relacionada ao consórcio construtor da empresa e com o relatório da Deloitte, a empresa divulgou a seguinte nota: “A Santo Antônio Energia esclarece que as Demonstrações Financeiras relativas ao exercício de 2021 seguiram o habitual trâmite previsto em lei e não procede a informação de que recebeu da auditoria independente solicitação de retificação. Em relação ao Procedimento Arbitral, está em andamento o período legal de esclarecimentos. Somente após a conclusão deste período e os esclarecimentos finalizados a sentença se tornará definitiva”.
...e está pronta para a briga
Porém, a empresa esclarece que não teria como fazer essa inclusão, porque ainda não se sabe o valor exato de provisão que deveria ser incluído no balanço de 2021, uma vez que a arbitragem, segundo a empresa, está justamente na fase que pode ser equiparada nos processos judiciais aos embargos de declaração. À CVM caberá dizer quem tem razão, uma vez que as fontes da coluna mantêm a informação publicada de que o balanço deveria ter sido ajustado. Essa novela ainda terá muitos capítulos.
O ringue do Twitter I/ As mensagens trocadas entre os pré-candidatos a presidente nas redes sociais dão o tom do que vem por aí e indicam que ninguém ficará falando sozinho sem levar uma cotovelada. Lula, por exemplo, foi às redes para dizer que a gasolina, o gás e o diesel estão caros porque o governo privatizou a BR Distribuidora. Não demorou muito, Sergio Moro entrou no ar, respondendo. Moro chamará Lula para o debate sempre que for possível.
O ringue do Twitter II/ Moro entrou direto: “Sabe por que a Petrobras ainda existe, Lula? Porque a Lava Jato impediu que o PT continuasse saqueando e desviando recursos da maior estatal do Brasil. Se não fosse o nosso trabalho, talvez a Petrobras nem existisse mais. Felizmente, mudamos o rumo dessa história”.
O leque de Leão está aberto/ O PT da Bahia está com um problemão para resolver, desde que Jaques Wagner (PT) e o senador Otto Alencar (PSD) desistiram de concorrer ao governo do estado. Uma parte dos petistas resiste em apoiar uma candidatura do vice-governador João Leão (PP). Leão, uma fera nas articulações políticas, está solto. Perguntado sobre como estão as conversas com ACM Neto, do União Brasil, respondeu assim: “Converso com todos os grupos políticos da Bahia. Do papa aos evangélicos”, disse.
Adeus, máscaras…










