Viver cinco anos em uma cidade com o ar poluído pode fazer com que os seus pulmões envelheçam 10 anos no mesmo período. É o que mostram cientistas do Reino Unido em uma pesquisa divulgada hoje, no European Respiratory Journal. A equipe chegou à conclusão ao analisar mais de 300 mil voluntários ao longo de quatro anos.
O estudo mostra que, além de acelerar o envelhecimento dos pulmões, o contato regular com poluentes diminui a função pulmonar e aumenta o risco de surgimento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). As duas complicações têm alta incidência na velhice e podem comprometer consideravelmente a qualidade de vida de idosos.
Os cientistas consideraram poluentes mais comuns: os produzidos por carros e outros veículos, além emissões de indústrias. As partículas finas de poluição, chamadas PM2,5, foram estudadas. Elas são consideradas prejudiciais à saúde devido ao pequeno tamanho. Como têm apenas 2,5 milionésimos de metro, entram pelo nariz e chegam facilmente a órgãos vitais, como o cérebro e os pulmões.
No caso dos pulmões, um dos efeitos é o envelhecimento precoce. Segundo a pequisa britânica, a cada aumento médio anual de cinco microgramas por metro cúbico de PM2,5 no ar de uma cidade, a redução associada na função pulmonar é semelhante a dois anos de envelhecimento.
Com níveis de poluição cada vez mais altos, não é incomum viver nessas condições. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que o nível seguro anual de PM2,5 é de 10 microgramas por metro cúbico. Em 2016, a taxa de São Paulo foi de 17,3. No mesmo ano, Brasil e Argentina quase chegaram a 15.
Fumantes
Ao avaliar a ocorrência da DPOC e o contato com áreas com PM2,5 acima do recomendado, a equipe chegou a outros dados preocupantes. A prevalência da doença foi quatro vezes maior em quem vive nesses ambientes se comparados a fumantes passivos. No caso de ex-fumantes, foi a metade.
Anna Hansell, professora da Universidade de Leicester, conta que os efeitos foram piores nos indivíduos de baixa renda. “A poluição do ar teve aproximadamente o dobro do impacto sobre o declínio da função pulmonar e três vezes sobre aumento do risco de DPOC, considerando participantes de renda mais alta”, diz a pesquisadora.
A hipótese dos cientistas é de que a diferença pode ser explicada por outras vulnerabilidades ligadas ao baixo poder econômico. “Achamos que essa disparidade pode estar relacionada a condições de moradia, dietas mais precárias, pior acesso à saúde ou efeitos de longo prazo da pobreza que afetam o crescimento pulmonar na infância”, lista Anna Hansell.