Entre os homens, o acúmulo de gordura é geralmente maior na região da barriga. Ainda que localizado, o problema pode comprometer o funcionamento de todo o corpo. Há um aumento do risco de ocorrência de doenças cardiovasculares, como a hipertensão e o derrame. E o tempo de vida também pode ser afetado. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostra que o risco de morte em idosos é duas vezes maior a cada seis centímetros quadrados a mais na adiposidade abdominal.
Para chegar à conclusão, os pesquisadores acompanharam 839 homens e mulheres com em média 65 anos ao longo de quatro anos. Os participantes tiveram a composição corporal avaliada de forma detalhada. A equipe considerou a massa muscular dos braços e das pernas, a gordura subcutânea e a visceral dos voluntários.
Coordenadora do estudo, Rosa Maria Rodrigues Pereira explica que gordura acumulada na barriga se enquadra no segundo tipo. A principal característica é que esse tecido adiposo não está embaixo da pele — como o subcutâneo. Inflamado, ele vai se formando ao redor de órgãos vitais, como fígado e intestino. Por isso, é mais difícil de ser eliminado e pode ser letal.
“Diferentemente da mulher, que engorda o corpo inteiro, o homem tem essa concentração de gordura no abdômen. Como mostrou nosso estudo, esse é um parâmetro importante quando se fala em mortalidade”, frisa a professora da USP. Há sinais de alerta para a circunferência abdominal. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em homens, uma medida igual ou superior a 94 centímetros indica risco de ocorrência de doenças cardiovasculares. No caso das mulheres, são 80 centímetros.
Pouco músculo
Analisando os idosos, os pesquisadores descobriram que a perda da massa muscular também pode reduzir o tempo de vida. Essa complicação, porém, é pior para as mulheres. Ao longo do estudo, o risco de mortalidade geral foi quase 63 vezes maior entre as participantes com pouco músculo nos braços e nas pernas. Nos homens, foi 11,4 vezes maior. “O idoso obeso e com pouco músculo é o que mais morre. Esses são os casos que preocupam, quando há a chamada obesidade com sarcopenia”, explica Rosa Maria.
A perda muscular faz parte do processo de envelhecimento. A estimativa é de que, depois dos 50 anos, as pessoas percam entre 1% e 2% da massa muscular anualmente. Mas é preciso ficar alerta ao agravamento dessa condição. A professora da USP lembra que o enfraquecimento das pernas e dos braços tem impacto direto na qualidade de vida de idosos. “São esses músculos que são usados para atravessar uma rua, evitar uma queda e se levantar de uma cadeira”, ilustra.
Rosa Maria também destaca a importância da prática de atividades físicas para amenizar o efeito da perda muscular. “Independentemente do sexo, a principal dica é fazer exercícios porque eles têm benefício duplo. Podem aumentar a musculatura e ajudar na perda de peso”, explica. O estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e foi divulgado no Journal of Bone and Mineral Research.